Por: Júlio César Anjos
Há
uma pandemia em curso no mundo. Devastadora. E enquanto essa crise sanitária
não termina, os debates dos mais variados estão sendo introduzidos na
sociedade. E uma delas diz respeito a não se vacinar. Afinal, não se vacinar
significa garantir o seu direito de liberdade individual. O problema é que a
liberdade é um espectro e tem várias fundamentações.
Antes
de entrar no tema da liberdade na pandemia, que se recorra a um fenômeno
conhecido na política: o impeachment da Dilma, para explicar o espectro liberal.
O
MBL surgiu justamente levando milhões de pessoas Às ruas, grupo de pressão
político contrário ao PT. O nome deste grupo é: Movimento Brasil Livre. O
movimento visava uma liberdade econômica, com fim de amarras do Estado - fim de
impostos (quanto custa o FGTS?), de burocracia e liberdade para fazer negócios
no país. Correndo paralelamente com as jornadas do impeachment, havia outro
Movimento Brasil Livre, este criado pelo Olavo de Carvalho, que consistia em
libertar o Brasil do comunismo, do globalismo e da nova ordem mundial.
Enquanto
o MBL levava milhões de pessoas pensando que estava tornando o Brasil livre
economicamente, na verdade as pessoas estavam indo às ruas pedindo uma
liberdade geopolítica.
Deste
modo, retoma-se a provocação no título do texto: Liberdade de quê?
Para
entender essa pergunta, é preciso entender que a liberdade não é monopólio do
individualismo. A liberdade pode muito bem ser algo coletivo.
São
quatro situações de liberdade que se entrelaçam entre individualismo e
coletivismo. São eles:
A
liberdade pode ser o coletivo contra um individuo. O povo contra o rei.
A
liberdade pode ser o individuo contra o coletivo: o homem contra o sistema.
A
liberdade pode ser o individuo contra outro individuo. Sequestro.
A
liberdade pode ser um coletivo contra outro coletivo: Guerras.
[eu
chamo de teoria das quatro liberdades]
Diante
destes conceitos, a pandemia, pela visão dos liberais-conservadores, é o homem
contra o sistema. Já os sociais-democratas entendem que a pandemia é uma
guerra.
O
Coronavirus é um agente sanitário que
ataca em todas as frentes. A pandemia está aí e todos os povos devem
enfrenta-la. E cada qual escolhe a forma como combater.
Os
liberais-conservadores entendem, erroneamente, que as pessoas devem ter
liberdade para não se vacinar. Isso significa, em tradução simples, que os
liberais-conservadores apoiadores do Bolsonaro estão negando veementemente a
pandemia. A pandemia não existe. E se a pandemia não existe, não precisa de
máscara, nem de vacina, muito menos de restrição.
Já os liberais da social-democracia,
mais voltados ao utilitarismo do John Stuart Mill, entendem que se deve buscar
a maior felicidade para o maior número de pessoas. A pandemia existe e é
preciso combate-la. E só se vence essa pandemia se todos cooperarem. Porque
acabar com a pandemia é o principio da maior felicidade do planeta Terra, todos
ficarão felizes quando esta pandemia acabar. É uma guerra. E na guerra sanitária
usa-se máscara, vacina e restrição. Portanto, vencer a pandemia é buscar a
libertação de todos os povos de todas as nações.
É
por isso que a liberdade não é um monopólio do individualismo.
Já
pensou se os homens de uma região evocassem direito de liberdade individual em
não lutar em uma guerra, sendo que o inimigo está nas fronteiras querendo a sua
aniquilação? Não faz sentido algum. Assim como não faz sentido haver uma
pandemia brutal e não ir se vacinar.
O
que os liberais-conservadores não entendem é que a luta hoje é contra um
inimigo aniquilador que mata aos milhões, sendo que todos devem cooperar
[coletivo] para acabar com a pandemia e ter a LIBERDADE SANITÁRIA. A liberdade
de fato só será conquistada quando todos cooperarem fazendo a pandemia acabar.
Até
lá a estratégia é simples: munição [vacina e máscara] e restrição. Assim como
existem quaisquer restrições quando acontecem em guerras.
Além
das vacinas, os liberais-conservadores que defendem o Bolsonaro dizem que o
bolsonarismo defende as liberdades individuais. E aqui vai outra provocação. Quais eram as razões para levar as pessoas no
dia 7 de setembro de 2021, com a seguinte frase: “Eu autorizo!”?
Este
que vos escreve responde: Aquele grupo sectário apoiador do Bolsonaro
autorizava fechar congresso, cassar parlamentares opositores, perseguir
ministros do STF e dar o golpe, instaurando uma nova ditadura militar chamada
de “direita” no Brasil. Bolsonaro só não continuou com a sanha porque sabia que
golpe é difícil de sustentar.
Como
pensava George Orwell: Guerra é paz, Liberdade é escravidão, Ignorância é
força. Agora tem uma quarta expressão: “eu autorizo” é democracia e liberdade.
Enfim,
o bolsonarismo não é liberal. É apenas um grupo de gente que acha bonito não
cooperar com nada. E isso não é liberdade nunca.
Portanto,
fica a pergunta em questão: liberdade de quê?
Liberdade de quê? de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com/.
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