Por: Júlio César Anjos
Tinha
acabado de finalizar o ciclo anual de trabalho no meu blog, quando recebi
mensagem de amigos dizendo que o MBL iria “destruir o PSDB”. Deste modo, tive
que fazer o esforço em assisti-los. Fiquei a sexta-feira toda, no dia 03/11/21, vendo os vídeos
publicados neste dia, para ver como viria a grande destruição prometida pelo
movimento. E para a minha surpresa, um dia após a promessa, nada aconteceu. E por
que eu estou dizendo isto? Porque pelo menos o Renan Santos foi útil ao fazer a
análise de que o Bolsonaro irá divulgar mais mensagens sobre a vaza-jato contra
o Sergio Moro. Se isto acontecer, acabou a campanha do lava-jatista para 2022.
Com
vasta experiência política, sei que antes do vazamento em si, o político que
tem informação do seu algoz faz pressão psicológica em seu adversário. Vai
minando o seu antagônico no estilo: “eu seu o que você fez no verão passado”.
Isso faz com que a pessoa que esteja sendo fulminada fique com medo e sem meios
de se defender quando realmente a informação for divulgada.
Darei
um exemplo lúdico. Imagine que eu tenha um vídeo em que mostra o Renan Santos
roubando uma padaria [O Renan Santos não roubou nada, é só uma alegoria]. Ao
invés de fustiga-lo já divulgando o vídeo para a imprensa, o meu grupo político
começa a dar indiretas com ironias, piadas e pequenas revelações sobre o Renan
Santos ser ladrão de padaria. Até cantaria como deboche:
Renan
Santos roubou pão na casa do João.
Quem
eu?
Tu
sim
Eu
não
Então
quem foi?
Após
fazer todo esse ataque psicológico, fazendo o adversário ficar desgastado
diante várias indiretas, aí sim neste momento se divulga para a imprensa o que
se tem sobre o Renan Santos. Como o Renan Santos já se encontra desgastado em
ter que refutar ilações, o vídeo divulgado é a pá de cal. Vence pelo cansaço.
É
a estratégia dos romanos da construção da catapulta. Antes do lançamento da
primeira pedra, o forte, acuado, já estaria debilitado em apenas resistir ao
possível ataque, capitulado antes mesmo de iniciar a batalha.
Voltando
para a questão da vaza-jato, o Intercept só revelou as informações que diziam
respeito a questão jurídica em si, não entrando na seara sobre conversas INTIMAS. Já a lava-jato, por exemplo,
vazou até mesmo conversas íntimas entre o jornalista Reinaldo Azevedo e a sua
fonte oficial Andrea Neves, irmã do Aécio Neves. Agora, colegas, o que será
vazado na vaza-jato serão as conversas que são escandalosas pelo ponto de vista
político. E isso é um problemão para a turma da lava-jato e Sergio Moro resolverem.
Um
exemplo de fustigação é o próprio Aécio Neves. Era mais fácil, pelo prisma
político - para salvar a sua campanha eleitoral -, defende-lo do ataque sobre
corrupção do que o vazamento em que ele dizia, em forma de brincadeira [pela
intimidade que tinha com o Joesley Batista], que tinha que matar o emissário
que fosse pegar o dinheiro da corrupção. Isso foi um escândalo que sepultou não
só a candidatura à presidente, mas maculou a trajetória de Aécio Neves na
política [até hoje há sequelas deste ataque].
Não
bastasse a pressão psicológica, a questão da divulgação dos escândalos a
conta-gotas é avassalador. É o velho ditado: “água mole em pedra dura, tanto
bate até que fura”. E fura mesmo. Se for analisar que a vaza jato possui 7
terabytes de dados, aí que a coisa complica porque tem com certeza muita
mensagem comprometedora envolvendo os membros da república de Curitiba.
É
certo que o vazamento não vem pelo PT. Porque no caso do PT, a lava-jato tem
como se defender ao vazar o Banestado [tem mais petista que tucano lá, mas o
acerto no passado foi para gerar estabilidade, então a narrativa negativa caiu
no colo dos tucanos]. Como tiro trocado não dói, se o PT vazar a vaza-jato, a lava-jato
vaza Banestado também. [eu estou louco para vazar o Banestado para todo mundo
saber que o PSDB não é principal player nesta questão]
Então,
quem irá fulminar o Sergio Moro com vazamentos será o Bolsonaro. Provavelmente
na Jovem Pan. E a Jovem Pan tem um alcance invejável hoje na internet. Por isso
mesmo que a Jovem Pan é capaz de assassinar reputações. Como o Tutinha
conseguiu o lobby no governo Bolsonaro para a emissora virar TV, há uma
lealdade da casa ao atual presidente da república. E não será Sergio Moro quem
irá quebrar isto.
Na
verdade, o que o Bolsonaro quer mesmo é que o Sergio Moro, junto com MBL e O
Antagonista, sejam linhas-auxiliares para bater no Lula, e com isso ajuda-lo a
se reeleger. Uma espécie de CUT azul para o projeto do bolsonarismo ao poder. É
por isso que o Bolsonaro não quer o Moro senador; quer-lhe candidato a
presidente fulminando somente o PT, mantendo essa margem de 10 % em votos, que
seriam baldeados para o Bolsonaro no segundo turno de 2022. É por isso que essa
turminha da direita terá que escolher.
Política
é fazer escolhas. E fazer escolhas é renunciar. Quem apoiar o Moro estará
jogando no lixo a possibilidade de uma construção solida de terceira via, que
teria força para além da eleição de 2022 [podendo, com certeza, fazer
presidente em 2026]. Agora, é preciso ver se essas forças querem o curto ou o
longo prazo. Só o tempo irá dizer.
E
quanto ao MBL destruir o PSDB, isso nunca irá acontecer. E a questão é simples:
um grupo de pressão nunca conseguirá destruir um partido, mas um partido
político pode destruir um grupo de pressão. É questão de vetor de poder [já
explicado neste blog]. Além disso, esses ataques unilaterais não ajudam a construir pontes.
E
por fim, será que eu estou fazendo apenas uma análise sobre a questão da
vaza-jato contra o Sergio Moro, ou eu estou ensinando o caminho das pedras?
Isso vocês nunca saberão. A única coisa que se sabe é que Sergio Moro é carta
fora do baralho numa construção sólida de terceira via. E também é muito
complicado manter sua candidatura, caso volte a crescer nas pesquisas
eleitorais.
Observação:
Um presidente na cadeira presidencial pode muita coisa.
Sergio Moro e a Vaza-Jato: Pressão Psicológica e Conta-Gotas de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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