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MITO: Miliciano Ilude Tantos Otários

Por: Júlio César Anjos

“Desta vez não haverá anistia” – Júlio César Anjos


O povo foi às ruas lutar contra o “comunismo” carregando a bandeira na mão direita, a bíblia na mão esquerda, e um propósito a esperar: ver o Brasil triunfar. E pela eleição elegeram aquilo que chamaram de mito. Passado 10 meses do atual governo dito conservador, os resultados são preocupantes, para não dizer catastróficos. Neste meio tempo, o que aconteceu para o país chegar neste ponto? É simples: o povo foi enganado. Os eleitores foram para a urna achando que iriam colocar na presidência o tal “liberal na economia e conservador nos costumes”, sendo que na verdade estavam pleiteando ascensão da milícia gospel – uma espécie de nazismo tupiniquim. É realmente de chorar.

Nazismo sem dinheiro é ditadura africana. Há de ter eficácia e eficiência para o extremismo prosperar. Percentual de PIB elevado, pleno emprego e investimento para que o Estado seja uma potência mundial são ingredientes indispensáveis para que o fascismo tenha ao menos sobrevida no convívio social. Isto aconteceu no nazismo da Alemanha. E no Brasil, o exemplo mais salutar sobre esta situação se dá na fracassada tentativa de revolução tocada pelo Marighella nos anos 70, pois, o terrorista tentou tomar o Estado justamente na era fascista de Médici, período em que, como dizia Lula, o pleno emprego era tão alto que havia perua da multinacional concorrente estacionada em frente às montadoras para roubar os funcionários das empresas oponentes. A ditadura militar brasileira caiu por causa da hiperinflação – artificializou tanto a economia que uma hora a conta chegou. Portanto, nazismo sem dinheiro só cristaliza gente doente fazendo maldade para os outros com auxílio e aparato do Estado. É feia a coisa.

“Me chama de corrupto, po**a!”, essa foi a frase de expressão que ajudou a impulsionar a campanha do até então inexpressivo político do baixo-clero Jair Bolsonaro até a finalização do pleito ao fazê-lo virar presidente da república. Após a eleição, a revelação: Bolsonaro é rodeado por milícia, tem um patrimônio incompatível com a renda e uma personalidade que pende entre o “borderline” do pavio curto e a psicopatia. Como o Brasil estava em um momento de loucura coletiva por causa de escândalos de corrupção e de haver uma esquizofrenia paranoide de ver até “comunista debaixo da cama”, é certo que o povo confundiu a falta de educação do político da direita com a cristalização de indignação do povo em geral.   

Deste modo, é salutar que Bolsonaro faz parte de milícia. Mas, afinal, o que é milícia? Milícia, no Brasil, significa grupos paramilitares [composto por agentes de segurança na ativa ou não, como: bombeiros, policiais militares, vigilantes e até forças armadas] que, sob a alegação de defender a população contra os traficantes, começa a extorquir esta mesma população para fornecer serviço de segurança entre outros [gás, cabo, luz e etc.]. Ou seja, a milícia só existe quando o Estado fracassa. A milícia para prosperar precisa tanto da ousadia do traficante e dos outros crimes em geral quanto da inoperância e incompetência dos agentes de segurança do Estado, para crescer e multiplicar.

Todo mundo acha que o quiproquó entre Bolsonaro e Moro se dá por causa da eleição de 2022, sendo que é possível acreditar que o ex-juiz da República de Curitiba venha a querer lançar-se presidente e com isso já faça com que Jair se sinta ameaçado por causa do próximo cenário eleitoral que se avizinha. Ledo engano. O maior problema da relação Bolsonaro x Moro é que o Ministro da justiça consiga fazer com que o Estado torne-se eficiente e com isso a população pare de ficar com medo e abandone os serviços dos milicianos, além, é claro, de o próprio Estado combater a milícia porque este grupo é composto por marginais – estão à margem da legalidade. Assim como não existe oferta sem demanda, não existe também milícia em região segura. Portanto, a milícia conta com o fracasso do Estado para continuar na ativa.

E o mais irônico é que o Ministério Público do Rio de Janeiro, as forças Armadas, e a ABIN (COAF) sabiam que Bolsonaro fazia parte da milícia e mesmo assim preservaram a sua candidatura para fazê-lo presidente da república. Ou seja, a operação lava-jato fez com que você, leitor, tenha que chamar miliciano corrupto de vossa excelência. Então, para alçar o “mito” ao poder, as instituições brasileiras aceitaram o que há de pior na sociedade – até mesmo pior que os traficantes porque a milícia tem apoio do aparato estatal -, só porque o dito cujo Bolsonaro se autoproclama conservador. E a menos que conservador seja conservar o poder das milícias - por causa do fracasso do Estado em promover segurança, para que o grupo paramilitar continue a extorquir a população -, o conceito verdadeiro de conservador nada tem a ver com essa dobradinha Queiroz-Bolsonaro como agentes de poder paralelo do Estado. Talvez isso seja o tal do “Brasil Paralelo”.

Deste modo, quando o espirito do tempo dá-lhe a prerrogativa de status e poder para uma ala em específico da população, é notório que esse grupo irá se lambuzar pelas delícias que este poder oferta. É por isso que pessoas totalmente desprezíveis, como, por exemplo, o Major Olímpio, mais conhecido nas redes como o “Dicró Paulista”, ficou todo saltitante após o fim do pleito, achando que conseguiu, nas palavras dele, “destruir o Alckmin”. O desprezível está louco para criar uma espécie de OBAN [Operação Bandeirante] de milícia bem estruturada em São Paulo e já dá até condição para levar manifestante miliciano para importunar comícios do João Doria. Quando o espirito do tempo permite, a ousadia não cessa em parar. Afinal, qualquer sargentinho ou tenentinho quer enricar porque o povo até ovaciona a milícia nestas manifestações fascistas que viraram surto no Brasil. Mas, atenção, uma coisa é certa: desta vez não haverá anistia.

E, por fim, o espirito do tempo chegou até o ponto da semiótica de fazer sinal de arminha com a mão dentro das igrejas evangélicas, mostrando, de fato, que o movimento se trata realmente de uma milícia gospel. E em alguns momentos os religiosos substituíram o verdadeiro Deus a seguir o que se chamava de mito, o que se sabe hoje ser na verdade um acrônimo.

 Portanto, o povo foi às ruas contra a corrupção para pedir até mesmo uma espécie de fascismo do triunfo. Elegeu um “mito”. Mas fracassado e sem dinheiro, o nazismo é tão feio que pode se assemelhar somente a uma ditadura africana.  Passado 10 meses pós-pleito, este eleitor foi enganado, pois, o herói que o povo alçou ao poder também é corrupto e faz parte de milícia. E milícia, como sabido, é a polícia ruim, que só prospera caso os bandidos se assanhem e o Estado fracasse em fornecer serviço de segurança para a sociedade. Com a lógica de oferta e demanda, caso o Moro melhore a segurança de fato, a milícia poderá extinguir porque não terá demanda para ofertar. E esta lógica a milícia não quer. Até porque o espirito do tempo almeja uma OBAN dos dias atuais, o que faz o major Olímpio, conhecido como “Dicró Paulista”, ficar todo assanhado em implantar uma milícia em São Paulo [se já não implantou]. Neste caso, talvez a tropa do Jair não queira que a pasta da segurança tenha sucesso porque mexe com poder da milícia, a qual faz parte. Além disso, foi justamente o Estado que deu sucesso ao Bolsonaro ser presidente, pois, enquanto atacava os adversários, as instituições [forças armadas, ABIN, Lava-jato] preservavam o "mito". Por esta execução, a operação lava-jato, infelizmente, fez com que você, leitor, tenha que chamar miliciano corrupto de vossa excelência. E para finalizar, as igrejas abandonaram por um instante Deus para adorar Bolsonaro como uma espécie de "bezerro de ouro", em que o pastor e os fieis largavam até a bíblia para fazer sinal de arminha com a mão. Só que como sabido, mito não é um ser mitológico, mas uma mentira, um acrônimo que significa: Miliciano Ilude Tantos Otários. Diante de toda essa doideira, pelo menos uma coisa há de garantir: desta vez não haverá anistia.

Não haverá.


       

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