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Transposição do Rio São Francisco e o Falso Dilema entre Desenvolvimentismo x Liberalismo

Por: Júlio César Anjos

Finalmente foi concluída a transposição Rio São Francisco, obra desenvolvimentista que atenderá uma grande parte da região árida nordestina, levando esperança para os brasileiros aflitos por séculos pela mácula da seca. Uma região em que nada havia além de terra batida agora tem possibilidade de gerar economia viva. Findada a obra, espera-se agora que o capital pelo liberalismo venha a utilizar-se desta construção para obter ganhos e gerar riqueza no nordeste e para o Brasil. Caso esta sinergia se conclua, é possível determinar que o conflito entre desenvolvimentismo e liberalismo seja dilema inexistente. Porque o capitalismo precisa das duas vertentes. 

A transposição do Rio São Francisco levou água para o sertão nordestino. Mas também levou depravação por meio de corrupção àqueles que tocaram essa obra faraônica e de longa duração. Esse problema só aconteceu porque o desenvolvimentismo não é um sistema perfeito. Para os corruptos, principalmente os do PT, era fundamental que a obra estivesse sempre no status: “em construção”. Porque finalizar a obra significava acabar com a riqueza fácil promovida pelo assalto aos cofres públicos. Deste modo, então, a facilidade em estar em posse de grande cifra sem uma boa fiscalização, tal ambiente tornou-se perfeito para que se fizesse corrupção sem ter maiores problemas, como ocorreu com esta obra em questão. Este sempre foi e sempre será o grande problema do desenvolvimentismo brasileiro: grandes montantes de recursos públicos que geram grandes corrupções.

Mas se não houvesse desenvolvimentismo [mesmo com problema de corrupção], o capitalismo liberal por livre e espontânea vontade não puxaria essa obra por meio de lobby por causa de motivos que vão deste receio com impactos ambientais [com razão] até estudo sobre falta de atratividade e viabilidade econômica em fazer esta construção [não dá lucro]. Em miúdos: não vale a pena fazer esse investimento monstruoso [de levar um córrego de Minas até o Ceará] para com isso apenas começar a plantar batata no terreno árido nordestino. Esse é o principal problema no liberalismo econômico: utiliza-se da rua, mas não faz a pista em que fará a utilização. Se dependesse da iniciativa privada [repare esse nome: iniciativa] para construir Itaipú, Belo Monte e transposição do Rio São Francisco – obras fundamentais para o país, porém sem atratividade em si para o investidor em curto prazo –, o Brasil ainda estaria com problemas estruturais básicos para ter que reduzir.

Pelo prisma político, outra polarização: Ciro Gomes acredita, erradamente, que só o desenvolvimentismo é capaz de melhorar as condições dos cidadãos; e pelo lado dos liberais do MBL, só o liberalismo, por uma falsa verdade, é capaz de gerar uma real riqueza para o país. Os dois lados estão certos e errados ao mesmo tempo. Porque há de se fazer desenvolvimentismo em situações em que o capitalismo não considere tal investimento atrativo, mas seja importante que aquela execução seja feita para a nação, como a transposição odo rio São Francisco, que gerou aumento de área agricultável no Brasil, ao dar vida a uma localidade morta pela seca. E há de se fazer liberalismo após a conclusão da transposição, para que a engrenagem econômica possa se instaurar de maneira livre e com dinâmica econômica saudável.

Deste modo, se tudo der certo, não havendo problemas ambientais na transposição do Rio São Francisco [assoreamento do rio], a partir desta obra desenvolvimentista haverá impulso econômico no primeiro setor [plantação de culturas], que puxará o segundo [indústria de insumos e de produção], que puxará o terceiro [venda de serviços ligados aos outros dois setores], gerando o que é chamado de efeito multiplicador na economia. Ou seja, uma fusão entre o investimento desenvolvimentista com o investimento liberal fará a zona morta de o nordeste começar a gerar valor. E por essa fusão dar certo, nota-se que não há conflito entre as duas vertentes [desenvolvimentismo x liberalismo] porque uma doutrina econômica não exclui a outra.  

Muita gente na política discute sobre o caminho que Bolsonaro irá tomar no seu governo: se praticará o liberalismo de Paulo Guedes ou o desenvolvimentismo do tucano Rogério Marinho. É uma falsa dicotomia burra. Afinal, Guedes pode fazer privatização, por exemplo, dos Correios, enquanto que o Rogério Marinho inicia obra, por exemplo, da ferrovia norte-sul. Ou seja, de novo: uma coisa não exclui a outra.

Diante tal falácia, para entender o falso dilema entre desenvolvimentismo e liberalismo no governo, observe este pequeno exemplo: suponha que você, leitor, tem dois filhos. E um precisa de uma camisa e o outro de uma calça. Você irá comprar uma calça para quem precisa de calça e uma camisa para quem precisa de camisa. Você não irá comprar duas camisas ou duas calças só porque você tem que equiparar os dois filhos em ganhar a mesma coisa naquele momento. Com o desenvolvimentismo e liberalismo é a mesma coisa. Tomar um só caminho não faz sentido porque cada região do país tem a sua capacidade e necessidade específica. Como pensava Marx: “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo sua necessidade”. Ou seja, cada um no seu lugar.

Portanto, a transposição do rio São Francisco mostrou que sem desenvolvimentismo [mesmo com corrução] a água nunca chegaria no nordeste por meios econômicos liberais. Todavia, agora deve haver uma dinâmica liberal, sem a presença do Estado, para que a economia possa fluir naturalmente para gerar valor e riqueza nos 3 setores econômicos [primeiro, segundo e terceiro], a fim de se concretizar o efeito multiplicador. Ou seja, não há dilema de escolha ou falso conflito em ter que optar pelo liberalismo econômico ou desenvolvimentismo Estatal. As duas doutrinas econômicas devem fluir juntas para que o país, como um todo pela sinergia, só ganhe com isso. É assim que funciona no mundo todo e não há o que contestar. Enfim, não há dilema nem conflito entre desenvolvimentismo e liberalismo porque as duas doutrinas podem ser aplicadas ao mesmo tempo no Brasil.

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Obs: Se a política não criar nenhum fato novo no qual eu tenha que reagir a respeito, ficarei 3 semanas fora para descansar. Volto só depois do dia 20 de julho de 2020.






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Transposição do Rio São Francisco e o Falso Dilema entre Desenvolvimentismo x Liberalismo de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
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