Por: Júlio César Anjos
Fernando
Henrique Cardoso [FHC] foi o melhor presidente desde a redemocratização
justamente porque mexeu em questões estruturais para mudar o país para melhor. Em
seu governo, houve privatizações de grande impacto como a desestatização da Vale
e das Teles. Naquela época, a luta foi travada no campo do convencimento
político. O tempo de debate levou mais de 1 ano para que todo mundo estivesse a
par sobre tais mudanças que entrariam em vigor. Porque quando se faz uma
privatização, é preciso que toda a sociedade esteja a cabo sobre a situação da
empresa a ser vendida em questão dos prós/contras e a lógica do Estado realmente
não ser um bom empresário. Agora no final de 2022, Ratinho Junior quer
privatizar a Copel de forma açodada, sem discutir com a população, mostrando o
teor autoritário de tocar essa venda sem ao menos conversar com a população. E não
precisa dizer que está errada essa forma de agir.
Para
fazer uma privatização de uma empresa como a Copel, é preciso fazer um estudo
de viabilidade econômica, que no caso seria uma inviabilidade, para justificar
a descontinuação da empresa no âmbito estatal. É preciso também mostrar
justificativas de embasamentos financeiros que demonstrem que a Copel
entregaria resultados e um melhor serviço à população estando na inciativa
privada do que na esfera pública. E também é preciso mostrar os problemas que
justifiquem a mudança radical da Copel de pública para privada.
Além
disso, todos esses estudos devem passar pelo crivo das comissões das casas
legislativas, o que por si só demandaria um bom tempo para debater cada detalhe
sobre o impacto a possíveis consequências em privatizar ou não a Copel.
Como energia elétrica é um produto estratégico
e essencial para qualquer sociedade que seja, é preciso, também, discutir o
futuro da Copel privatizada e a continuação de programas sociais como “luz para
todos” [atender até pequenos povoados de áreas remotas] e “luz fraterna”
[isentar os pobres que não podem pagar pela energia que consomem]. Porque, caso
não se saiba, luz é um direito fundamental.
E
quando joga uma empresa como a Copel para a iniciativa privada, o futuro
empresário não olhará o setor de energia como algo estratégico para o Estado do
Paraná, em que se deve investir para enviar toda uma rede de energia elétrica para
todo o povoado afastado, até mesmo aqueles que vivem em regiões remotas, porque
isso não dá lucro. Além, é claro, que o empresário não irá querer dar luz de
graça para os pobres, porque não é da benevolência do padeiro que se tem o pão
na padaria. Esse crivo fica a cargo do Estado. E o Estado, ao vender a Copel,
não teria esta empresa para fazer tais ações estratégicas e sociais para a
população paranaense. Ou seja, ao privatizar a Copel, programas sociais
passariam a ser financiados por meio do dinheiro do contribuinte e não mais da
empresa de energia que estaria em mãos de terceiros.
Este
que vos escreve é favorável a privatizações, que não significa de modo algum “entreguismo”,
como pejorativamente a esquerda tenta colar em quem é a favor da economia
liberal. Mas, de fato, quando uma privatização é tocada de forma açodada, com a
aprovação sendo célere e de forma atropelada, é preciso tomar cuidado porque a
chance de errar ao tirar a Copel da esfera pública para entregar para a
iniciativa privada pode gerar um problemão para o paranaense, pois, não houve
discussões para uma melhor tomada de decisão.
Diante
a facilidade em aprovar em caráter de urgência a privatização da Copel, Ratinho
Junior mostra que a maioria na assembleia ele já tem. É por isso que não faz
sentido não haver nem mesmo um debate em vários temas correlatos, que vão desde
a questão de viabilidade econômica, impactos financeiros, questões até mesmo
ambientais, para no fim discutir sobre como serão os programas sociais para
pessoas de baixa renda e que moram em áreas remotas em relação ao consumo de
energia elétrica daqui pra frente.
Ao fazer a privatização de forma atropelada,
muito problema que poderia ser evitado por causa das discussões e dos debates
gerados antes da desestatização da Copel, será considerado no futuro como uma “surpresa”
justamente porque não se fez um apanhado de forma holística de toda a situação.
E caso não saiba, a assembleia é o lugar justamente para fazer debates para
evitar tragédias, propor soluções e conduzir o rumo que o Paraná vai trilhar. Portanto,
a probabilidade da privatização da Copel ser ruim para o paranaense, justamente
porque não houve debate sobre toda a situação, é bem alta.
Comentários
Postar um comentário
Comente aqui: