Por: Júlio César Anjos
Dizem
que o brasileiro está a cada dia mais politizado. Afinal, nunca se viu fazer tantos
atos cívicos, em curto período de tempo, com protestos e manifestações Brasil
afora sobre várias causas políticas a contento. Dada à situação nacional, pode-se
até mesmo conjecturar que agora sim o Brasil respira e vive democracia de fato.
E com o esplendor do otimismo, afirmar que a nação galga para um olimpo
político-social. Um país que sabe os 11 ministros do STF, enquanto não sabe
mais escalar os 11 jogadores da seleção, só pode no fim triunfar. Porém, a realidade não é tão arco-íris assim.
O
Brasileiro não está mais politizado ao saber de cabeça o nome dos 11 ministros
do STF, enquanto mal sabe dos 11 jogadores da seleção nacional. Na verdade, o
povo está mais manipulável e suscetível a ser massa de manobra de grupos obscurantistas,
nacionais e internacionais, que se regozijam ao ver que conseguem colocar gente
na rua para defendê-los de sabe-se lá o quê, sendo que tais políticos e grupos
econômicos influentes nem precisam dessa defesa porque já possuem poder.
O
Sistema defende os condutores populistas porque, teoricamente, eles conseguem manipular
as pessoas para “atendê-los” e, assim, controla-los pela paixão política. Isto
faz com que a massa, embora com poder de mudança, consiga mudar só aquilo que o
manipulador deseja, no qual esse líder está acomunado com o Sistema que o
próprio povo jura combater.
Parece
insano, mas não é. É até genial, se for parar para pensar.
É
dessa forma, por exemplo, que a reforma da previdência foi aprovada. Tanto a do Bolsonaro, em 2019, quanto a do
Lula, em 2003. No caso do Lula, por pura
capacidade de controlar a manada e esvaziar a rua como bem entender; e no caso
do Bolsonaro, com o povo indo para as ruas querer perder direitos de fato. É a
capacidade de o líder conseguir encher, mas também de ESVAZIAR manifestação na rua,
que faz o líder ter realmente poder que só pode ser concebido e avalizado pela
elite nacional.
Deste
modo, para contrastar, o fato é que o verdadeiro povo politizado sabe votar. E
vota para delegar. E delega para não ter que se preocupar com idiossincrasias
do dia a dia. Com isso não precisa ter que fazer plebiscito de tempo em tempo,
ao ter que ir para a rua manifestar-se por aprovação ou reprovação de situação
A ou B do congresso nacional porque grupos extremistas querem melindrar, com
artimanhas jurídicas legislativas, com fins obscurantistas até mesmo para a
tomada do poder via legal, ao gerar condições que visam o fim da democracia. O politizado
sabe votar e de antemão rejeita partidos extremistas e fisiológicos, colocando
no poder só as legendas e os políticos tradicionais.
O
povo politizado não é analfabeto funcional. E não sendo analfabeto funcional, não
cai em “fake news” ridículos, que qualquer ser minimamente escolarizado e/ou
racional não cairia no golpe, caso não fosse extremamente apaixonado ou néscio
de forma geral. O povo politizado sabe
que a leitura é apraz e por isso exercita constantemente o aprendizado por puro
deleite de autodidata, e não por obrigação de lição de casa de escola ou
faculdade, concurso público, ou qualquer outra coisa que valha.
E
o politizado, ao descobrir que quanto mais estuda, mais acha que não sabe nada,
porque o leque de informação e conhecimento é vasto, compreende que, em muitas
vezes o silêncio é valoroso. Taciturno naquilo que vem da mídia, que justamente
cria notícias para fazer o povo falante distrair-se com debates sociais, sejam escândalos
ou não, fazendo que pipoque aos montes intelectuais de mídia social que são
especialistas em todos os assuntos que são inoculados pela elite, de caso
pensado, para que o povo reaja justamente dessa forma e tenha o domínio total
pela técnica de abstração.
Além
disso, o povo politizado tem o Richard Rorty como livro de cabeceira:
“O
objetivo será manter a mente dos proletários concentrada em outras coisas –
manter os 75% mais pobres dos Estados Unidos e os 95% mais pobres da população
mundial ocupados em hostilidades étnicas e religiosas e em debates sobre
costumes sexuais. Se os proletários puderem se distrair de seu próprio
desespero por pseudoeventos criados pela mídia, incluindo ocasionais guerras
curtas e sangrentas, os super-ricos pouco terão a temer.”
E
nesse momento o povo politizado dá uma olhadinha no noticiário e vê pseudoevento
na França, com muçulmanos fazendo terrorismo, com o The Intercept Brasil
criando a expressão: “estupro culposo”, eleição dos EUA turbinando a mídia
[sendo que o cidadão politizado mora no Brasil], e por aí vai. Enquanto isso, a
boiada passa pelo outro lado, mas o politizado anda meio distraído e não está
sabendo o que realmente se passa de fato.
O
politizado também sabe que se rua dá resposta, mendigo é o oráculo. E que povo
na rua não é sinal de mais democracia, mas prenúncio do fim dela. Porque todas
as ditaduras do mundo sobem por ajuda de força armada e o povo na rua pedindo
ditadura e golpe militar.
Enfim,
distrai-se com abstração vinda da mídia, anda junto e uniformizado na rua
clamando por pauta esquisita, tagarela e mostra ser especialista em qualquer
assunto que se passa no noticiário, lê pouco (ou nem lê) e o que lê é bobagem, vota
em líder populista caricato, sabe o nome dos 11 ministros do judiciário – e desconhece
os 11 jogadores da seleção -, além, é claro, de se desgastar com política cuja
informação é cevada por grupos de pressão interessados em conter manada, o fato
é que o brasileiro está longe de ser politizado.
O Brasileiro Está Politizado de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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