Cirisco: O Desenvolvimentista de Lisarb
Por: Júlio César Anjos
Cirisco,
também conhecido como Carcará do cerrado, é um grande frequentador da soçaite do
seu país. Incomodado com a situação política da sua região, resolve concorrer à
eleição. E ao vencer o pleito, faz uma ruptura com o sistema atual, após
conseguir, finalmente, virar presidente em Lisarb.
Uma
espécie de coronel de baronato, Cirisco é letrado e lida bem com as palavras. E
por ter um pouco de conhecimento em economia, o presidente de Lisarb faz o que
muitos chamam de econometria embusteira. Porque, para o Caracará, a economia é
vista somente pelo lado da métrica e não do fundamento lógico – por isso
econometria –; e embusteira porque a retórica, apesar de ser explanada com
refino, muitas vezes não é compatível com a realidade.
Cirisco
começa a trabalhar como presidente e inicia o plano econômico desenvolvimentista.
Aliás, o Carcará tem muito orgulho em dizer que escreveu um livro intitulado: “Projeto
Nacional”.
Lisarb
é uma região da América Latina que sofre com a seca. E como se sabe, se um país
não tem nem mesmo segurança hídrica, aí mesmo é que a precariedade é geral
porque nenhum plano econômico consegue ser efetivo de fato.
Politicamente
incomodado, Cirisco põe a mão na massa. E ao lembrar-se dos seus estudos sobre
desenvolvimentismo, recorre a Keynes, cujo pensador econômico dava como solução
o Estado contrair dívida para impulsionar a dinâmica econômica em uma região.
Deste
modo, então, Cirisco resolve implantar um Projeto. Projeto Manah: A Esperança
vem do céu. E faz empréstimos ao exterior visando capitalizar o Estado para botar
a execução em ação.
Com
crédito via Estado na mão, o empresariado inicia a operação de compra de
insumos, de matéria-prima, logística e distribuição do chamado kit salvação.
Aliás, o cliente do empresariado é o próprio Estado que comprará esta produção.
Na
rede de rádio e televisão, além de agentes noticiando no boca a boca a
informação, Cirisco resolve revelar o grande projeto Manah, com o kit salvação.
E diz que às 12 horas da próxima segunda-feira, os céus serão forrados de kits
espalhados em todo o país! E antes de se despedir, agradece os empresários por
fazerem o projeto acontecer.
Segunda-feira,
12 horas. O céu ficou forrado de caixas de madeiras flutuando no ar suavemente
com os paraquedas amortecendo a queda das caixas contendo o kit salvação.
As
pessoas correm para ver o que tem dentro. E dentro há um pequeno computador com
somente um botão escrito: imprima, uma impressora acoplada ao computador, com
uma bandeja para depositar o papel moeda [que já veio com o tamanho da cédula],
tudo isso funcionando a base de energia solar.
Além
de uma folha contendo instruções, havia outro panfleto que trazia a seguinte
informação: Transferência direta de
renda, dinheiro direto na mão do povo! Imprima o seu dinheiro e seja feliz. Viva,
Lisarb!
Diante
dada situação, o povo começou a imprimir o seu próprio dinheiro via estímulo do
próprio Estado.
O
povo, ao acreditar que o dinheiro é riqueza [que basta imprimir para gerar
fortuna] não entendia que dinheiro é apenas meio de troca daquilo que é chamado
de trabalho. Por isso que o trabalho é o lastro do dinheiro – e não o contrário.
Lisarb
não tinha nem água, quiçá trabalho, para fazer a moeda circular. E, como se
sabe, quando há dinheiro de mais e circulação de menos, isso gera hiperinflação,
culminando na situação de o dinheiro não valer nada.
Mas
Cirisco de forma alguma enganou o povo. O povo de Lisarb queria dinheiro na mão
para resolver os seus problemas. E o dinheiro foi dado para o povo.
Quanto
aos empresários, eles estão muito felizes com o Cirisco. Porque o plano de
desenvolvimentismo nada mais é do que O ESTADO
DESENVOLVER TETAS PARA O EMPRESÁRIO MAMAR.
E ao dar crédito [com empréstimos a juros
baixos] e lucro para os empresários [comprando as suas produções], gerando dinâmica
econômica para fazer desde impressora até computador, o Estado desenvolveu a
mamata do empresariado do segundo setor [industrial].
O
povo sofrido até hoje está confuso com a situação e por isso apoiam Cirisco
porque ele pelo menos tentou. Ainda há na cabeça do povo de Lisarb que dinheiro
é riqueza, mesmo com a hiperinflação acentuada, causada pelo desenvolvimentismo
do Cirisco para gerar lucros para o empresariado do segundo setor.
E
Cirisco sabendo que Keynes serve para populismo, já sabia de toda essa
dinâmica. De um lado as pessoas o amam porque ele deu dinheiro direto para o
povo [mesmo o dinheiro não valendo nada] e de outro os empresários, cujos
estocam suas riquezas em moeda forte [como o dólar], também gostam do
desenvolvimentismo de tetas do Estado para a elite econômica de Lisarb.
Os
empresários lucram bem, o povo sofre como nunca, e Cirisco até hoje mantem-se
no poder como coronel. Com brilho nos olhos, o Carcará viu que o
desenvolvimentismo dá certo. Pelo menos para ele. Cirisco, o desenvolvimentista
de Lisarb.
***
O
Carcará do cerrado tem amnésia quando perguntam pelo Guido Mantega.
O
único desenvolvimentismo possível é aquele que cabe no orçamento.

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Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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