Por: Júlio César Anjos
Brasília, primórdio dos anos 2000
Nono
período do curso de Engenharia da Universidade Federal de Brasília; período pós-provas.
Pedro,
João, Alex e Ricardo já tinham feito de tudo juntos. Viajar, beber, arranjar
confusão, intriga, arte e até mesmo piadinhas na sala de aula, ou seja, eles
fizeram exatamente tudo o que qualquer turma do fundão universitário já fez.
Os
soldados estavam completando a missão com primor. Mas faltava o último degrau a
completar para serem os grãos mestres dos arteiros de faculdade: ir para o
bordel.
Eles
ainda não completaram essa missão porque um deles estava namorando. Mas a
insistência foi tanta que os quatro, finalmente, resolveram executar a última
missão. E decidiram que iriam para a zona no próximo fim de semana.
Foi
João quem indicou o estabelecimento. Ele tinha conhecimento daquele lugar e já
estava ambientado por já ter frequentado o local anteriormente.
E,
como sabido, o fim de semana chegou. Os quatro amigos encaminharam-se para o
bordel. Entraram no recinto e uma moça já chegou abraçando João pelo pescoço. Com
intimidade, ela perguntou:
-
Trouxe a cartinha de amor, meu anjo?
E
João respondeu:
-
Trouxe sim, querida.
Cartinha
de amor? Todos ficaram encafifados.
Aí,
João explicou que sempre deixava o cheque em branco como “caução” para fazer o
consumo no puteiro e, após o fim da noite, ele pedia para o caixa preencher o
valor daquilo que foi consumido.
O
cheque era considerado cartinha de amor porque, ao ser preenchido, soava como
se fosse um poema recitado para as donzelas que trabalhavam no local.
João
recolheu-se com a donzela para o quartinho que ficava no interior do estabelecimento.
Ficaram
na salinha os outros 3 amigos: Pedro, Alex e Ricardo.
Pedro,
o que tinha namorada, ficava se esquivando de uma moça que ficou o abordando
insistentemente. Ele era o menos feio da turma, então era normal que as
mulheres baixassem nele, até mesmo as meretrizes.
Pedro
pagou uma rodada de “Amarula” para uma delas. A moça, então, começou a querer
fazer e receber carinho. Ele logo rechaçou a proposta e chamou-a para
conversar. Até aí, tudo bem.
O
problema era a postura e a forma como ele se comportava ao falar com a moça.
Sentado de pernas cruzadas, com a mão no queixo, ouvindo atentamente o que a
moça tinha a dizer.
Não
deu outra, Alex e Ricardo começaram a tirar sarro e fazer troça. E chegaram à
conclusão que o apelido dele seria psicólogo de puta. Como o apelido era muito
grande, então ficou só psicólogo.
Alex
e Ricardo, cada qual em um sofá diferente, ficaram isolados.
O
Alex era feio de doer, embora o mais abastado dos quatro. Mas nenhuma moça
baixou nele. É incrível como que as pessoas associam feiura com pobreza.
Pedro
para de conversar com a moça e chega perto do Ricardo e diz:
-
Tá vendo, olha só o Alex. Feio demais. Nem “as puta qué”. Vamos apelidá-lo de Beleza.
Os
dois riem.
Alex
chega próximo dos dois amigos.
O
Ricardo mostra o cardápio e faz a seguinte observação:
-
Olha só o preço das bebidas e dos petiscos. O que eu tenho na carteira só dá
pra comprar uma coxinha e um Choco Milk; sem condição.
O
Alex diz:
Tá liso, né, parceiro?
E
foi assim que o apelido do Ricardo virou Liso.
João
volta do quartinho com aquela cara de quem viu passarinho.
Vai
para o balcão do caixa para fechar a conta.
E
nessa hora foi apelidado de Cartinha.
E
assim acabou a saga dos quatro amigos que entraram no bordel chamando: João, Pedro, Alex e Ricardo; saíram apelidados como: Cartinha, Psicólogo, Beleza e Liso.

O Bordel de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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