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Olavo de Carvalho: Um Déspota para Chamar de Seu

Por: Júlio César Anjos

“Sentimento Político: difícil de difundir; quase impossível de dissipar.” - Júlio César Anjos

Recentemente, o astrólogo Olavo de Carvalho fez um vídeo pedindo que a extrema-direita se organize no intuito de criar uma militância [grupo de pressão] pró-Bolsonaro para defendê-lo daqui por diante. Sabendo que um sentimento político em fase embrionária é difícil de difundir, enquanto que em fase final é difícil dissipar, pergunta-se: em quê pé está a implantação desse grupo SS (Schutzstaffel) no Brasil? A isso há de indagar.

A militância que a extrema-direita quer implantar poderia ser de estética comunista como, por exemplos, o antigo Komsomol da época da União Soviética ou o atual Nashi Russo. No entanto, a inserção do atual zeitgeist [espirito do tempo] dessa era tem uma fusão entre fundamentalismo religioso com ufanismo nacionalista, então a natureza da implantação desta militância pró-Bolsonaro é de caráter neonazista mesmo. É uma espécie de SS (Schutzstaffel) tupiniquim.

A fase embrionária do sentimento político já passou. O embrião do neonazismo foi inseminado na sociedade brasileira no momento em que o Bolsonaro colocou um slogan neonazista como base eleitoral: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Pelo slogan, já estava definida a fusão entre o fundamentalismo religioso e o ufanismo nacionalista. E para a desgraça de quem é democrático, o neonazismo, pela urna, triunfou.

Toda essa estética de fazer arminha com a mão, de falar que tem que mirar na cabecinha contra bandidos [embora o bandido tenha realmente que pagar pelos seus erros], ou sair vibrando quando um sniper acerta um headshot em um sequestrador, tudo isso já é a inserção de fato do neonazismo instado no Brasil, com a ajuda do PT ao criar essa crise profunda no país.

Como sabido, todo totalitarismo [comunismo, nazismo, fascismo e qualquer outro ismo] consegue ser difundido quando há crise em uma região. O caos instala-se, a sociedade civil organizada falha, e aí vem o uso da força para restabelecer a ordem na bagunça. Recentemente o Egito na época do Mubarak foi um exemplo disso. E há muita chance do Brasil ser o próximo da lista.

A extrema-direita - que achou que poderia sequestrar os movimentos de rua e fazê-los grupos de pressão pró-Bolsonaro - viu que tais agentes saíram da aliança eleitoral e agora parecem querer ser oposição. Os bolsonaristas cometeram até mesmo um erro bobo ao aventar essa ideia de possível aliciação, pois, afinal o Vem Pra Rua é um instrumento muito parecido com aquele confeccionado em 1964, pelo IPÊS/IBAD, chamado de “Marcha da família com Deus”; e o MBL é na verdade um movimento CANVAS [Centro de Ações Não Violentas e Estratégias Aplicadas], cujo grupo originou-se na Servia. Ou seja, os grupos são “água e óleo” aos anseios de Olavo de Carvalho. Isso já quebra a ideia de que MBL e Vem Pra rua são da CIA. Logo, não são instrumentos da CIA; E também não são do Bolsonaro.

Mas a extrema-direita, orientada pelo astrólogo Olavo de Carvalho, sabendo que o zeitgeist é favorável, quer criar agora uma militância para, supostamente, defender o Bolsonaro de um futuro impeachment - o que poderia ser algo até considerado aceitável -, embora o verdadeiro objetivo dos reacionários conservadores seja a pura e simples perpetuação do poder.

A criação desta militância extremista está sendo construída para que se consiga “eternizar” o Bolsonaro no poder, caso não dê para mantê-lo o maior tempo possível pela fachada democrática. Sim, a sobrevivência da extrema-direita que não irá querer largar o osso facilmente poderá vir por meio de golpe, assim como ocorreu em 1964. Como dizia Mark Twain: “A história nunca se repete, mas rima”.

E caso a sanha da direita querer controlar tudo avance para patamares maiores, aí o roteiro também é batido. Poderá vir hiperinflação, criação de um Marighella como resposta à tirania, e, por fim, acordo entre os radicais dos dois lados pela pacificação por meio da anistia. Até porque haverá, com certeza, força reacionária que não concordará com o fim da democracia. Só que desta vez não haverá anistia [pra lado nenhum]. Então, o melhor a fazer é realmente seguir o roteiro da democracia.

Deste modo, Olavo de Carvalho quer criar um déspota para chamar de seu. Ou seja, pela lógica déspota, o astrólogo Olavo de Carvalho quer, na verdade, ampliar o poder do Sistema porque acredita que o Bolsonaro pode ser eternizado por tais “instituições”. O Sistema, como sabido, é composto por 5 pilares de sustentação: 1) Forças Armadas; 2) Religião; 3) Mídia; 4) Justiça; 5) Grupos de Pressão.  Mas somente as Forças Armadas e a Justiça mantêm-se atualmente sob o bojo do Estado. Por isso que o pensador da direita quer restabelecer a ordem ao inserir novamente a Religião, a Mídia e Grupos de Pressão como instituições do Estado. Além disso, o Estado será personificado pelo Bolsonaro [o Estado sou eu]. Um controle de espectro total muito visto em regimes totalitários.

Por isso que o astrólogo Olavo de Carvalho quer a tal da militância pró-Bolsonaro [que na verdade é pró-totalitário]. Até porque é justamente nas táticas do comunismo de Lenin e Stalin que o guru reacionário traz como exemplos a seguir para que a direita tenha dominação política – e de poder total. O que se revela bem antidemocrático isto.

É por isso que tanto a extrema-esquerda comunista quanto a extrema-direita nazista só se diferenciam na forma, pois a essência é a mesma. Os extremistas, no final, querem a mesma coisa: aparelhar o Estado e se perpetuar no poder. No fim das contas, Olavo de Carvalho não é diferente da Chauí.

Portanto, a extrema-direita já possui o controle da mente dos jovens pelo espírito do tempo, o que condicionou o Bolsonaro como uma espécie de “mito”. A extrema-direita quer fazer este sentimento algo concreto, ao arregimentar os jovens por uma estrutura totalitária, como as vistas antigamente nos casos do Consomol comunista ou SS nazista – além do atual NASHI russo. Com essa adesão e poder, além de restabelecimento de controle de mídia, grupos de pressão, e religião fundidas ao Estado, tal composição geraria um Bolsonaro com força colossal, como a vista, por exemplo, do poder que o Putin exerce na Rússia por meio do Kremlin. E com isso, certamente, Bolsonaro seria personificado a ter vida longa pelo poder de Estado Totalitário para governar até mesmo de forma vitalícia. Enfim, em quê pé está a implantação desse grupo SS (Schutzstaffel) no Brasil? Em fase de conclusão.

É esse o desenho que a extrema-direita tenta rascunhar para o futuro do Brasil.





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