Gincanas Mentais. Ou: Os
5 Pontos para o Domínio Social
O que seria pior: viver como um monstro ou morrer como um homem bom?” – Filme: Ilha do Medo (2010), Martin Scorsese.
Richard
Rorty disse:
Abram-se aspas.
“O
objetivo será manter a mente dos proletários concentrada em outras coisas –
manter os 75% mais pobres dos Estados Unidos e os 95% mais pobres da população
mundial ocupados em hostilidades étnicas e religiosas e em debates sobre
costumes sexuais. Se os proletários puderem se distrair de seu próprio
desespero por pseudoeventos criados pela mídia, incluindo ocasionais guerras
curtas e sangrentas, os super-ricos pouco terão a temer.”
Fecham-se aspas.
Na
ditadura, por óbvio, o controle social se dá pela coerção, censura e o aparato estatal
policial em ação contra o cidadão e suas liberdades individuais. Já em
sociedades abertas de democracias liberais, o dito Sistema precisa criar
maneiras para frear os impulsos da população. E estes são os 5 pontos para o
Domínio Social: Distração, Ignorância, Culpa, Medo, Expectativa.
Richard
Rorty, em seu raciocínio, só não pensou na questão da expectativa que, aliás, é
o mais importante porque mantém a pessoa viva para continuar a sua vida
precária.
Distração:
Como sabido, é preciso fazer distrações para que as pessoas esqueçam seus
próprios infortúnios. A distração é o ópio do povo. Focar nos eventos que
acontecem com os outros faz a pessoa esquecer os seus próprios eventos.
Ignorância
ou falta de educação: pode ser traduzida na frase: "Quando se nasce pobre,
ser estudioso é o maior ato de rebeldia contra o Sistema. Então o Sistema não
irá ofertar educação de qualidade para toda a população porque isso faria um
despertar. E despertar gera mudança, revolução.
Culpa: O Sistema ensina muito bem uma coisa: que qualquer problema na sua vida a culpa é tua. Quando a pessoa está na sarjeta, a explicação é: não estudou mais, não trabalhou mais, não guardou dinheiro quando podia, não foi saudável, não fez relacionamentos e por aí vai. Sendo que na maioria das vezes o cidadão não tem culpa em ter que enfrentar um Sistema que, dia a dia, só quer rebaixá-lo porque a pobreza é inerente. Além disso, a culpa vindo da igreja, em que se não for um bom menino, irá para o inferno.
Medo:
Se o trabalhador perder o emprego, pode não conseguir voltar ao mercado de
trabalho, então tem que obedecer e se submeter aos abusos no ambiente laboral. Será
processado e preso, se não pagar impostos direitinho. Ao ver a mídia, os
acontecimentos de crimes na região fazem a pessoa defender o policiamento que é
o monopólio da força. Os imigrantes só cometem crimes, então devem ser
perseguidos. Ou seja, existe um Sistema que impõe medo em todos os cidadãos.
Expectativa
ou Falsa Esperança: As pessoas devem acreditar que vão ter aumento ou promoção
no trabalho, que vão encontrar o amor ideal, que na próxima eleição tudo irá
mudar. Essa expectativa, falsa esperança, que traz um viés de prosperidade faz
com que o cidadão: se distraia com tranquilidade; continue burro porque a
ignorância é uma benção; sinta-se culpado, mas entenda que pode resolver o
problema; e que tenha medo, mas vai com medo mesmo.
Mesmo
com o Sistema criando as manipulações para controle do indivíduo, ao criar
falsas liberdades sociais, ainda assim esse mecanismo de sociedade aberta é
melhor do que as sociedades fechadas ditatoriais. As ditaduras não criam gincanas
mentais.
Deste
modo, parafraseando a frase do filme: A Ilha do Medo, de 2010: o que é pior: viver como
um monstro nas sociedades abertas ou morrer em vida como um homem bom nos
sistemas ditatoriais?
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