Por: Júlio César Anjos
A Professora Margarida, de pele branca, encosta a sua
palma da mão na palma da mão da sua aluna Beatriz, de pele negra, e pergunta
para outro aluno, o Carlos, de pele miscigenada, sobre o que ele estaria vendo.
Eis que Carlos responde: “A sua mão, professora, é maior que a da Beatriz”. A
resposta poderia ser que a mão da professora é branca e da aluna é negra que também
estaria correta a elucidação. Mas as crianças dão outras abordagens de respostas
por não ter vícios, o que faz a inocência gerar uma solução mais sensata do que
as premissas dos adultos. E é isso que esse texto propõe: dar uma resposta sem
vício sobre a questão de segunda instância, pois, este que vos escreve não
entende nada de área jurídica. Mas entende de política e as nuances do poder.
Primeiro, os fascistas tentaram convencer a população de
que se deveria aumentar o número de cadeiras do judiciário. Mas logo o povo
entendeu que isso era um golpe estilo Hugo Chaves e rejeitou a ideia. Depois,
tentaram fazer impeachment de Ministro do STF. E como para fazer impeachment de
Ministro de STF precisa de massa amorfa, e não de grupo com bandeira partidária
sectária, o avanço também não teve sucesso. E, por fim, a solução:
descentralizar o poder judiciário pela prisão em 2ª instância. Está prosperando
porque muito inocente útil está caindo na armadilha totalitária.
Foi Montesquieu o pensador que entendeu sobre a composição
da tirania e criou a lógica de dissolução de força pela tripartição de poder:
executivo, legislativo e judiciário. Ou seja, Montesquieu já entendia a lógica
deste blog: “não dê mais poder para quem já tem”. Note-se que a construção
desta lógica de ordenamento estabelece que essa tripartição faça com que os
pilares tenham PODERES IGUAIS para que possam ser pesos e contrapesos da
estrutura de uma região. E o que a prisão em segunda instância está fazendo é
promover desequilíbrio de força ao descentralizar o judiciário e, com isso, faz
o executivo ter um poder maior que o normal.
No Brasil, o poder da tripartição está centralizado em
Brasília. O executivo é centralizado pelo presidencialismo, o legislativo é centralizado
pelo sistema bicameral e o judiciário pelos Tribunais Superiores [Militar,
Federal e Justiça].
Com a prisão em segunda instância, o poder judiciário
descentraliza-se e o executivo ganha força. E o legislativo? Bem, o legislativo
ficará entre a cruz e a caldeirinha. Porque a partir do momento que a segunda
instância comece a vigorar, o deputado federal e o senador serão acossados
pelos poderes de tribunais regionais [é disso que se trata], sendo que tem que
ir pedir dinheiro e penico para o executivo que estará centralizado em recursos
financeiros e monopólio da força no governo federal.
Ou seja, o judiciário fica com poder descentralizado porque
pode prender desde político até empresário, o executivo fica com poder centralizado
por causa do monopólio da força e da grana, e o legislativo fica no LIMBO por estar no meio desses dois campos de poder. O
que está se propondo nesta configuração é simplesmente acabar com o
legislativo. E acabando com o legislativo, que é a casa do povo, a democracia
vai ruindo. O engraçado é que muita gente com boa intenção não vê isso.
Note-se
que o grupo judiciário acha que poderá ter um poder maior fazendo pressão de
baixo para cima [dos estados da federação pressionando a união] e o executivo
acha que poderá ter um poder maior porque diluiu o judiciário em força pela
descentralização. A única coisa que os dois concordam é com o enfraquecimento
do legislativo, portanto, com o fim da democracia.
A solução, deste modo, é simples. Se o objetivo é descentralizar
o judiciário com a prisão de segunda instância, que é realmente uma bandeira
interessante, o que resta fazer é também descentralizar o executivo e o legislativo.
Desta forma, a tripartição de poder, embora descentralizada, não ficaria
capenga com um poder superior ao outro.
Como fazer a descentralização do executivo e do
legislativo? Com a implantação de novos distritos federais.
O modelo atual de centralização da União faz com que a
máquina pública torne-se ineficiente – o dinheiro simplesmente desaparece no
buraco negro chamado Brasília. Descentralizar no estilo “Estados Unidos do
Brasil”, ao copiar o modelo norte-americano, em que cada ente federado tem a
sua própria autonomia também não é interessante porque gera muita divisão
[embora seja melhor que a centralização atual]. E assim como há já no Brasil a
1ª, 2º, 3º... Turmas das regiões federais do Judiciário – tendo o STF e STJ
como órgãos centralizadores situados em Brasília para decidir questões
esporádicas -, é necessário também fazer essa descentralização no executivo e
no legislativo nos mesmos moldes do judiciário. Descentralização de executivo e
legislativo também por regional.
Muita gente atribui mudança da prisão em segunda
instância dizendo que os EUA, por exemplo, usam de tal condição. O problema é
que o argumento é falacioso porque na estrutura norte-americana a
descentralização se dá pelo pacto federativo, ou seja, cada estado é realmente
um país com leis e recursos próprios. Então faz sentido haver prisão em segunda
instância porque a tripartição de poder é descentralizada nos EUA.
Então, nos EUA, o judiciário é descentralizado. Só que o
legislativo e o executivo também são descentralizados. Porque o voto é em
colegiado. E se o leitor não acredita nisso, saiba que a Hillary Clinton teve
mais votos majoritários que o Trump, mas o republicano tomou posse porque
capturou mais apoiadores chamados de “delegados”
que se comportam como o poder
descentralizado de um parlamentarismo. Portanto, não é tão absurdo assim
dizer que o presidencialismo
norte-americano é um parlamentarismo velado.
Portanto, é justamente o legislativo, a casa do povo, que
irá se enfraquecer nesta nova composição porque de um lado será acossado por um
judiciário regional com poder de mais, e de outro terá que pedir penico para um
executivo com centralização de recursos financeiros [grana] e monopólio da
força. E, deste modo, a democracia corre perigo por causa desse desmonte de
nivelamento de poder na tripartição, em que o judiciário ficará muito forte
regionalmente, o executivo forte centralizado e o legislativo sem força nenhuma
porque é considerado um antro de corruptos.
Não é só prisão em segunda instância; é poder. Não dê mais poder para quem já tem.
***
DESCENTRALIZA
TODOS OS PODERES OU
não descentraliza NENHUM!
***
Obs1: Abrangência de poder de milícia no âmbito nacional
aumentando.
Obs2: Empresários tubarões já identificaram toda essa
bagunça e já saíram do país.
Obs3: A mídia está cada vez mais CENTRALIZADA
internacionalmente por mídia social. É por isso que Bolsonaro comporta-se como
um PET do Trump.
***
Major Olímpio está se babando com a
possibilidade de implantar isso no Brasil.
Prisão em 2ª Instância: Outra Perspectiva de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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