Festa Junina e Tik Tok: Condenar ou Agradecer?


 

A Festa Junina sempre foi uma celebração realizada por escolas para atender uma agenda cultural nacional. Para manter a tradição, as escolas sempre abriam em um domingo de junho as suas instalações ao oferecer esta festa como um serviço para a comunidade local.

Na cerimônia, o de praxe: barraca de pipoca, maçã do amor, pinhão, cachorro-quente, roupas quadriculadas, pinturas no rosto [geralmente pinta-se um dente de preto para dar a sensação de estar banguela], correio elegante [para flertar], a prisão e a fogueira de São João. Tudo isso envelopado em danças típicas, músicas típicas e cenários típicos da festa junina.

 Algumas pequenas cidades do interior do Brasil faziam da festa junina uma celebração de toda a cidade para atrair turistas para o município e conseguir extrair uma renda extra com este serviço.

Porém, de uns tempos pra cá, principalmente depois da pandemia do Covid-19, a festa junina ganhou status e começou a ser visto para além do Brasil, como uma festa que atrai o público internacional.

E isso se deu por causa do efeito Tik Tok que sempre entrega curiosidades para os usuários da plataforma no mundo todo. Como a festa junina não era conhecida pelo público internacional, então esta curiosidade passou a ser algo interessante porque tem estética, o que atrai curiosos.

O problema é que, para atender o público da plataforma, a festa junina passa a começar a se descaracterizar da sua estética, do seu propósito de existir.

Ou seja, no mesmo momento em que se divulga a festa junina ao mundo, podendo atrair até mesmo turistas internacionais, a exigência de ter que atender demandas das redes socias subverte a cultura e a tradição da celebração.

  Neste ponto em diante, começam a sumir as vestimentas típicas, as comidas típicas, as danças e músicas típicas para dar lugar a uma nova tendência de tiktokização.

O exemplo mais notório é a questão da dança. A quadrilha quase não existe mais, sendo trocada por coreografias de passinhos de música de funk brasileiro, o que faz as jovens mocinhas se parecerem mais como líderes de torcidas [cheerleaders] do que as sinhazinhas da festa de São João.

Enquanto uma festa comunitária, organizadas por escolas, a festa junina sobreviveu por séculos. Agora está ameaçada de extinção por descaracterização. E o seu fim será quando começarem a envelopar como produto de exportação e começarem a chama-lo de: June’s Party.

Aí acabou.

Acha impossível a festa do Santo João acabar por descaracterização? Saiba que o Brasil celebra o nascimento de Cristo, o Natal, em que a principal personagem, como símbolo, é um senhor de idade que usa roupas para se proteger do gelo, criado pela Coca-Cola.

Por ora, o certo é agradecer a divulgação.

 

 


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