Por: Júlio César Anjos
Lula,
quando foi oposição ao Fernando Henrique Cardoso (FHC), criticou a reeleição e
usufruiu deste recurso no passado e hoje assume um terceiro mandato. Dilma,
quando foi eleita, criticou a reeleição criada pelo FHC e disputou reeleição. Bolsonaro,
ao criticar o FHC por ter implantado a reeleição, tentou se reeleger também. É
possível notar, leitor, que todos criticaram o FHC, mas nenhum deles mudou a
lei de reeleição porque viram que poderiam se beneficiar dela, além da
dificuldade em revogar esta lei. Só que, de fato, esse mecanismo tem que acabar
e ser substituído pela lei dos dois mandatos.
Ao
contrário do que se fala na política, FHC não comprou o congresso para aprovar
a reeleição. E para explicar isso, deve-se voltar para os idos de 1997. Naquela
época, o Brasil estava maravilhosamente bem, com a moeda sem inflação, poder de
compra elevado e o Brasil realmente com sensação de que havia perspectiva de
melhora. Se há um passado glorioso que não existiu, essa época foi o primeiro
mandato do Fernand Henrique. O FHC viu que tudo estava bem na política nacional
e decidiu tocar a aprovação da reeleição.
Como
ele fez isso? Usando do apoio de prefeitos e governadores para que pressionassem
os deputados a aprovar a reeleição porque beneficiaria a todos aqueles que
tinham, naquela época, cargo executivo. Nos anos 90, o legislativo não tinha
tanto poder quanto hoje, sendo que eles eram suscetíveis aos anseios dos
prefeitos e governadores da sua região.
Ao
contrário do que se diz por aí, não houve um centavo de compra de parlamentar
para aprovar a reeleição. Apenas o FHC usou da conivência de mais de 5000
prefeitos que queriam se reeleger em 2000 e dos 27 governadores dos Estados que
queriam continuar os seus mandatos em 1998 junto com o presidente FHC. Política
ad hoc.
E
se de um lado foi fácil aprovar a reeleição, pelos mesmos motivos é difícil
acabar com esse mecanismo. Porque 5000 prefeitos e 27 governadores não irão aceitar
o fim da reeleição sem reagir sobre isto. É por isso que a reeleição é difícil
de acabar no Brasil, pois não depende somente da boa vontade dos parlamentares,
mas de todo o rearranjo de poder entre prefeituras, governos de Estados,
legislativo federal e partidos que querem a continuidade de poder sem
interrupção.
Quem
mais esteve perto de acabar com a reeleição, mas não fez porque não quis, foi o
Bolsonaro. Bolsonaro subiu ao poder com o slogan: “meu partido é o Brasil”,
tinha gigantesco apoio da sociedade em geral (que ia além do bolsonarismo) para
acabar com a reeleição, tendo com o orçamento secreto empoderado o legislativo
ao criar uma espécie de parlamentarismo velado, fazendo com que essa confluência
criasse condições para acabar com a reeleição de maneira menos conflituosa e
traumática possível. Se o Bolsonaro acabasse com a reeleição, seria lembrado na
história por tal feito; preferiu continuar sendo um político de baixo clero do
centrão.
A
maneira mais fácil de acabar com a reeleição é substitui-la pela lei dos dois
mandatos, como ocorre nos EUA. Deste modo, mantem-se a reeleição para continuidade
de poder de curto prazo, mas retira a possibilidade deste governante concorrer
para um terceiro mandato no futuro. É preciso verificar que o problema não
esteve nos dois mandatos do FHC, nem nos dois mandatos do Lula, nem nos dois
mandatos da Dilma (que foi destituída). O que quebra a democracia é ver o Lula
voltando à cena do crime para um terceiro mandato.
E
para aqueles que acham que a reeleição, por si só é ruim, basta verificar que a
Angela Merkel, como primeira-ministra da Alemanha, ficou 16 anos no poder, ao
disputar sucessivas reeleições e vencer. O problema é que por lá o poder está
no parlamentarismo, sendo que há presidente na Alemanha que só faz figuração.
Ou seja, o problema nunca esteve na reeleição, mas no presidencialismo
decadente que abre possibilidade para um político populista vencer várias
eleições e ter vários mandatos como o ex-condenado Lula.
Comentários
Postar um comentário
Comente aqui: