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O Centrão e o Estelionato Eleitoral

Por: Júlio César Anjos
 
Bolsonaro, recentemente [11/06/20], nomeou para o Ministério das Comunicações [pasta recém-criada que o presidente jurou acabar] um político do centrão. Com isso, ajustou lobby no congresso para manter-se no poder ao blindar-se de um possível impeachment e, assim, ter uma estrutura de base politica e capilaridade eleitoral para sobreviver neste momento de turbulência governamental. O problema é que algo mais grave do que Bolsonaro juntar-se ao centrão é fazer estelionato eleitoral [sendo que o presidente jurou não se aliar a essas forças do congresso em sua campanha presidencial]. Diante tais situações, é preciso fazer uma distinção: fazer acordo com o centrão é até aceitável; estelionato eleitoral, não.

Primeiro, deve-se saber quem faz parte do centrão. Quer saber quem faz parte do centrão? Basta fazer esse pequeno método infalível de investigação. Fale em voz alta o máximo de partidos que consegue lembrar-se de cabeça. Terminou? Sabendo que a política brasileira possui 32 legendas ativas, essas legendas que você nem sequer sabe da existência porque não se lembrou, tais grupos são: partidos extremistas; linhas auxiliares; ou de baixo clero do centrão. E com isso, vale notar, o povão irá lembrar-se de PT, PSDB, PMDB e talvez um DEM. Após isso, a memória começa a falhar. E isso é normal vindo da população porque o partido do centrão é totalmente esquecível porque não defende causa, nem bandeira, nem ato político, esses partidos só querem a fisiologia que a estrutura política lhe satisfaz.  Mas então por que esses partidos existem? Porque o povo, em geral, não vota em partido, vota no político na eleição.

Aliás, esse é o problema de candidaturas avulsas e independentes nos pleitos. A probabilidade, por exemplo, de um Tiger King [dono de zoológico bandido que se candidatou para presidente dos EUA] ser eleito é alta.

Ou seja, o centrão cristaliza-se de fato porque as condições do ambiente de estrutura político-eleitoral permitem a sua existência com essa lógica de 32 legendas ativas no Brasil. Deste modo, enquanto não houver uma reforma política para determinar a condição de apenas 5 partidos, com um parlamentarismo que só aceite o congresso a começar a trabalhar quando o primeiro-ministro tiver maioria para governar, não adianta querer criticar o centrão por criticar. Enquanto estiver nessa bagunça [sem haver uma reforma política consistente], o centrão é legítimo e não adianta querer culpá-lo por qualquer problema que o valha.

Diante disso, ao verificar a próxima eleição brasileira, dentro da situação político-partidária herdada pela eleição de 2018, sendo que houve uma pulverização em fundo partidário e fundo eleitoral para vários partidos fisiológicos [grana para muitos partidos políticos], o centrão com certeza sobreviverá pós 2022. Ou seja, existirá tanto em forma quanto em conteúdo na democracia nacional por um bom tempo.

Desta forma, qualquer ente político que venha, na próxima eleição, com essa conversa de que vencerá pleito presidencial sem precisar de centrão para governar, sendo que, provavelmente, o centrão continuará com 200 cadeiras no congresso e haverá necessidade de criar presidencialismo de coalizão para não gerar confusão, este sujeito estará fazendo o mesmo estelionato eleitoral que o Bolsonaro praticou em 2018. Porque o congresso na próxima eleição será fracionado entre esquerda, direita e centrão NOVAMENTE. E só se poderá governar, ao puxar reformas, fazer mudanças políticas e blindar-se de impeachment com o centrão. É o que é e não há como negar.

Com essa lógica em curso, criticar o centrão para ganhar eleição presidencial, em 2022, assim como ocorreu em 2018, será puro ESTELIONATO ELEITORAL. É enganar na base de sentimento emocional o eleitor, ao criar o malvado centrão considerado vilão do mundo. O estelionato eleitoral é algo pior que o centrão porque é MENTIR para a maioria silenciosa votante, diante de um cenário que não se pode concretizar – o centrão irá existir e não há o que contestar.

Deste modo, Geraldo Alckmin, na eleição de 2018, ao “fechar” com o centrão para tocar a campanha presidencial, o que o tucano fez foi somente mostrar o óbvio: só se governa com coalizão. O candidato do PSDB tentou conscientizar a população que o centrão existe e por isso quem é contrário a esse grupo político está na verdade criando problema até mesmo de governabilidade, após eleição, ao ganhar a faixa presidencial, sendo que Alckmin quis fazer, na verdade, uma espécie de plebiscito parlamentarista ao cooptar o centrão em sua campanha eleitoral. Alckmin perdeu a eleição de 2018 por ser honesto, pelo simples fato de não cometer estelionato eleitoral. Porque, a verdade: centrão = governabilidade. Já Bolsonaro, cometeu estelionato eleitoral – e merecia até impeachment justamente por isso.

Portanto, o centrão é legitimo porque conquista a vaga no congresso nacional de forma honesta pela democracia. É um grupo grande dentro do congresso nacional, fiel da balança para governabilidade, ao tornar verdadeiro o termo cunhado pelo Sérgio Abranches e executado pelo FHC: “presidencialismo de coalizão”. Qualquer grupo político que construa o centrão como um monstro terá problema para governar, caso ganhe a eleição presidencial [porque o povo ensinado a odiar o centrão irá se rebelar]. Porque, ao negar a força deste grupo alheio às ideologias, bandeiras e pautas políticas, quem agride o centrão só está, no final, a praticar estelionato eleitoral. Pois, diante da formatação político-eleitoral brasileira, é preciso do centrão para poder governar. Quem é contra a esta realidade está enganando o próprio eleitor. E, politicamente falando, o estelionato eleitoral é pior que fazer acordo com o centrão.


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Bolsonaro deveria tomar impeachment não porque faz acordo com centrão, mas porque pratica todo dia e o tempo todo ESTELIONATO ELEITORAL.

Eu sou o player político mais contrário ao centrão porque eu quero o fim deste grupo em questão. Eu quero que a política brasileira tenha no máximo 5 partidos, com um parlamentarismo de coalizão.

Quem é contrário ao centrão, mas não quer uma reforma política que faça haver somente 5 partidos políticos com a construção de um parlamentarismo, tal ente opositor está a fazer no fim uma espécie de terraplanismo político.


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