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Coronavírus: As Democracias Referendam as Ditaduras

 

Por: Júlio César Anjos

 

Quem quer que olhe para as informações, ou a falta delas, sobre como lidar com a pandemia do Coronavírus irá concluir, de forma equivocada, que a ditadura conduz melhor a pandemia do que a democracia. E isso, como se sabe, é uma premissa errada e inválida. Porque a democracia, mesmo com os seus defeitos, sempre foi e sempre será moralmente muito superior que a ditadura. Porém, a pandemia deu uma mexida nesse jogo e fez turvar a compreensão moral dos dois modelos políticos em vigor.

Em todos os lugares em que a ditadura está instalada - seja ela a religiosa do Oriente Médio, a nacionalista da África, ou a trabalhista da Ásia – há uma falsa premissa de que nessas regiões tudo está correndo na mais pura paz, numa normalidade incrível, como se a pandemia não existisse. E, por incrível que pareça, a pandemia, nesses lugares, não existe mesmo.

A pandemia não existe na ditadura porque as estatísticas divulgadas são erradas porque não refletem a realidade. Além disso, se os ditadores tiverem que fazer lockdown, o totalitarismo que vem de cima pra baixo garante, pela brutalidade, que as ruas fiquem vazias. E, por fim, o sistema ditatorial impede qualquer ato de insurreição popular mediante opressão do Estado - capitula qualquer ato de manifestação. Ou seja, os números estão errados, o Estado impede direitos de ir e vir e, caso haja protesto, esse levante é abafado pelo monopólio da força no mesmo instante.

Toda essa paralisia social criada por uma prisão coletiva pela ditadura faz com que o ser que viva na democracia veja todas essas características como havendo paz na região ditatorial. E é justamente a falta de informação somada com a opressão que causa inibição popular que faz o morador de uma região democrática achar que a ditadura é organizada, eficiente, eficaz, portanto, o modelo político ideal para a sociedade. Só que o morador do ocidente peca por não saber toda a verdade porque a realidade é escondida do mundo todo, tornando o obscurantismo um trunfo para a ditadura e para o ditador.

É recente a mudança de regime político de ditadura para democracia no Brasil. Há uma lenda política que diz que o Figueiredo, quando estava a assinar a lei da anistia, no qual devolvia a política para a democracia, disse naquele instante: “vou assinar a bagunça”, referindo-se à questão de que a democracia seja uma bagunça. Figueiredo tem razão, a democracia é bagunça. A democracia é bagunça porque é falha. E se é falha, é humana. Ou seja, a democracia é o que mais chega próximo daquilo que é humano. Qualquer outro modelo político que não dê liberdade para os seus cidadãos é desumano – como no caso da ditadura (mesmo falsamente considerada perfeita porque não divulga informação e, por isso, esconde a verdade do mundo e da sua própria população).

Já na democracia, cujos líderes são escolhidos por meio de votação, os condutores do executivo é quem devem conduzir a pandemia diante regras que constam na própria democracia.  Na democracia, a liberdade é um direito inalienável e isso faz com que as informações devam ser livres, o direito de ir e vir deva manter-se ativo e a liberdade de expressão - protestos contra os governos [seja municipal, estadual ou federal] ou manifestações a favor dos governantes, estejam garantidos mesmo em um cenário pandêmico.

Deste modo, então, o maior defeito da democracia é o povo eleger líder incompetente - como nos casos do Brasil, com Bolsonaro, e EUA, com Trump. Quando a democracia escolhe erradamente o seu representante bem num momento de crise global, essa junção faz a democracia ser, teoricamente, menos eficiente que o modelo ditatorial. Tanto Trump quanto Bolsonaro, ao negarem a existência da pandemia reiteradamente, os dois líderes das duas maiores democracias do mundo, ao conduzirem mal os seus povos, fizeram com que o Coronavírus atingisse o patamar de 1 milhão de pessoas mortas, ao somar as mortes nestes dois países em questão.

Porém, uma coisa não se pode negar: as estatísticas, embora assustadoras e horrendas, são de fato verdadeiras porque a democracia tende a ser fiel com a realidade que se apresenta. E isso é um valor moral do mais alto grau que a ditadura não tem como equiparar. E aqui fica uma pergunta para reflexão: você, leitor, acredita em estatística de ditadura?

Agora, em alguns casos, como nesta pandemia mortal, há de se fazer algumas medidas mais duras na democracia, como restringir o direito de ir e vir, - tendo que fechar alguns locais que provoquem aglomerações -, impedir o fluxo de desinformação [um problema de liberdade de informação ser livre], além de ter que restringir até mesmo liberdade de expressão [não deixar fazer protesto numa pandemia]. Mas essas proibições deveriam vir de um consenso político-social que não existiu, haja vista que a democracia, com a sua liberdade libertina, tenda a fazer com que decisões erradas sejam amparadas mediante apoio popular.

Desta forma, com a democracia fazendo vários erros humanitários por causa da sua liberdade libertina, e isso sendo amplamente divulgado porque há liberdade de informação, tal situação reforça a ideia, que o país ditatorial deve manter-se pela ditadura, já que na pandemia os países democráticos não souberam lidar com a catástrofe sanitária global.

Um pensador que queira reforçar a lógica de que a ditadura é o melhor modelo político, em seu país ditatorial, elencaria todos os defeitos da democracia no caso da pandemia para convencer a elite do seu povo que a ditadura, que cerceia liberdades e torna os seus cidadãos pixels ou robôs, como a organização política ideal. 

Portanto, as democracias referendam as ditaduras.

 

 


 

  

 

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