Por: Júlio César Anjos
Contrainfomação.
As manifestações de rua no Brasil como forma de república cívica – ao se fazer democracia direta e plebiscitária ao protestar -, começou em 2013 quando a massa amorfa, cujo é o povo em geral, foi gritar na rua “contra tudo o que está aí”, mostrando que a insatisfação era total contra os políticos e todo o seu Sistema em vigor. De lá pra cá, houve uma fragmentação desta massa amorfa, no qual grupos políticos sectários reivindicaram pra si a sua fração desta parte, o que revigorou os movimentos políticos da esquerda e da direita. A rua já fez plebiscito sobre a destituição da Dilma -, sobre a prisão do Lula -, e agora, com movimentos pró e contra o presidente em exercício – Bolsonaro – em uma queda de braço sobre a destituição. Se o presidente vai cair ou não é o de menos, pois, o fato é que o Brasileiro que vai à rua protestar é uma commodity; é o produto.
Skinner fez um estudo com ratos e descobriu o que chamou de reforço positivo e reforço negativo. Toda vez que o rato apertava o botão errado, recebia uma punição [choque]; e toda vez que apetava o botão certo, ganhava uma premiação [alimento]. O rato aprendeu que um botão não se podia apertar e o outro sim. O rato aprendeu a lição.
Em comparação com a manifestação de rua acontece o mesmo. De 2013 até 2021, ciclo de quase uma década de manifestações no país, o Brasil está melhorando ou piorando? É fato, infelizmente, que o Brasil está piorando. E compreendendo o estudo de Skinner sobre reforço positivo-negativo, é possível verificar que os protestos de rua, como a única solução de panaceia para salvar o Brasil, não estão surtindo o efeito desejado.
Faz mais de 8 anos que o povo está berrando na rua e o quilo do feijão, o litro da gasolina e fardo do arroz só aumenta. A lógica da rua é simplista e bobalhona porque trabalha com a lógica de que: “quem não chora, não mama”. O problema é que o povo está chorando e não está mamando do mesmo jeito. E o povo vai acabar ficando sem mamadeira porque a massa [seja ela sectária ou não] vai pra rua lutar por pessoas e ideias erradas.
Mas aí, alguém pergunta: a rua resolve? E a reposta é: depende. Porque não adianta ir pra rua gastar a disponibilidade de tempo e energia, se essa força não for canalizada para um grupo com pessoas que possuam o mínimo de qualidade política. Não adianta ir à manifestação e na urna votar em Boca Aberta, Fahur, Bolsonaro, Gleisi Hoffmann, turminha do MBL e afins. Se a rua tiver como lastro voto consciente, tudo bem. Caso contrário, ir pra rua é só pra virar gado mesmo – como os memes que circulam como brincadeira na internet.
Note a questão do MBL - cujo racha a direita em duas partes, pois, ao invés de estar com o Bolsonaro, fiel depositário de tal viés ideológico da direita -, o grupo prefere ser populista e ir contra o presidente ao fazer manifestação contra o “mito”. O motivo? Isso dá lastro político. Deste modo, qual é o real objetivo deste movimento de rua? A sobrevivência, óbvio.
O MBL abandonou o barco e agora está tentando se salvar raptando o eleitorado desiludido que sairia da direita e iria, provavelmente, retornar ao PSDB. Querem pegar todo esse esforço e sentimento de repulsa pelo Bolsonaro para tentar fazer o seu candidato governador. Estão sequestrando o eleitor para ter vantagem política ao baldear essa força para os seus pares. Mas o MBL não é um partido político nem possui um grande leque de políticos de quilate porque caíram na conversa do Olavo de Carvalho diante a lógica [absurda] de que se possa fazer política sem partido e sem político. E lembrando novamente Skinner, isso aí é um reforço positivo ou negativo? É lógico que é um reforço negativo porque só se faz política com partido e políticos de qualidade.
Se o MBL é passível de críticas, os outros movimentos são dignos de repulsa. Uma parte indo pra rua para adorar Lula – ladrão do petrolão - e outro grupo indo pra rua defender o péssimo governo Bolsonaro tais situações só mostram com fatos incontestes que a rua pode deturpar a política e que a política pode se deteriorar com populismo barato. E se a voz do povo é a voz de Deus, basta lembrar que o povo condenou Jesus e soltou Barrabás.
De tal modo, na organização política já há os canais para fazer filtro eleitoral. Existe desde sempre o calendário eleitoral, os períodos para fazer coligações, para fazer debates-sabatinas e apresentações para o público em geral. Toda essa estrutura foi rechaçada pela dita “nova política” que acha que fazer política é ir pra rua se manifestar. O resultado foi um Bolsonaro eleito e uma polarização de ladrões [polarização entre o atual presidente e o Lula] como consequência de novidade na política. Talvez a massa amorfa constituída pela maioria silenciosa volte às raízes ao prestar mais a atenção nos debates, nas sabatinas e nas propostas dos candidatos no período eleitoral, ao repelir esse populismo de rua. O certo é fazer, daqui pra frente, que manifestação de rua seja algo impopular para a maioria silenciosa.
Até porque essas manifestações estão próximas de acabar por causa da banalidade, por causa do desgaste pelo tempo, e a falta de resultado prático e positivo.
Mas, então, como fica o PSDB nessa história? O PSDB tem no preambulo do seu manifesto de 1988 a seguinte frase: “longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas”. Mas também tem no terceiro item do referido texto a seguinte recomendação: “aperfeiçoamento constante da democracia representativa”. Isso significa dizer, em tradução simples, que se deve ir às ruas, mas com um lastro de filtro político. O cidadão tem o direito de ir às ruas protestar. Às vezes, ao depender da situação, obrigação. Mas também tem a obrigação de filtrar a escolha do candidato no qual irá votar. Portanto, se a rua não estiver baldeando essa força para políticos de qualidade, a tendência é a rua não funcionar. Como é o que está acontecendo neste momento.
Porque é notório constatar. Desde 2013 o “povo” vai às ruas e só piora. Por isso que não há milagre na política, o negócio é votar certo. Em setembro de 2021 haverá mais manifestações. Num intervalo de 5 dias, 3 grupos irão se manifestar [2 grupos no dia 7 de setembro e 1 grupo no dia 12 de setembro]. E o motivo é simples: Colocar gente na rua virou ativo político e eleitoral. O cidadão ingênuo virou o produto deste mercado da manifestação. É um produto político rentável porque basta encher as ruas em protesto que qualquer parasita aliado a esses movimentos é eleito sob o lastro desse esforço populista político. Os traficantes desse comércio de protesto nas ruas são os adeptos ao Lula, os apoiadores do Bolsonaro e o MBL – cujo sua existência é ad hoc. Portanto, a reflexão é simples: não adianta se iludir porque não tem bonzinho nessa história. No final, todos querem lucrar em cima do cidadão que vai ás ruas protestar. A rua virou mercadoria de urna eleitoral. Porque o manifestante é o produto à venda ao ir à rua se manifestar e depois votar nos candidatos aliados a tais movimentos. Isso dá vitória eleitoral, dinheiro e poder. Só não dá melhoria política no final.
Manifestação: O Manifestante é o Produto de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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