Por: Júlio César Anjos
Paulo Guedes,
recentemente, ironizou sobre o fato de até doméstica num passado não muito
distante passar as férias na Disney, o que é uma falácia [pobre não sai do seu
raio social], para dizer que a moeda Real seguirá desvalorizada para que o país
volte exportar. Essa linha de raciocínio econômico não é fato novo e por isso
não causa estranheza para ninguém que é da área em questão e que compreende sobre
essa lógica de decisão. Na época da ditadura militar este era o modus operandi
econômico como “sucesso” a trilhar: desvalorizar o câmbio para poder exportar.
Mas, afinal, esse modelo é bom? Não é. É um fracasso por si só. É a desgraça
chamada “Tipo: Exportação”.
A
década de oitenta fora a época do fracasso da ditadura militar somada a uma
transição pelo governo PMDB – partido biônico da ditadura. Um período péssimo
em todos os sentidos. O maior ano de crise da Dilma foi fichinha perto dos anos
80, economicamente falando. Quanto a isso, não há nem comparação. E isso não é
defender a Dilma ou o PT; é só uma constatação sobre resultados dos militares
que trouxeram uma hiperinflação nível Venezuela para o Brasil. Isso está
registrado na história e não há como negar.
Mas
como toda regra há exceção, o período ditatorial foi maravilhoso, ao menos,
para os exportadores nacionais. Como a moeda estava monstruosamente desvalorizada,
exportar era a galinha de ovos de ouro para o empresário brasileiro.
O
problema é que o Brasil sempre foi improdutivo. Sempre. Então, para atender o
mercado global com a exportação, faltava produto na gôndola do supermercado no
âmbito doméstico. Tudo era caro no mercado, até a carne e o arroz de terceira –
que era o que o brasileiro conseguia demandar para consumir para poder se
alimentar.
Toda
a qualidade de produção era escoada para fora do país. E aqui só ficava o resto
para o povo comprar.
Mas
uma parcela pequena de produtos, comestíveis ou não, ficava retida no Brasil
para ser vendida para a classe média alta do país. Tratava-se do fenômeno
chamado: “Tipo Exportação”.
O
“Tipo Exportação” era uma pequena quantidade de produto de ótima qualidade de
produção brasileira que permanecia no Brasil ao ir para a gôndola de
supermercado, com um valor altíssimo, em que só alguns afortunados podiam
pagar.
E
por ser um produto considerado “sofisticado” porque só alguns poderiam consumir,
realmente havia desde a informação da gôndola até no rótulo do produto o slogan
de fato: “Tipo Exportação”. Escrito em letras grandes e até mesmo de forma
chamativa. Existia todo um marketing em cima do tal “Tipo Exportação”.
Então,
existiam na ditadura militar 3 tipos de produtos que atendiam 3 classes
específicas diferentes: 1) Importados para as elites [para os ricos]; 2) Tipo
Exportação para a classe média alta; 3) a sobra da produção nacional para o
resto.
Essa
sobra da produção nacional para o resto evidenciava dois problemas: 1) o
empresário via que não valia a pena atacar o mercado nacional devido à
hiperinflação descontrolada [trabalhar com a moeda nacional era até mesmo
arriscado – por isso a dolarização da exportação era o ideal]; 2) não havia
produtividade para atender a demanda doméstica porque os empresários brasileiros
sempre foram improdutivos.
Essa
loucura só acabou quando Fernando Henrique Cardoso [FHC], como Ministro da Fazenda,
quando criou o Plano Real e depois, como presidente, defendeu a valorização da
moeda e o aumento de poder de compra do brasileiro em geral. O Plano Real
inverteu a lógica, valorizou a moeda nacional e fez com que o empresário brasileiro
tivesse que concorrer com os importados [é por isso que até hoje tem empresário
que não gosta do FHC e do PSDB]. Entendeu por que o sistema não gosta de
tucano?
E o Paulo Guedes, com essa lógica de
desvalorização para exportação, pode trazer essa bagunça dos anos 80 para os
dias atuais.
Mas
aí, alguém dirá: “mas não há hiperinflação em curso e a produtividade pode ser
aumentada com tecnologia”. Esse é um pensamento errado, infelizmente.
Porque
embora a paridade hoje Real x Dólar esteja em uma condição de 4:1 [quatro para
um], o fato é que o Dólar em quantidade espalhada pelo mundo distorce o
verdadeiro valor da moeda norte-americana ao espraiar-se pelo mundo, o que faz
os EUA conseguir exportar inflação. Ou seja, o Real é quatro vezes mais
desvalorizado do que a moeda norte-americana que está amplamente desvalorizada por
sua imensa quantidade mundo afora. E, por causa disso, nem todas as moedas
entram nessa lógica de valorização do Dólar. Basta verificar que o Euro hoje é mais forte
que o Dólar.
E
no campo da produtividade, embora a tecnologia tenha ajudado o empresariado
aumentar a sua produção pela oferta, o problema é que a demanda global também
cresceu exponencialmente ao entrar a China neste mercado de consumo
internacional com a quantidade populacional na ordem de bilhão [Índia também].
Ou seja, aumentou a produção pela tecnologia, mas também aumentou a demanda no
mundo todo.
Paulo
Guedes prometeu salvar as empresas apesar dos empresários. Talvez realmente
consiga fazer isso. Mas em troca, fará com que toda a população nacional perca
poder de compra só para atender uma elite produtiva que não é tão produtiva
assim. Afinal, se os empresários precisam que o Brasil todo empobreça para
vender os seus produtos, então esses produtores são péssimos em produtividade
global. E por causa desse delírio maluco desse “Chicago Boy”, o brasileiro terá
que pagar com esse devaneio ao empobrecer sem parar.
Porque
nenhuma nação do mundo prospera com moeda fraca.
Portanto,
diante os dois fatores citados, tanto na possibilidade de um descontrole de
câmbio causando inflação quanto à produtividade que não atende a demanda feita
pelos empresários brasileiros, o fato é que pode ocorrer de volta o fenômeno: “Tipo
Exportação”, em letras grandes, nas gôndolas e nos rótulos dos produtos
nacionais. Seria a volta do caos.
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