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Brasil: A Cultura do Calote

 

Por: Júlio César Anjos

 

Deu no Poder 360 [27/11/23]:

Abram-se aspas.

As primeiras negociações das dívidas do Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) sob as novas regras aprovadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começaram em 7 de novembro. A iniciativa, no entanto, não apresenta novidades significativas com relação à medida que substituiu, aprovada durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Até mesmo o valor máximo de 99% de desconto, enfatizado por lideranças petistas, já estava vigente....

Fecham-se aspas.

Desconto de 99%. Vale a pena ser honesto no Brasil? Ser bom pagador parece que é uma burrice e honrar compromissos parecer ser coisa feita por otário. Porque o caloteiro está praticamente zerando a sua dívida em valores irrisórios, enquanto que o bom pagador do FIES quitou a sua dívida integralmente [além daquele que não precisou recorrer a financiamento nenhum]. Ou seja, o governo federal dá bolsa de estudos para o caloteiro.

O FIES funciona assim: O aluno pede o crédito estudantil. A faculdade privada intermedeia a negociação com um banco. Esse banco paga a dívida contraída do estudante para a faculdade privada. O aluno fica endividado ao banco. O governo vai lá e gera desconto para o aluno caloteiro. Isso nada mais é que uma fabrica de desonra e imoralidade vinda do próprio governo.

A política populista cria uma cultura perversa no povo brasileiro, em que faz a todos acreditarem que dar calote é modelo a seguir. E aí mais e mais estudantes irão dar calotes porque isso é vantajoso. E mais e mais vezes o governo federal terá que pegar os impostos para cobrir essa falta de compromisso financeira.

Em muitas vezes o banco credor é a Caixa Econômica Federal que paga a faculdade privada e fica com o aluno como endividado. E aí o governo dá baixa nessa divida simplesmente fazendo renúncia fiscal. O banco dá baixa nessa dívida do FIES porque é uma empresa pública sendo usada para interesses populistas políticos de ocasião.  

Essa disfunção cultural, bem verdade, vem desde a explicitação da propaganda do cigarro Vila Rica, na década de 80, cujo jogador Gérson proferiu a célebre frase até hoje conhecida por todos os brasileiros: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também”.

Outra vantagem em tudo está no programa do governo chamado: Desenrola. O Desenrola nada mais é que o governo dar descontos das dívidas para os caloteiros. O individuo faz as compras que deseja, não paga pelos produtos e o governo ainda vai lá e dá desconto para o caloteiro limpar o seu nome junto ao banco e voltar a calotear novamente. O banco fica feliz em receber os seus valores pelos impostos vindos do governo e o caloteiro fica feliz em continuar a fazer essa roda girar.

Novamente o banco recebe recursos do governo federal para fazer a quitação dessa dívida, fazendo o pagador de imposto ter que pagar créditos para o caloteiro.

E por fim há o REFIS [programa de recuperação fiscal], que nada mais é que o favorecimento da empresa caloteira junto ao governo. O REFIS dá descontos na dívida além de estender prazos para a empresa caloteira. Enquanto isso, a empresa pagadora sofre para conseguir qualquer tipo de benefício fiscal e/ou tributário. E aqui se vê mais uma vez que dar o calote é o melhor a fazer.

 No Brasil da cultura do calote, o aluno aprende que não pagar o FIES vira bolsa de estudo; o cidadão pródigo pode gastar que a sociedade irá pagar pelas suas regalias e a empresa mau pagadora será recuperada pelo governo. E aí se cria o mau aluno, o mau cidadão e a má empresa.

E há quem jure que o Brasil é o país do futuro, tendo essa cultura do calote que nada mais é que uma mistura entre a imoralidade e a desonra.

 

Fonte:

https://www.poder360.com.br/educacao/entenda-a-diferenca-da-renegociacao-do-fies-sob-lula-e-bolsonaro/

 



 

 

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