Por: Júlio César Anjos
Já
reparou que o cabelo curto no meio feminino virou tendência neste ano de 2020?
É a moda do momento por vários motivos; mas dois fatores são determinantes para
o corte capilar prosperar: Pandemia que fecha desde salão de beleza até crise
econômica que gera idiossincrasias no meio socioeconômico brasileiro. E, como
se sabe, a esquerda sabe analisar e incorporar isto como até mesmo bandeira
política. Já a direita nem sabe o que está acontecendo a respeito. Então é
preciso falar um pouco sobre dada situação.
A
pandemia do Coronavírus no Brasil veio junto com a crise econômica que não
tinha indo embora desde a bagunça do governo Dilma. Desemprego, insegurança,
desigualdade, falta de perspectiva de um futuro melhor fizeram com que o povo
se abraçasse no “mito” Bolsonaro.
Bolsonaro elege-se e entrega um primeiro ano de mandato um resultado
econômico fraco. Começa o segundo ano de governo, após o carnaval, com uma
pandemia para ter que gerenciar. Copia o Trump. Torna-se impopular. E agora tem
que administrar um país em cenário de guerra. Mas aí você pergunta: “o que toda
essa conversa tem a ver com cabelo curto?”. Tudo. Porque, na economia, cuidado
com a beleza não é item essencial, é supérfluo porque não é básico.
Em
economia social, o cabelo comprido custa caro pela manutenção para o pobre em
geral. Pintura, tratamento, alisamento [se for crespo] e efeito crespo [se for
liso], óleo revigorante, xampu, condicionador, penteado e corte em salão de
beleza, tudo isso gera um desembolso financeiro que, em perspectiva anual, cria
uma quantia significativa de dinheiro. E quando chega uma crise que colapsa
tudo, sendo que o crédito é escasso e o desemprego é geral, a solução final é
fazer o corte curto, que cortará os custos de manutenção do cabelo que custa
muito caro pela perspectiva anual. Além disso, dependendo do tamanho do cabelo,
dá para vendê-lo e fazer uma grana mesmo na crise.
E
se a lógica vale para o cabelo curto, também serve para a depilação feminina
[ou a falta dela].
Eduardo
Bolsonaro, certa feita, disse que mulher da direita é mais bonita e higiênica.
Mas a tradução é simples: mulher de direita é aquela de classe média que tem
condições para se tratar. Ou, como circula na internet o humor: “não existe
mulher feia, existe mulher que não usa jequiti”.
Pode
ter certeza que a maioria absoluta das mulheres quer ser ”bonita e higiênica”.
Resta saber o porquê disto não acontecer. Tal fenômeno acontece porque auferir
desembolsos para fins estéticos, no Brasil, é extremamente caro, um luxo que
muitos não podem ter.
O
pobre não tem condição de manter em dia nem mesmo as necessidades básicas, o
prato de comida, quem dirá consumos supérfluos para fins estéticos. E com essa
crise de Coronavirus, então, é que a estética é supérfluo mesmo.
Com
esse problema sem resolução devido à crise tanto econômica quanto de pandemia,
a esquerda compreende esse desarranjo e aborda este embaraço de outras formas,
como no caso de apropriações culturais de costumes. Nesse momento cabelo curto
passa a ser estiloso e sovaco peludo, conceito.
Neste
momento, há de verificar que até faculdade cria, a partir deste ponto de vista,
estilos para que as mulheres, da classe média, não façam depilações, ou
mantenham o cabelo curto, tudo isso pra dizer que o natural é bonito. Na
verdade, o que está por trás é que o natural é barato e, portanto, é a solução
para inclusão da camada pobre pelo caráter humanístico. Se o pobre não consegue
raspar o sovaco e cortar o cabelo, então que sovaco peludo e cabelo curto sejam
o novo normal.
E
paralelo a isso, claro, vem a defesa de bandeira política de que a mulher deve
ser igual ao homem – tanto em raspar o sovaco quanto ter cabelo curto ou
careca.
Como
a direita não entende que há pobreza no país, pois tais agentes vivem em uma
bolha, tal vertente acha que a mulher da classe média, que tende a ser de
direita por ir ao culto e ter certos padrões estéticos e de etiqueta mais
refinados, seja o padrão ideal e que só não busca esse modelo quem é
ideologicamente contrário à lógica do consumo.
Num
país como o Brasil, cheio de desigualdade social, a questão de higiene, por
incrível que pareça, pode ser algo supérfluo, pois, produtos desta natureza são
caríssimos.
A
direita não compreende nada disso e faz critica burra, ao querer fazer
queda-de-braço ao acreditar que ter o sovaco peludo e o cabelo curto seja mais
uma contravenção revolucionária das mulheres do que um mero problema de natureza
de economia social. Mas, na verdade, a direita até pode criticar o sovaco
peludo e a mulher “Maria João” de cabelo curto. O problema é que a
contrapartida tem que vir em reação econômica satisfatória ao ponto de não
haver pobreza. E não havendo pobreza, aí sim poderia dizer que sovaco peludo e
cabelo curto [ou raspado] sejam situações a serem criticadas. Enquanto não vier
recuperação econômica, cabelo curto é a nova tendência da moda, é o novo
normal.
As
mulheres da direita são mais higiênicas? Não. Elas só possuem dinheiro para
manter o padrão de estética e etiqueta. A mulher da direita escolheu se depilar
e o cabelo crescer, ao invés de deixar o pelo crescer e o cabelo raspar para se
solidarizar às manas que não podem tratar os seus pelos. Simples assim. A
esquerda entende situações singelas na sociedade; a direita, não.
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