Por: Júlio César Anjos
Antes
de perguntar: “quem matou Adriano da Nóbrega?”, é preciso responder sobre quem
criou o miliciano fugitivo morto na Bahia. Porque quando se faz a pergunta
errada, é óbvio que a resposta não trará satisfação. E não trazendo nem mesmo explicação,
não elucidará o que está em curso, fazendo com que aqueles que mataram o Adriano
saiam impunes porque tais agentes souberam enganar toda a sociedade em geral,
toda a nação, ao criar um produto de milícia padrão.
Qual
é a condição para fazer um Adriano da Nóbrega? São vários os fatores que moldam
a existência de um bandido fardado que tem como alcunha: miliciano. As
principais características são o dinheiro e o status.
A
sociedade, ao votar por longo tempo no PT, infelizmente criou a pressão necessária
para a geração de milicianos. Com a incapacidade de fornecer o mínimo de
estrutura nacional de segurança, fazendo com que os Estados tivessem que agir
de forma desconectada no estilo: “cada um cuida do próprio jardim”, tal
situação fez com que os índices de criminalidade explodissem nacionalmente por
causa da bandidagem podendo fazer o que quiser porque o PT com segurança não
estava nem aí.
Como
explode a criminalidade, e a sociedade fica refém da bandidagem [contando com
os próprios policiais mortos sem parar em combate por falta de investimento e
estrutura], há essa pressão ideal para começar a fazer um miliciano em escala: fardados
que, por incentivos diversos, começam a se unir.
Essa
aniquilação do meio policial, além da falta de investimento e estrutura para a
segurança, faz com que se aumente a aliança entre os policiais que sofrem por
estarem neste meio que massacra os operadores de segurança. Neste momento, um
policial militar de São Paulo, por exemplo, presta solidariedade ao militar do
Rio de Janeiro. O policial do Pará compreende o infortúnio do militar de Santa Catarina
e por aí vai.
Essa
solidariedade entre os fardados cria um sentimento de pertencimento. E essa
união começa a dar liga para que o policial comece a fazer coisas além da sua
alçada natural. Como o futuro desse policial é morrer e ganhar mal, além de ser
maltratado por ser chamado de fascista [sendo que não era, mas por causa das
condições irá de virar], então tais agentes unem-se porque é a única solução de
sobrevivência da categoria. E a partir deste momento, qualquer extrapolação dos
amigos de armas não é algo mais condenável entre os seus pares porque já que os
militares são considerados vilões, então que sejam os malvados favoritos.
Diante
das circunstâncias, a sociedade precisa dessa classe profissional para não
ficar refém das hostilidades ocasionadas no dia a dia. E se pelo âmbito formal
do Estado a segurança não funciona para pegar os bandidos, ao criar-se a milícia
por causa desse vácuo de poder, a polícia formal não conseguirá resistir [ou não
vai querer] ao enfrentar milicianos. É meio óbvio: se o Estado, com a segurança
formal, não pode com bandido pé-rapado, não pode com grupos organizados de
militares que se juntam para ganhar dinheiro. E como surge esse vácuo, o bem
pecuniário vira incentivo para o avanço da audácia miliciana.
Então
esse grupo de militares cobra um ágio, ou um pedágio, para fazer o trabalho que
a segurança formal não consegue: “servir” e “proteger”. Bitributação em nome da
paz social.
Sendo
assim, como o miliciano começa a ter poder no seu raio de atuação, este
marginal [está à margem da lei] avança em estruturação. E a partir deste
momento, há até mesmo igrejas, políticos e pensadores defensores da milícia, como
se tal grupo fosse uma equipe de virtuosos que só querem o bem da sociedade. É
por isso que Bolsonaro sempre condecorou miliciano, além de muitas igrejas
evangélicas enaltecerem tais grupos paramilitares.
O
problema é que o miliciano precisa por um lado que o estado Formal fracasse e
por outro lado haja criminalidade para poder atuar à margem das instituições.
E
se por um momento a sociedade aceitou o miliciano como uma alternativa provisória
para conter os abusos dos criminosos, após verificar que é a milícia agora quem
pratica tais crimes por ter tomado o lugar dos bandidos, mas fazendo aquela (com)fusão
entre Estado e grupo paramilitar marginal, as pessoas começam a pedir solução
de segurança formal do Estado.
E
nesse momento, mesmo que subliminarmente, o povo já começa a clamar por um
Sergio Moro para conter a atuação do clã Bolsonaro. O que não vai ocorrer.
Ou
seja, o povo começa a pedir algo que é quase impossível: que os amigos de
forças armadas abandonem o sentimento de pertencimento. Um sentimento de
pertencimento que se aprofundou no governo petista porque os esquerdistas
maltrataram as instituições de segurança a tal ponto que se criou uma milícia marginalizada.
Uma milícia marginalizada que a segurança formal entende, por causa do Sistema,
a sua existência e não a quer deixá-la ser taxada como a vilã da história.
Deste
modo, fica fácil a elucidação. Quem matou Adriano da Nóbrega? Foi a polícia. Ou
seja, a polícia matou um ex-policial. E, a partir deste momento, esqueça esse
negócio de governo petista da Bahia, isso é álibi para narrativa ideológica, e
concentre-se no óbvio: a queima de arquivo. O sentimento de pertencimento do
militar [que talvez seja miliciano nas horas vagas] matou Adriano da Nóbrega
para morto não falar. Em compensação, Bolsonaro pode ficar tranquilo porque não
haverá delação. Mas isso tem custo. O custo é aumentar poder da milícia para a
milícia continuar a ter dinheiro e status. Aumentar o poder.
E
aí você, leitor, descobre que o poder [qualquer poder, seja econômico, político
e militar] gira em torno de duas bases: dinheiro e status.
Deste
modo, o líder da milícia conseguir mostrar que tem capacidade de matar, sem
precisar sofrer porque não levará a culpa, é o maior ato de bravura que um
estado fascista miliciano poderia conquistar. E a condecoração, ao invés de
estrelas nos ombros ou insígnias no peito, é a capacidade de conseguir
controlar uma região, deixando todo esse povo refém de fardado, além de domínio
de riquezas como controle de tráfico de armas e drogas, para acumulação de
patrimônio como troféu de domínio próprio. Ou seja, a honra e o mérito são lastreados
pelo patrimônio acumulado do miliciano em atividade; quanto mais o miliciano é
rico, mais tem status e é respeitado pela comunidade policial.
O
capitalista fica rico com investimento privado na produção. O miliciano
enriquece com morte a serviço do sentimento de pertencimento da farda, que traz
benefícios pecuniários e de status aos mercadores da morte.
***
E
sobre a piada das forças armadas serem social-democratas:
As
forças Armadas no poder nunca poderão ser social-democratas. Porque as forças
armadas ao fazer fusão com o poder político só podem ser: fascista, nazista ou
comunista. O Sistema está confundindo você porque quer o poder total:
totalitário.
O
máximo que as forças armadas podem fazer em benefício da democracia é se
retirar da política. Já se retiraram? Não? Então são no mínimo fascistas.
Simples assim.
Porque
as forças armadas estão emprestando a credibilidade da farda para miliciano
corrupto. O nome disso é sentimento de pertencimento.
***
Obs1:
A disputa não é Lula x Bolsonaro [dois totalitários]; é Fascista x Civil.
Obs2:
Vai chegar uma hora que Estado Formal [Moro] terá que confrontar a milícia
marginal [Bolsonaro]. Não haverá confrontação. E aí, você se perguntará: Moro
não confrontará Bolsonaro por que não pode ou por que não quer?
Obs3:
Teoria da conspiração ou não, os EUA sempre gostaram de usar grupos
paramilitares para avanços de poder nos países em que queria dominar. Osama Bin
Laden que o diga.
Milícia: Criação de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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