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CVM e Bovespa: A Volta da BVRJ e a Criação da Bolsa Agro

 

Por: Júlio César Anjos

 

O presidente da CVM [Comissão de Valores Mobiliários] foi ouvido hoje pela comissão do senado sobre o caso Lojas Americanas. 

Deste modo, deu no site Metrópoles [28/03/23]: 

Abram-se aspas.

As áreas competentes da CVM estão cuidadosa e diligentemente apurando as práticas da companhia, prosseguiu Nascimento. Esse caso é gravíssimo e, aparentemente, estamos observando que as relações de freios e contrapesos falharam. [...] A CVM não tolerará ilícitos no mercado de capitais, concluiu Nascimento.

Fecham-se aspas.

 

As relações de freios e contrapesos falharam. Ou seja, a fiscalização foi falha e por isso passou despercebido o problema de inconsistência contábil na empresa Lojas Americanas. Se isso tivesse ocorrido nos anos 80, a Bovespa teria fechado – como ocorreu com a extinta BVRJ [Bolsa de Valores do Rio de Janeiro]. Mas a Bovespa não irá fechar por um simples motivo: é monopólio. E isso tem que mudar.

Para quem acha que bolsa de valores é algo somente do capitalismo atual, saiba que as primeiras bolsas de valores surgiram em 1820 (o Brasil ainda era colônia de Portugal), com a criação de uma bolsa de Salvador e outra no Rio de Janeiro. Foi só em 1989 [primeira eleição após a ditadura militar na república], quando a BVRJ quebra, que a Bovespa ganha status. E somente em 2000, quando as bolsas regionais [Paraná, Minas Gerais, Pernambuco e etc.] são absorvidas pela Bovespa que a bolsa de São Paulo ganha a robustez vista até hoje. Tudo isso pra dizer que já houve concorrência de bolsa no próprio Brasil.

O monopólio da Bovespa traz vantagens e desvantagens. Vantagem por causa da sinergia imposta em negociar tudo em um só lugar. Desvantagem porque se não tiver regulamentação correta, a crise é geral porque não tem pra onde correr.

Basta lembrar que quando a BVRJ quebrou, todo mundo correu para as bolsas regionais [Bolsa de São Paulo, do Paraná, Pernambuco e etc].

A melhor forma de se gerar freios e contrapesos é criar concorrência de bolsa. Nos EUA, por exemplo, a Bolsa de Chicago está sempre à espreita, caso a Bolsa de Nova York comece a ter problemas.  

Com isto, o Brasil deve recriar a BVRJ [Bolsa de Valores do Rio de janeiro] para virar uma espécie de sombra às ações geradas na Bovespa.

E também, para critério de segurança, criar do zero a bolsa do Agro, especializada somente neste ramo. Esse ramo merece uma bolsa robusta só para si porque é o maior mercado do Brasil.

A CVM, por melhor que seja, não conseguirá fiscalizar todas as negociações envolvidas no Brasil, pois a fraude pode ocorrer em qualquer lugar. Dito isto, para salvar a própria reputação da CVM, é preciso que haja uma concorrência para que as próprias bolsas ajudem internamente nesta fiscalização.

A BVRJ quebrou em 1989 porque não tinha regulamentação interna para gerar uma burocracia que impedisse até mesmo fraude pueril como a operação zé com zé do Naji Nahas. Deste modo, caso volte, a BVRJ teria que ser mais burocrática que a Bovespa para retomar reputação.

A Lojas Americanas, ao estar comprometida em sua saúde econômica, está a contaminar a Bovespa toda porque esta listada nesta bolsa. Com concorrência de Bolsa, a Americanas poderia não estar na BVRJ, por exemplo, não contaminado em crise a bolsa concorrente, ao salvar parte do mercado doméstico.

Como há um monopólio de Bolsa, porque só existe hoje a Bovespa, se uma empresa de grande porte espirra, as outras empresas pegam gripe juntas. E isso está errado com as outras empresas que não possuem culpa sobre o que está acontecendo no dado momento.

Além disso, a Americanas gera desconfiança no mercado como um todo, o que faz a Bovespa perder investidores por causa desta insegurança econômica.

Se até aqui a Bovespa gerou sinergia, com os novos problemas que surgem nas empresas isto começa a virar contaminação. Ao invés de ganhar por estar junto, perde-se por estar junto. E isso abre discussão para concorrência de bolsa no Brasil.

Portanto, as coisas mudam ao passar do tempo, goste-se ou não. E por causa das dinâmicas econômicas, a concorrência de bolsa de valores passa a ser uma saída de fiscalização além da CVM e da perícia interna da Bovespa. Porque se a Bovespa quebra, o Brasil não tem outra Bolsa para correr. E quebra junto por causa deste monopólio que não deveria existir.

 

 ***

 

Há males que vem para o bem. O caso das Lojas Americanas – além da CVM inútil – acende o debate para concorrência de bolsa.

 

 https://www.metropoles.com/negocios/caso-americanas-lamentavel-e-gravissimo-repete-presidente-da-cvm

 




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