Pular para o conteúdo principal

Lula 3: Muito Além do IBGE e do Mercado Financeiro

 

Lula 3: Muito Além do IBGE e do Mercado Financeiro. Ou: aquele número de cruzamento de dados que o Pochmann não pode manipular.

 

Márcio Pochmann e Naji Nahas

Há uma queda de braço entre o otimismo baseado em dados falsos do IBGE, pelo governo Lula, e o pessimismo sustentado pelo pragmatismo do mercado financeiro. Quem estaria certo neste embate? Se for analisar friamente, nenhum dos dois. Pois tais agentes não estão olhando o único cruzamento de dados que realmente demostra a real situação do Brasil ao mostrar se o país vai bem ou vai mal. Esse número vai muito além de IBGE e do mercado financeiro. E é realmente de assustar.

Antes de tudo, que se saiba que nesta disputa entre os números mágicos do IBGE e os agentes financeiros, por motivos errados, o mercado financeiro está com a razão.

Porque o problema da crise brasileira não está, em si, no endividamento público que só aumenta ou no consumo das famílias. Se o endividamento fosse alvejado em infraestrutura ou ciência e tecnologia, este recurso voltaria como aumento de produtividade, o que geraria riqueza de fato porque virou um investimento. Como o governo petista é ruim, então o lema “gasto é vida” só pode virar, no final, gasto é dívida.

O problema está em uma outra parte oculta sobre o consumo das famílias.

Deste modo, pergunta-se: o PIB está chegando como prosperidade para as pessoas? E a resposta é curta: não está. Há um problema sério de alocação de recursos porque o governo gasta muito e gasta mal. E, por isso, a distribuição do PIB é desproporcional, aumentando ainda mais a desigualdade no país.

O número, como informação crucial, gerado pelo cruzamento de dados que mostra se realmente o Brasil vai bem ou mal, está simplesmente na observação do supermercado e do crediário financeiro.

Basta ir a um supermercado e fazer a seguinte pergunta: houve aumento na compra de comida por crédito, ao invés do débito, nos últimos meses?

E, infelizmente, os brasileiros estão comprando cada vez mais a comida em parcelas. Em duas, três e até cinco vezes.

Isso significa que as coisas vão mal para a classe média baixa que justamente é a classe que carrega o Brasil nas costas.

Porque de um lado o salário arrochou e, do outro, o preço dos alimentos no supermercado subiu. E ao ir ao supermercado não tem como correr, todo mundo tem que fazer a compra do mercado.  

Esse cruzamento de dados refuta completamente o mundo mágico do IBGE do Marcio Pochmann. Porque é um número que não está diretamente em posse do governo Lula.

É neste momento que cai por terra, por exemplo, a inflação de 5% que o governo divulga. Cai por terra qualquer índice que diga que há aumento de poder de compra do brasileiro. E cai por terra qualquer menção sobre o Brasil ter voltado a prosperar.

Porque um país que compra comida no crediário, em 5 vezes, sendo que no mês que vem tem que voltar a fazer a compra de novo, esse número mostra que o governo Lula é um Dilma 3.

No cálculo do PIB, o Brasil teve aumento no consumo das famílias. De fato, os 54 milhões de pessoas no programa estão pelo menos comprando o básico. Mas quem é da classe média baixa está tendo que se virar para sobreviver. Cada mês que passa, enforca-se mais. Porque o aumento do PIB não chegou na classe média baixa; foi tudo para o rentismo da elite rentista brasileira.  

Além disso, no PIB, essa compra de comida no crédito aparece com aumento de consumo. Só que é um aumento de consumo doente, em que as famílias passam aperto ao estarem escravizadas no crediário para comprar comida.

É no aumento de compra no crediário para comprar comida, impulsionada por uma classe média baixa que não precisa de bolsa família, mas a renda não dá no mês, que está o verdadeiro problema do Brasil. Isso é insustentável.

Então, por acidente, o mercado financeiro está mais certo em ser pessimista do que o otimismo farsesco do IBGE do governo Lula.

O natural é comprar a comida à vista ou no débito. Comprar no crédito não é natural. E esse número crescente da classe média baixa comprar comida no crédito vai derrubar o governo Lula. Quem viver, verá.

  


Comentários