Pular para o conteúdo principal

Mas Lá Vêm Eles Novamente e Eu Sei o que Vão Fazer: Reinstalar o Sistema

Por: Júlio César Anjos

A maioria do eleitorado brasileiro, mais precisamente aquela parcela que saiu por aí atrás de político de estimação e que tinha um “mito” para chamar de sua, foi enganado na eleição de 2018. E uma das maiores burlas cometidas na corrida eleitoral não se deu em mentira publicitária nem mesmo de figuras públicas que se engajaram para criar esse delírio coletivo mitomaníaco de Messias. A maior fraude cometida no pleito presidencial de 2018 foi criar o conceito de “anti-establishment” sem nem ao menos o povo saber o que isso significa. Porque o político considerado “anti-establishment” que se beneficiou com essa narrativa e ganhou a eleição é na verdade o mais establishment de todos. Por isso que é preciso explicar.

Antes de tudo, é preciso esclarecer melhor o jargão técnico. O que é o establishment? Em tradução seca significa Sistema Político. E Sistema Político é uma organização que exerce poder sobre a sociedade. Não obstante, o cidadão leva a entender que Sistema é somente o político que possui mandato para exercer função legislativa ou executiva. Essa linha de raciocínio está errada. O Sistema não é trocado facilmente, tem poder pleno e consegue controlar o jogo. O político é apenas uma peça sobressalente de reposição do Sistema, que só é necessário quando o regime do país é de caráter democrático – caso contrário, em regime não democrático, o político dificilmente seria substituído e aí sim poderia ser considerado também como base fundamental do Sistema.
 
O Sistema é uma espécie de Deus. Porque deve ter a influência de onipotência porque pode tudo, onipresença porque está em todo lugar e onisciência porque conhece e sabe de tudo o que está acontecendo na sociedade e por isso pode mexer com a vida das pessoas. Um político que pode ser substituído, em regime democrático, não possui tais poderes. Mas e na ditadura? Aí a coisa muda de figura desde que, e somente se, este político tenha pleno alinhamento ao Sistema.

Diante disso, fica a indagação: quem, afinal, é o Sistema? São estas cinco forças estruturais em regimes democráticos que exercem poder pleno diante da população e por isso é o Sistema: 1) Forças Armadas; 2) Mídia; 3) Justiça; 4) Religião; 5) Grupos de Pressão. Qualquer uma destas estruturas elencada pode fazer a vida de qualquer pessoa ou grupo específico um inferno, caso comece a fazer o chamado “bullying político”. Estes são os “pilares da sociedade” que o George Grosz cunhou como nome na pintura do seu quadro famoso criado em 1926. Essa é a estrutura do Sistema que são chamados eufemisticamente como: “instituições”.

E nesta última eleição de 2018, por exemplo, o Bolsonaro foi amplamente beneficiado pelo Sistema. A religião se encarregou, pelos pastores, de fazer as congregações pedirem voto para o “Messias”. As forças armadas fingiram que o Jair não tinha histórico negativo nos seus registros, além de emprestar a credibilidade da farda para um politiqueiro carreirista há 30 anos no congresso. A mídia não fez devassa sobre a sua vida pregressa [não do jeito que deveria]. A justiça, mais precisamente o Ministério Público do Rio de Janeiro, não transpareceu ao público as implicações em que Bolsonaro estava metido. E grupos de pressão apoiaram o “Mito”. Enquanto isso, os adversários eram atacados constantemente por tais grupos na época da eleição.

Ora, quem tem esse “alinhamento de planeta” de poder, esse consórcio campeão, não precisa nem mesmo de fundo eleitoral para vencer o pleito. Bastava o Sistema perseguir os adversários e preservar o “mito” para vencer eleição. Tanto é que agora o partido do Bolsonaro agora quer até mesmo aumentar o fundo eleitoral, pois este grupo que ascendeu ao poder não terá esse alinhamento total favorável novamente. Porque o Sistema alinhado ao governo, pós-pleito, tem até nome: princípio de ditadura. E o Sistema, por ora, não quer se mostrar ditatorial.

Por isso que só o Sistema tem o poder no regime democrático para fazer: Preservação x Perseguição. Aquele que o Sistema o faz escolhido é preservado; e aquele que não é escolhido é acossado. E é justamente por causa desta condição que tanto Lula em 2002 quanto Bolsonaro em 2018 eram inevitáveis. Como o verso da música: “Admirável Chip Novo”, da Pitty, diz: “Mas Lá Vêm Eles Novamente e Eu Sei o que Vão Fazer: Reinstalar o Sistema”. E reinstalaram.

Nesta condição, o fato é que o verdadeiro “anti-establishment” é perseguido vorazmente na época da eleição pelo Sistema, em país que possui regime democrático. E qual foi o grupo político mais perseguido na eleição passada? Uma dica: não foi o PT. Foi o PSDB.

Porque o PSDB não tem nenhum pilar do Sistema aliado ao tucanato. Não tem apoio de grupo de mídia, nem de força armada, nem de justiça, nem de religião e nem de grupo de pressão. Até porque, a lógica é simples, se tivessem alinhamento, não atacariam a socialdemocracia como fizeram na última eleição.

E os ataques foram óbvios contra os tucanos no pleito presidencial de 2018, justamente visando a não promoção do tucanato. Veja só: a mídia [Globo] chegou a dizer no Jornal Nacional, por meio do William Bonner, que o Geraldo Alckmin tinha acordo com o PCC; As forças armadas, por meio do clube militar, chegaram a afirmar que os tucanos eram comunistas [tudo comunista]; a justiça atrelou a lava-jato, corrupção que aconteceu na Petrobras [corrupção controlada pelo PT], com os tucanos por associações bizarras com a Odebrecht; grupos neopentecostais [religião], aproveitando-se da audiência cativa dos fieis, chegaram a frisar que os tucanos são satanistas; e os grupos de pressão [MBL e vem Pra Rua] utilizaram deste espírito do tempo para atacar os tucanos nas redes sociais, como sendo tudo aquilo que já tivera sido citado antes, além de ser a velha política.

Ora, se o PSDB é acusado pelo Sistema de: narcotraficante, comunista, corrupto de petrolão, satanista e velha política, sem que o PSDB seja nem de longe tudo isso, por óbvio que os tucanos são, na verdade, o próprio antissistema. E isso gera medo aos canalhas que querem sempre mamar no poder. Era preciso parar a socialdemocracia.

Outra coisa que mete medo no Sistema, em países democráticos, é o uso político da arte. Aproveitando-se da liberdade de expressão [uma brecha no mecanismo], a criação artística desnuda o Sistema por vários meios e isso incomoda os detentores do poder.  É a “contracultura” que consegue furar o bloqueio da tirania do poder. Por isso que os conservadores, que conservam o Sistema de benesses sempre, ficam receosos pelo novo e reagem contra o progresso.

Já o astrólogo Olavo de Carvalho, cujo é considerado o maior filósofo da direita pelo Sistema, diz que o Sistema é na verdade um partido político, mais precisamente o PSDB, sendo que os tucanos nem movimento de massa têm [nem progressista, nem religioso, nem trabalhista e nem nacionalista].

Portanto, o Sistema tem tanto poder que se parece um Deus. Tem onisciência, onipresença e onipotência para atacar pessoas ou grupos específicos. Por ter este poder, em países democráticos que possuem eleição, o establishment escolhe a quem se preserva e a quem se persegue, sempre com o intuito de manter sempre a roda de poder girando. O Sistema tem tanto poder que pode perseguir o PSDB de um lado e de outro denunciá-lo como sendo o maior vilão controlador do establishment durante a eleição. Mas o Sistema é, na verdade, o eufemismo de instituição, como as citadas: 1) Forças Armadas; 2) Mídia; 3) Religião; 4) Justiça; 5) Grupos de Pressão; que são justamente os meios que conseguem fazer com sucesso o que é chamado de bullying político. E quando o sistema está a reinar soberano em países democráticos, a única forma de combatê-los é por meio da arte, que se aproveita da falha do Sistema chamado de “liberdade de expressão” para prosperar. Enfim, ao ver as criações Lula e Bolsonaro, como diz na música da Pitty, “Admirável Chip Novo”: “Mas lá vêm eles novamente e eu sei o que vão fazer. Reinstalar o sistema”. E reinstalaram.




"Não, Senhor \ Sim, Senhor"




Licença Creative Commons
Mas Lá Vêm Eles Novamente e Eu Sei o que Vão Fazer: Reinstalar o Sistema de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.

Comentários