Por: Júlio César Anjos
A
questão do aborto, sobre vários pontos de vista, realmente é um campo de
discussão muito arenoso para se enveredar. Há a questão dos direitos quanto à
mulher, ao feto e à sociedade. Em questões individuais, há de ver que a mulher,
envolvida no processo, tem que ter um tipo de escolha porque é um fenômeno que
acontece dentro do corpo dela. Quanto ao bebê, comprometido na situação,
abortar significa ceifar vida. E no campo coletivo, o ventre e a criança são
sim responsabilidade da sociedade, pois trazer uma vida significa boca para
alimentar e um ser humano para se desenvolver desde o nascimento até o
passamento. Mas se quiseres brincar de debate, há uma brecha para gerar
discussão no campo utilitarista.
O
utilitarismo possui algumas bases filosóficas interessantes como a maior
felicidade para a maior quantidade de pessoas, o princípio do dano e a
liberdade de agir e de pensar. Mas para este texto, há uma frase utilitarista que
se destaca:
“Busca do prazer e fuga da dor”.
A
doutrina utilitária consequencialista referendada por Jeremy Bentham considera
que o homem é governado simplesmente pela implacável maximização do prazer
(felicidade) e a fuga constante da dor.
E
isso está até mesmo no campo da psicologia. Uma pessoa que tem a dor como
prazer é masoquista; e uma pessoa que tem o prazer como dor é psicopata.
Pessoas normais irão buscar o prazer e fugir da dor.
O
prazer, nesta categorização, não significa somente sexual. Mas também a de
conquistar situações por mérito, vencer, de forma sadia e ter felicidade no
final do processo.
E
a dor não significa somente aquela criada por doença. Aborrecimentos,
dificuldades e problemas tanto individuais quanto sociais são dores que ninguém
quer passar.
Dito
isto, é preciso entender que a busca do prazer e fuga da dor se dá nas 3
abordagens que são: a criança [feto], a mulher e a sociedade.
Na
sociedade, é preciso ver a dinâmica social de uma região. Um povoado muito
religioso impedirá até mesmo uso de camisinha, ao achar que o espermatozoide já
seja vida. E uma sociedade totalmente aberta irá querer fazer aborto até os 9
meses. Os dois casos estão errados. Deste modo, é preciso saber quando começa a
vida. E ao estabelecer o nascimento de fato, fazer meios para que tanto à mulher
quanto à criança se desenvolvam de forma plena e que consigam buscar e ter a
felicidade.
Na
mulher, é preciso entender que é nela que acontece a geração de uma vida. E
gerar uma vida implica em responsabilidades. E responsabilidades geram escolhas
que trazem renúncias. Ou seja, a mulher, quando inicia a gravidez, pensa no
futuro. Não só o dela, mas do feto também. E ter um filho obrigado pela lei faz
a mãe ficar infeliz - chegando ao ponto de adotar -, a criança infeliz por ser
rejeitada pela mãe, e a sociedade infeliz porque se quebrou o laço de uma
família.
No
feto, é preciso entender quando ele realmente tem vida. Como não se considera o
espermatozoide um ser senciente, a religião entende que a concepção é o início
da vida. Porém, um bebê só começa a desenvolver o seu sistema nervoso central
após a 13ª semana, tendo o sistema nervoso central finalizado após 24 semanas.
Deste
modo, é preciso entender o que a ciência tem a dizer. Seguem citações:
Abram-se aspas.
O
primeiro sinal de atividade cerebral ocorre na 13ª semana da gestação. A
pesquisadora Vivette Glover, do Hospital Chelsea e Queen Charlotte, de Londres,
acredita que a consciência fetal começa a se desenvolver a partir do sexto mês
da gravidez.
Até
quando o feto não sente dor? Fetos não sentem dor antes de 24 semanas de
gestação, diz estudo britânico. Uma análise de estudos recentes sobre o
desenvolvimento dos fetos confirmou que não há evidências de que os bebês sejam
capazes de sentir dor antes de completar 24 semanas de gestação.
Fecham-se aspas.
Portanto,
um feto não é considerado um ser humano senciente até a 13ª semana de gestação
e não sente dor até a 24ª.
Deste
modo, para os utilitaristas, o feto só passa a ser um ser vivo senciente, que
tem o seu direito assegurado - porque começa a sentir prazer e a fugir da dor -
após 3 meses da concepção.
Para
a questão da ciência, abortar até 3 meses não gera dano à criança porque ela
ainda não sente dor. Porém, na questão psicológica da mulher, abortar pode
gerar problemas. Porque, querendo ou não, é uma vida que começa a se
desenvolver dentro da mãe. Abortar e depois se arrepender é infelicidade também.
Além
disso, vale destacar, só quem é proibida de fazer o procedimento é a mulher
pobre. A mulher rica faz turismo médico e vai fazer a operação em outro país. A
questão do aborto é de caráter materialista também. Mas isso é assunto para
outra hora.
Portanto,
os utilitaristas concordam totalmente com o que já diz a legislação atual, cujo
aborto é legal para as mulheres que forem estupradas ou corram risco de vida.
Mas, pela questão filosófica, é possível gerar um debate mais aprofundado
sobre o direito das mulheres, o direito do feto e a questão social sobre o
aborto.
Fontes:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/11/10/mais!/23.html
https://www.bbc.com/portuguese/ciencia/2010/06/100625_feto_dor_mv
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