Por: Júlio César Anjos
Encerrada
a eleição, vem a apuração. O resultado é catastrófico. O povo deu uma lição ao
grupo político, rejeitando-o de antemão, criando uma condenação eleitoral, no
qual a urna pune. Insatisfação geral, este grupo golpeado pelo fracasso dos
números justifica-se dizendo que o “povo não sabe votar”. Mas quando o povo
votava neste grupo, ao dar protagonismo no passado, esse mesmo povo também não
sabia votar? É lógico que o povo sabe votar. E se o grupo político não esta
sendo eleito, o problema recai ao grupo e não ao eleitor ou da regra do jogo
que se esgotou. Porque o povo sabe votar porque faz escolhas simples.
Dizem
que o pobre não sabe votar porque “vende” o voto por uma cesta básica. Vem cá,
leitor, o pobre deve morrer de fome só para atender e satisfazer os desejos
morais de uma classe média que dispõe de tudo? Aliás, se há um grupo que talvez
vote errado, esse grupo é o afegão médio. Porque o rico ganha não importa o
jogo político, o pobre só se ferra, mas quem pode oscilar entre bonança e
intempérie diante ciclos governamentais é a classe média. Mas mesmo assim a
classe média também não vota errado porque a regra do jogo está errada.
A
única coisa que o eleitor tem que saber com clareza é qual o jogo que vai
brincar. No Brasil, brinca-se de presidencialismo. Mas o presidencialismo está
esgotado e, derrotado, só há crise a gerar. Deste modo, como a regra do jogo
desta brincadeira obsoleta está vencida, não há como culpar o povo por não
saber votar.
Antes
de saber se o eleitor não sabe votar, certifique-se que a regra do jogo seja
válida para haver condição para se jogar nesta democracia. Deste modo, por
causa do problema do jogo presidencialismo em si estar deteriorado, não há como
culpar o eleitorado por não saber votar. Portanto, deve-se mudar o
presidencialismo para o parlamentarismo para que o eleitor consiga ao menos ter
condição de votar certo.
Além
disso, falar que o povo não sabe votar é a mesma coisa que dizer que o cliente
não sabe comprar. E assim como, no final, o cliente sempre tem razão, na
eleição o eleitor, também, sempre tem razão.
Para
criar um produto há toda uma cadeia de produção que vai desde a compra de
insumos até o pós-venda. Na democracia é a mesma coisa. Há um caminho a
percorrer que vai desde o candidato se candidatar até o político ser eleito.
E
nos dois casos, a compra só é finalizada quando toda a cadeia de estrutura
operou corretamente para que o cliente possa adquirir o produto. O mesmo
acontece com o eleitor, que finaliza o voto após fazer uma escolha.
Só
que assim como um cliente decide em 15 segundos qual produto vai comprar ao
fazer escolhas simples na gôndola, na urna eletrônica ocorre algo similar, em
que o eleitor faz escolhas simples diante as informações que possui ao seu
dispor. E assim como um produto precisa se posicionar certo para vencer a
concorrência, um grupo político tem que se posicionar corretamente para vencer
a eleição.
Aliás,
não dá pra exigir que o povo vote certo em um cenário político caótico como o
brasileiro. Com mais de 30 partidos disputando eleições, infidelidade
partidária, deterioração de partidos tradicionais, sistema proporcional falido
[em que o mais votado puxa o menos votado], além de estelionato eleitoral cometido
pelo próprio político que recebeu voto de confiança do eleitor, o fato é que
num cenário desse não há como cobrar do eleitor que ele “vote certo”.
Quanto à relação em se ter frustração por não
ser votado, não é porque o povo não está dando protagonismo para o seu grupo
político em um momento histórico que ele não saiba votar. Pode ser que
justamente essa decisão seja de preservação do grupo porque não é momento para
ser protagonista nas ações daquela época. É o famoso: “há males que vem para o
bem”. Porque quando não é para ser, não adianta forçar.
Todo
mundo sabe ganhar, mas poucos sabem perder. E compreender porque perdeu é para
raros, pois, todo mundo acha que está ideologicamente com a razão. A convicção
cega ao ponto de não entender porque tal grupo não está sendo escolhido
politicamente e com isso está naufragando por ter a cabeça dura por não querer
mudar. E dentre esta loucura, este grupo quer mudar toda a mentalidade do povo,
ao força-lo a querer o que não se quer, caso a escolha fosse feita de forma
natural. E diante essa forçação de barra surreal, o nome disso é chamado de
doutrinação.
E
quando o povo percebe que está sofrendo lavagem cerebral mediante doutrinação,
pode apostar, esse povo se rebela e não vota errado não.
Portanto,
o povo não vota errado, é induzido ao erro.

O Povo Sabe Votar de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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