Por: Júlio César Anjos
“Deve, sobretudo, abster-se dos bens alheios, posto que os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio” – Capítulo XVII – O Príncipe - Maquiavel
No
dia 04 de fevereiro de 2021 morreu a mãe
do Luciano Hang, o dono da Havan; e
no dia 12 de fevereiro de 2021 lá estava ele ativo, fazendo ato público contra
o Doria, porque o governador de São Paulo estaria a atrapalhar os seus negócios por causa das medidas contra o
Coronavírus. Tempo de luto? 1 semana. Se alguém tinha dúvida que Maquiavel
funciona, acho que não tem mais.
Por
mais que seja insano, há uma lógica neste tipo de comportamento do Luciano Hang
– o dono da Havan.
A
primeira situação é que as pessoas condicionam a morte como fatalidade, mesmo
fatalidade não sendo. E condicionam a ruina a um culpado, mesmo culpado não
havendo.
Segundo,
que é questão de lembrança e esquecimento diante o tempo. Em um luto, uma
pessoa fica triste: 1 dia triste; 1 mês menos triste; 1 ano menos triste ainda
– porque vai esquecendo. Já em uma ruína, a pessoa fica pobre: 1 dia pobre, 1
mês mais pobre; 1 ano mais pobre ainda – porque vai a cada dia, por causa do
infortúnio, se lembrando da sua precariedade que se deteriora ao passar do
tempo.
E
terceiro, pela questão óbvia de caso entre envolvido x comprometido. Morte e/ou
ruína de qualquer terceiro é envolvimento; já a própria ruína ou estar
condicionado à própria morte é comprometimento.
Note,
também, que o Luciano Hang não está sozinho nessa. Um dono de restaurante
ofereceu 1 ano de churrasco grátis para quem matasse João Doria [porque este
está aplicando medidas para restringir a propagação do Coronavírus].
E
isso é interessante porque em muitos casos de latrocínio não se vê donos de
restaurantes pedindo a cabeça do bandido por ter matado o proprietário do
estabelecimento. E isso acontece porque este tipo de latrocínio é considerado
fatalidade e não ruína.
Portanto,
é por isso que se viu a placa oferecendo 1 ano grátis de churrasco para quem
matasse o Doria, mas não se vê a oferta de 1 ano grátis de churrasco para matar
o bandido que cometeu latrocínio no estabelecimento, por se tratar de
fatalidade.
E,
infelizmente, e essa lógica tem uma justificativa de natureza animal por
trás. É o materialismo que garante a
autopreservação de sobrevivência. Porque se pode sobreviver sem um pai por
perto; porém, não se sobrevive se não puder nem comer [no caso dos empresários,
é pela ganância].
Deste
modo, portanto, como o ser humano esquece a morte do pai, mas não esquece
daquilo que promoveu a sua ruína, as pessoas buscam vingança contra aqueles que
promovem a sua ruina do que aqueles que matam o seu pai.
É
por isso que o dono da Havan, entre outros, gostam do Bolsonaro, mesmo esse clã matando seus entes queridos por causa do espirito genocida do Bolsonaro de não
se importar com proteção contra a pandemia, e odeiam o Doria por estar fazendo
a coisa certa – que é estabelecer medidas ao comércio para conter a pandemia.
E
essa mentalidade vale tanto para os empresários da Havan e do restaurante
quanto para o pobre que precisa do auxílio emergencial para sobreviver.
Nas
camadas mais pobres, os pobres não estão rejeitando Bolsonaro por matar os seus
avós, estão putos porque não têm auxilio emergencial.
Então,
a solução, para estas pessoas, é o Bolsonaro dar auxilio emergencial para que o
povo possa comprar comida ou quinquilharia na bodega do dono da Havan.
Mas
diante tudo isso, por que o Bolsonaro ainda assim é rejeitado? Simples, a luta
contra uma pandemia é um espécie de esforço de guerra, é uma guerra, e Bolsonaro
preferiu fugir como um covarde da guerra ao lutar bravamente, com medo de
perder politicamente com isso.
E
Maquiavel ensina que guerra se evita, mas não se foge nunca – o que é óbvio.
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