Por: Júlio César Anjos
É
engraçado como a nova tecnologia recebe peculiaridades de outras mídias
obsoletas. A rádio que nos primórdios possuía o ouvinte famoso deu lugar para o
individuo que tinha os seus “15 minutos de fama” na TV. E a personagem que
tinha “15 minutos de fama” na TV deu lugar para a “publicação viral”, aquela
que o anônimo fica famoso na internet por ter expandido em popularidade em uma
publicação somente. Ou seja, pela lógica social de comunicação, a mídia velha
exporta para a nova esse cacoete de popularidade em personagem desconhecida, o
que é realmente curioso de se constatar.
“Bom
dia seu João, bom dia dona Maria”, era assim que a rádio começava a programação
matinal ao se comunicar com os seus ouvintes. E para aumentar a humanização, o
áudio sempre tinha, todas as manhãs, uma ouvinte ilustre que estava lá batendo
ponto ao conservar uma boa conversa com o locutor-âncora ao promover o episódio
do dia. Um simples anônimo tornava-se famoso, mesmo todo mundo não sabendo a
sua fisionomia, essa celebridade desconhecida ajudava o programa entreter todo o
público ouvinte sem parar. O programa era o que havia de mais importante,
óbvio, enquanto que essa ouvinte famosa, embora ajudando o entretenimento a permanecer
no ar, era totalmente substituível e até descartável. Mas pelo menos era uma subcelebridade
que tinha alguma serventia.
Da
rádio para a TV, a audiência não podia parar. E como já bem observava Gabriel, O
Pensador: “A programação existe pra manter você na frente / Na frente da TV / Que
é pra te entreter / /Que é pra você não ver que o programado é você!”. Então a
utilidade da mídia serve para distração e controle por meio de manipulação. O
que não é novidade. Assim como também não é novidade a atualização da
celebridade anônima da rádio que virou a figura pública nacionalmente famosa pelo conhecido: “15 minutos de fama”. O "15
minutos de fama" é uma expressão retirada de uma frase de Andy Warhol, nos anos
60, que dizia que: “no futuro, todos terão 15 minutos de fama”, ao comentar sobre
sua obra baseada em acidente de carro.
Deste
modo, jogador de futebol de time pequeno que joga bem contra time grande,
subcelebridade de BBB [Big Brother Brasil], cantor de interior que estoura em
popularidade uma música somente, e até mesmo escritor que dá entrevista para um
talk show, todos estes viravam rapidamente celebridades instantâneas que a TV
criava ao dar espaço de visibilidade na sua programação de grade. Eram pessoas ou grupos que apareciam repentinamente e logo em seguida caiam no esquecimento, o que
fazia tais indivíduos ter os seus 15 minutos de fama, avalizando a previsão de
Warhol.
E,
deste modo, novamente muda a tecnologia, a TV torna-se obsoleta e dá lugar à
nova era do meio digital que fornece serviços na internet. E os 15 minutos de
fama também se transforma e se adapta para a nova realidade da nova era ao
possuir algumas modificações. Agora, a celebridade da internet tem uma “publicação
viral” que “lacra” ou “oprime”, que evidencia uma sabedoria ou uma ironia, além
de outros fatores que fazem o individuo ficar famosinho por apenas uma só publicação
na internet.
E
como essas tendências que embora populares estejam dispersas, há páginas de mídias
sociais que compilam em um lugar só essas postagens mais relevantes, o que faz
a celebridade de internet, embora popular no seu viral, seja considerada somente
uma publicação desta página de mídia social. Um exemplo desta estratagema se dá no site Quebrando o Tabu, por exemplo, que
usa a lacração de anônimos que viram tendências de internet, por “bombar”
diante uma publicação apenas, para promover a página política por meio destas
subcelebridades que um dia ninguém mais irá se lembrar.
Portanto,
a ouvinte anônima na rádio, a subcelebridade com os seus 15 minutos de fama na
TV, e a publicação viral da celebridade instantânea de internet é na verdade o
mesmo fenômeno, só que são ações realizadas em tecnologias diferentes. Esse
determinismo histórico evidencia que o ser humano gosta de se exibir, quer
aparecer, o que talvez isso seja inerente ao ser humano como algo a dar alguma satisfação
de prazer. E como isso é algo que as pessoas gostam, então não é de surpreender
que o Youtube seja um sucesso ao deixar as pessoas se exibirem por meio da
internet, na palma da mão, fazendo do celular de tudo, desde rádio até TV.
Feliz Carnaval 2020 a todos.
Celebridades Temporárias de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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