Pular para o conteúdo principal

CANVAS

Por: Júlio César Anjos

“O político só oferta o que o povo demanda” – Júlio César Anjos
 
CANVAS, traduzido do inglês, significa tela. E na política, qual o seu significado? Se perguntar para um engomadinho do Renova BR, político de lousa e ativista de escritório com ar condicionado ligado, ele dirá que se trata de ferramenta de enfoque em modelo de negócios em curso de administração; se indagar para um progressista esquerdista do PSOL, o socialista dirá que isso muito provavelmente é uma arte composta por conjunto de pinturas que formam um todo, chamado de quadro em Canvas para decoração; e para quem é da vida política de fato, a verdade é que CANVAS, em contexto de ativismo prático, tem significado completamente diferente destes exemplos anteriores. CANVAS trata-se de um acrônimo: Centro de Ações Não Violentas e Aplicações Sociais. Mas, afinal, por que está se falando deste CANVAS neste momento em específico? Porque Bolsonaro e Lula estão colocando gente na rua, bem no meio de uma pandemia, para acabar com a democracia; e é preciso pará-los desde já.

O Centro de Ações Não Violentas e Aplicações [em inglês: “Centre for Applied Nonviolent Action and Strategies”] é uma organização não governamental, sem fim lucrativo, e educacional focado em criar estratégias não violentas pró-democracia e contra governos autoritários. A instituição foi fundada pelo sérvio Srđa Popović em 2004, ao criar o movimento estético Otpor!, que significa “resista!”. O CANVAS teve sucesso em vários países como Geórgia (2003), Ucrânia (2004) e Líbano (2005). O CANVAS é exemplo de que se pode agir pacificamente como estratégia política de atuação e vencer por este meio em específico.

Deste modo, hoje, no dia 07 de junho de 2020, a política brasileira está polarizada na rua tanto pelo lado da extrema-direita, com ucranianos e israelenses como sendo patriotas, quanto pela extrema-esquerda composta pela torcida Gaviões, considerada a grei defensora da democracia. Piada à parte, os dois grupos alegam que se deve fazer manifestação até mesmo mais ríspida porque um lado tem que combater o outro. Facções estas que estão levando as pessoas às ruas bem no meio de uma pandemia. Mas há de saber que estes dois agentes de polarização não são diferentes nem na forma nem na essência, os dois grupos querem dividir para conquistar, sendo que os dois polos no fim defendem Bolsonaro e Lula de forma obscurantista e velada em suas ações acomunadas. Como dizia Ulysses Guimarães: “em política, até raiva é combinada”.

Esse cenário de cisão toma como exemplo hoje o que aconteceu no passado com República de Weimar, quando reacionários, comunistas e nazistas dividiam palmo de chão ao colocar multidão na rua, o que não se configurava de forma alguma a ampla democracia, mas, na verdade, o fim dela. Deste modo, é preciso emplacar o CANVAS e também a inserção da contracultura Hippie para detê-los desde já, para que a democracia não caia diante algum autoritário que conseguiu poder por tomar a rua de forma total –seja por imposição violenta e arbitrária ou não.

No Brasil, o grupo que se comporta como CANVAS é o MBL [Movimento Brasil Livre]. Mas o problema é que o MBL é de direita, sendo que o governo atual – Bolsonaro – é autoritário de extrema-direita, o que faz o grupo perder a legitimidade CANVAS de combate contra o autoritarismo e em defesa da democracia. É um dilema que a direita menos radical enfrenta hoje. Já o Vem Pra Rua está mais para fiscal político. Por isso que o CANVAS, hoje, só pode vir com legitimidade por uma esquerda pacífica que não tenha histórico nem doutrina revolucionária marxista, que entenda que a democracia é conviver com as diferenças de coexistência pacífica. Ou seja, uma esquerda que não existe no Brasil ainda [porque se existisse, já teria tomado facilmente o lugar do PT].

Não havendo a esquerda em materialidade [a esquerda pacífica não existe] nem a direita em legitimidade [Bolsonaro contamina a direita como um todo], a solução para acabar com esse extremismo bolsolulista pode vir por meio de inoculação social de contracultura, ao trazer o “new hippie” reformado como nova concepção. Os Hippies, que foram taxados de drogados pela propaganda de desinformação do Sistema norte-americano, conseguiram vencer culturalmente desde ao fazer todos rejeitarem segregações que criavam caos social até impor o fim da guerra do Vietnã. Enquanto Malcolm X criava terrorismo e o Martin Luther King acionava o CANVAS em 1965 [apanhando em Selma e morrendo em 1968], em 1969 o Woodstock fazia a verdadeira política de fim de segregação racial, ao colocar em um mesmo festival tanto a ruiva Janis Joplin quanto o afrodescendente Jimmy Hendrix ao tocarem juntos no mesmo palco, no mesmo lugar. Com isso, é possível que o New Hippie, que é uma espécie de “CANVAS cultural”, seja uma contracultura eficaz contra a tirania Bolsolula que está a se criar.

Não obstante, Misses, em seu Magnum Opus Ação Humana, defendeu a tese de que não agir é um ato de ação. O liberal explicou que nem sempre quando o governo dá estímulos, seja isenção de imposto ou subsídios, o investidor se sente atraído em investir naquele segmento que o Estado quer atacar. E o motivo é simples: o segmento às vezes não é atrativo e por mais que se tenha uma vantagem vinda do governo, o fato é que se aventurar em um canal que pode gerar prejuízo pode ser mais uma armadilha do que um benefício para o investidor. Partindo dessa linha de raciocínio para a política, não ir para a rua significa ser o maior ato defensor da democracia somente por não agir ou reagir a atos extremistas, porque o extremismo que faz chamamento em via pública é armadilha para o fim da democracia.

E diante outra lição muito importante sobre ação e reação, o político só oferta o que o povo demanda. Se o povo demandar violação autoritária, o político ofertará propaganda de revolução. Se o povo demandar a prudência política, o político ofertará a democracia como opção. Porque em política eleitoral, há uma terceira lei de Newton que diz que toda ação do eleitor gera uma reação do politiqueiro vulgar, ao querer atender o seu público pelo populismo padrão. Então, para defender a democracia, basta ignorar as ações hostis e violentas vindas pelos correligionários bolsolulistas que querem acabar com a democracia ao fingirem-se democráticos.

Mas, diante ações e reações sociais, quem faz o povo querer alguma coisa e rejeitar outra? Por óbvio, a inoculação de ideias no meio social. Deste modo, é preciso trabalhar em conjunto e em duas frentes, tanto em ações CANVAS quanto na inserção de contracultura, que neste caso é indicado o movimento hippie, para que o povo peça paz e amor e o político oferte democracia como caminho a trilhar.

Portanto, CANVAS é uma ferramenta de ato pacífico de luta política contra algum tirano ou atitude contra a democracia. Hoje, no Brasil, a democracia está ameaçada por aqueles que querem levar o povo em manifestação em período de pandemia de Coronavirus. Mas estes dois polos que estão a se digladiar nas ruas não são democráticos e por isso devem ser combatidos por um adversário diametralmente oposto ao dos extremistas totalitários. E a ferramenta cultural ideal pode ser o New Hippie, uma espécie de Hippie reformado que cultuará a paz e o amor como valor. E para aderir ao New hippie basta agir da forma como o Misses ensinou: não fazer nada quando o estímulo canaliza para algo ruim. Porque não agir também é agir. E se ir para a rua, teoricamente, significa ato democrático, com extremista chamando para manifestação em via pública o efeito é ao contrário. Deste modo, não ir para a rua é o maior ato de bravura em defesa da democracia.

Por isso, faça ação CANVAS: FIQUE EM CASA!

Não seja fiador da violência; não seja o investidor do caos. A democracia agradece.

Tijolo por tijolo e cheguei neste ano à publicação 60. Cansei.
  

Licença Creative Commons
CANVAS de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.

Comentários