Por:
Júlio César Anjos
A
pandemia do Conavirus está a gerar uma crise econômica maior do que as vistas
no período de 29, tempos de guerras e em momentos de tensões da guerra fria. Em
miúdos, este vírus está a gerar a pior recessão da era contemporânea. Como a
única forma de mitigar esta doença se dá pelo isolamento social, essa ação pode
causar impacto no capitalismo e o seu sistema global, o que indica, caso o
vírus não suma espontaneamente ou não se encontre uma vacina, em até uma mudança
do modo de vida do mundo de forma total. E com isso, seria necessário aplicar o
nacionalismo tribal: fechamento total de fronteiras para impedir livre circulação
de pessoas e, também, de mercadorias. Essa nova configuração social mundial seria
algo bom ou ruim para o Brasil? Seria péssimo. Há de embasar sobre isso.
Primeiro, que num nacionalismo tribal, de
fechamento total das nações sob a égide dos próprios interesses dos seus
países, o primeiro país a sumir do mapa seria a Suíça. Segue introdução do
livro Axiomas de Zurique, de Max Gunther:
“Vejam o quebra-cabeça
que é a Suíça. Essa minha terra ancestral é um lugarejo pedregoso, com uma área
menor que a do estado do Rio de Janeiro. Não tem 1 centímetro de litoral.
É uma das terras mais
pobres em minerais que se conhece. Não tem uma gota de petróleo que possa
chamar de sua e mal consegue um saco de carvão. Quanto à agricultura, o clima e
a topografia são inóspitos a quase tudo.
Há trezentos anos a Suíça
se mantém fora das guerras europeias, principalmente porque, durante todo esse
tempo, não apareceu um invasor sequer que realmente a quisesse.
Com tudo isso, os suíços
estão entre as pessoas mais ricas do mundo. Em renda per capita, comparam-se
aos norte-americanos, alemães e japoneses. Sua moeda é das mais fortes do
mundo.
Como conseguem isso?
Conseguem-no porque são
os investidores, especuladores e jogadores mais espertos do mundo. “
No
nacionalismo tribal, em que tudo é fechado, ser “investidor, especulador e
jogador” mais esperto do mundo não adianta nada. Portanto, a Suíça sumiria do
mapa global.
Já
na parte “oeste” do mundo, o Brasil tem litoral, agricultura e até petróleo do
pré-sal [um petróleo ruim, mas tem]. E o mais impressionante é que se for
verificar a riqueza da floresta tropical, constatará que, na parte de minérios,
a tabela periódica na Amazônia é uma cartela de bingo. Tem desde Nióbio até
Ródio [com número atômico 45]. Ou seja, o Brasil não tem nenhum problema de
recurso natural e mineral apontado pelo Livro Axioma de Zurique.
Portanto,
o Brasil teria teoricamente vantagem nesse fechamento do mundo, diante um
nacionalismo tribal. O problema é que essa linha de raciocínio está errada.
Há
uma equação simples em se tratando em geopolítica global: + Nacionalismo = + Guerra
[mais nacionalismo é igual a mais guerra]. Porque a lógica é simples: País que
nada tem tenderá a capturar, até mesmo por meio de guerra, recursos minerais e naturais
do país que tudo tem. Essa regra é assim desde que o mundo é mundo.
E
nesse sentido, o Brasil, diante a sua extensão territorial diversificada, com
uma defesa de fronteira inexistente [o país não possui nem mesmo bomba nuclear
armazenada], seria o palco perfeito para os conflitos nacionalistas desta nova era
de “guerra fria” de nacionalismo tribal. Se o nacionalismo fosse um mero
disjuntor que basta pressionar pra cima que se abre e pressionar para baixo que
se fecha - fronteiras e negócios -, até este que vos escreve seria nacionalista
ferrenho.
É
por isso que o armistício de “paz mundial” se dá pela cooperação desta
globalização capitalista. Pela lógica de Adam Smith, que funciona de fato, os
países fazem a chamada “vantagem comparativa” ao trocarem mercadorias e, com
isso, há uma harmonia de colaboração entre nações.
Além
disso, para ser nacionalista é preciso escolher. E toda vez que se faz
escolhas, há renúncia daquilo que foi descartado ou não escolhido. Deste modo,
para aplicar o nacionalismo tribal é necessário acabar com subserviência aos EUA
[desligar desde as empreiteiras cibernéticas (twitter, facebook, Google)] até
qualquer outro tipo de ajuda por essa esfera de influência entre as Américas; e
no caso da China, é preciso deixar de vender grãos como somente commodities e
partir pela lógica que comida é estratégia de segurança alimentar, ao valorizar
[encarecer] essa produção.
Como
isso está fora de cogitação, então o nacionalismo tribal será impossível de
implantar; mesmo com Coronavírus obrigando a fazer isolamento social.
Portanto,
teoricamente um nacionalismo tribal teria tudo para fazer do Brasil um país com
vantagem referente aos demais porque em toda a sua extensão territorial há diversidade
de uma natureza que tudo dá, em se tratando de recursos minerais e naturais. Mas
na prática, mais nacionalismo significa mais conflitos, pois os países que não
têm vão querer tomar à força os recursos dos que tudo têm. E como o Brasil tem
uma extensão territorial continental sem uma boa defesa de fronteira [nem bomba
atômica tem], o fato é que o nacionalismo tribal faria com que o Brasil
sofresse mais do que atualmente sofre. É por isso que ufanismo nacionalismo,
diante tais situações globais, é coisa de gente bobinha que acha que o mundo
aceitaria a desigualdade global sem nem mesmo lutar.
***
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/rivais-dos-eua-dao-demonstracao-de-forca-militar-na-crise-do-coronavirus.shtml
É
por isso que não sou nacionalista ufanista. Pois é.
***
Mas
se por um fenômeno surreal acontecer do mundo se fechar pelo nacionalismo
tribal, fazendo o Brasil também ser nacionalista ufanista, o PSDB se adaptaria
tendo até mesmo slogan: “Em terra de Tucano, Águia Careca não voa.”.
Nacionalismo Tribal? Nem Pensar! de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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