Por: Júlio César Anjos
O
mundo está a mudar pelo aceleracionismo da quarta revolução industrial, em que
as relações entre pessoas e mercadorias estão a ser redefinidas diante uma
composição de uma “nova” sociedade econômica e civil. É salutar compreender que
as mudanças são inevitáveis, e inexoráveis diante a régua história, haja vista
que o homem muda a tecnologia e a tecnologia muda o homem. Mas ao compreender
que a expressão: “novo” não seja um sinônimo de bem e/ou bom, mas sim de
diferente e/ou desconhecido, é compreensível entender que, nas relações
trabalhistas, há sim uma possibilidade de involução causada pelo avanço do
egoísmo de um capitalismo selvagem que não liga para a própria reputação. E em uma
selva sem regulação, os fortes tendem a sobreviver e os fracos a desfalecer.
Há, com isso, de tomar cuidado para a escravidão moderna não prevalecer.
Domenico de Masi, em seu livro: “Uma simples
revolução”, no artigo chamado: “trabalho remoto” [página 125] explica que nos
primórdios o homem trabalhava perto da sua casa. O homem comum não ia mais longe
do seu raio social, que era a limítrofe da sua cidade-nação. Com a globalização
começada pelo mercantilismo e inflada pela revolução industrial, o trabalhador
começa a ser cidadão do mundo, ao ter que ir trabalhar onde a multinacional
assim indica o local em que o trabalhador deve laborar [seja desde a mudança de
uma cidade até a mudança de país]. Essa é uma critica de que o “novo” gera
outros problemas nas questões de relações trabalhistas. Ou seja, como exemplo
em caso local, milhares de trabalhadores, empilhados em metrôs e ônibus
lotados, ao terem que ficar um bom tempo presos nos engarrafamentos nas grandes
metrópoles, e com isso perdem qualidade de vida, tal mudança social-trabalhista
não significa um melhoramento para o trabalhador porque o pobre perde o
bem-estar por causa de sua rotina imposta pelo caos urbano e seu problema de
deslocamento.
Mas
já há um pequeno seleto grupo de trabalhadores que podem trabalhar em casa pelo
chamado home-office. Deste modo, pela não necessidade em ter que se deslocar ao
trabalho, tal situação deveria ser uma grande vantagem para este trabalhador
porque não se desgasta em deslocamento casa-trabalho. O problema é que este
trabalhador tem que ficar em casa e pagar conta mais alta de luz, água, comida,
consumo de internet, entre outros, o que faz com que as empresas repassem essas
despesas para o empregado. Se por um lado ganha em não precisar deslocar-se,
por outro perde por perder a renda.
Ou
seja, a mudança de trabalho diante o tempo não é nem melhor nem pior, apenas
diferente.
No
Brasil, o atual presidente se elegeu com o seguinte bordão: “ou todos os
direitos e desemprego ou menos direitos e emprego”, ao tratar sobre a nova
composição de empregabilidade daqui pra frente. Neste caso, a mudança é de
natureza jurídica perante os direitos trabalhistas. Deste modo, diante pressão
do lobby capitalista para mudanças nas leis do trabalho, o brasileiro já viu desde
reforma da previdência até reforma trabalhista no governo Temer e agora vê a
implantação da carteira verde e amarela que tira 13º, férias e multa por
demissão para os trabalhadores que forem enquadrados na lei para aderirem esta
nova modalidade.
Ora,
se o Bolsonaro faz uma correlação – sem lógica nenhuma – de que basta reduzir
os direitos trabalhistas que haverá aumento de emprego - que serão, em tese,
gerados pelos capitalistas -, há de esperar que o Brasil entre no curto prazo
no pleno emprego. O fato é que essa correlação é inexistente e burra porque a
empregabilidade está relacionada à educação e produtividade. Nenhuma empresa
fecha a sua fábrica, por exemplo, na Europa para instalar-se na América
tropical só porque o país europeu possui mais direito trabalhista que o latino.
Mas, divaga-se sobre isso, que se espere pelo milagre.
E,
vale lembrar, Domenico de Masi também cita a célebre frase do Warren Buffett em
seu livro: “há guerra de classes, com certeza, mas é a minha classe, a classe
rica, que está a fazer a guerra, e estamos a ganhá-la". Vale mencionar
que, ao contrário do que a esquerda prega – que teoricamente o Warren Buffett confessou ser o vilão -, Warren na verdade fez esse comentário com tom de
crítica negativa aos ricos. Mas os ricos de hoje parece que querem realmente
avançar nessa nova situação social, em que os trabalhadores perdem qualidade de
vida, direitos, até a existência só para o capitalista lucrar cada vez mais. Muito
magnata capitalista acredita que a frase crítica do Buffet seja um caminho a
trilhar.
Diante
tais fatos, há de esperar o pleno emprego. É a realização do “novo”
que está a eclodir. Caso contrário, espera-se reação da massa trabalhista. E se
a reação não vier, que o trabalhador aceite trabalhar fora de casa como o
escravo da fazenda capitalista ou dentro da própria residência pelo “home-office”, que virará a senzala desta
nova escravidão moderna.
Neste
cenário, nem precisa instalar o AI-5. O povo já aderiu atos institucionais por
adesão e sem reclamar. A frase de Warren Buffett prevaleceu.
***
É por isso que não sou trabalhista subserviente - coisa de petista resignado. Se trabalhismo subserviente desse resultado, eu seria trabalhista sem pestanejar. Estou além do trabalhismo. Portanto,
está na hora de refletir. Está na hora de pensar.
Trabalhismo Subserviente: Escravidão Moderna de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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