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Traiano: Patrimonialismo. Ou o Paraná é o Lixão do Brasil

 

Por: Júlio César Anjos

 

A Assembleia Legislativa, comandada pelo Ademar Traiano do partido PSD, acaba de aprovar o projeto de lei que permite que o Paraná receba lixo de outros Estados. Só o fato de o Paraná ser o lixão do Brasil já causa espanto. Mas o problema é muito maior que somente a questão legal em si. O problema é da profundeza do patrimonialismo brasileiro.

O patrimonialismo é um conceito desenvolvido por Max Weber que se refere à característica de um Estado sem distinções entre os limites do público e os limites do privado.

O Brasil tem uma falha eleitoral que se chama voto proporcional. O voto proporcional permite que políticos que não possuam muitos votos sejam eleitos mesmo assim. E é nessa brecha que muito poderoso sem voto consegue obter vaga legislativa.

E esse voto proporcional consegue levar para o legislativo – seja a câmara de vereadores, a assembleia estadual ou a câmara federal – políticos com pouco voto, mas muito poder. E o que um político com pouco voto e muito poder faz? Isso mesmo, ele irá advogar por causa própria.

A questão de o Paraná ser o lixão do Brasil vai além da questão mercadológica e legal [legislação] de entregar o serviço de depósito de resíduos.

Porque a moralidade e a vontade das pessoas não estão fundidas somente em questões capitalistas. A sociedade não permite, por exemplo, que se venda rim humano no supermercado, mesmo havendo demanda por transplante. Não permite que se venda pedra de crack na gôndola do supermercado. Porque a moralidade e a vontade do povo não são as mesmas do mercadológico do capital.

Sendo assim, contrariando a vontade da absoluta maioria dos paranaenses que não querem que o Paraná seja um lixão, o Paraná aprovou projeto que permite o Estado fazer isto.

Ademar Traiano tem muito poder e pouco voto. E com o poder na caneta nas mãos, advoga por causa própria. Ele é dono de uma empresa de resíduos e tal lei aprovada por ele mesmo o beneficia diretamente.

Esse é o patrimonialismo brasileiro. Diante vários erros de organização política, que se inicia no voto proporcional, passa pelo poder constituído em controlar a mídia até chegar à questão da sociedade civil organizada estar combalida, todo esse cenário de desalento faz o Traiano, às vésperas da eleição, não se importar com críticas e com a reeleição [porque muito provavelmente pode ser puxado por um puxador de votos]. Ele faz o que quer na assembleia porque não há oposição [e nem instituições operando normalmente para impedir os abusos].

Os tucanos, que fazem oposição fiscalizadora, votaram literalmente contra essa excrescência. Mas ao ser impedido de serem divulgados pelos poderosos, os tucanos estão sem voz nem vez na política, mesmo fazendo o certo ao defender os paranaenses dos conchavos patrimonialistas.

Ratinho Junior também é culpado por esta condição. Não só pelo fato do Traiano ser do mesmo partido político que o governador, mas porque permite que raposas felpudas com muito poder e pouco voto ascendam ao cargo de presidência da assembleia. Sem apoio do Ratinho, Traiano não seria presidente nunca.

Diante todos os fatores expostos no texto, o Paraná é hoje o lixão do Brasil.

 


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