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Economia: Expectativa x Realidade - O Problema está no Câmbio

Por: Júlio César Anjos

“Nenhum país do mundo prospera com moeda fraca.” – Júlio César Anjos

Eis que se abre a porta da sala principal do Ministério da Economia e Paulo Guedes junto com a sua equipe econômica estão dançando em forma de trenzinho lá em Brasília, todos felizes cantando a música: Pequeno Mundo, do grupo Dó-Ré-Mi:

Há um mundo bem melhor
Todo feito pra vocês
É um mundo pequenino
Que a ternura fez

Porque acreditar que somente desvalorizar o câmbio seja a solução para a volta do crescimento do país, tal pensamento chega a ser pueril, e burro também, pois, não se utiliza – principalmente na economia! – de solução simples para problema complexo.

Em miúdos, com a desvalorização do câmbio, Guedes tinha como expectativa o crescimento econômico; mas a realidade trouxe por ora um mero pibinho como concretização. Queria ser China; está para virar Argentina. É preciso analisar.

Análise Expectativa x Realidade do Câmbio Desvalorizado

Expectativa

O Real desvalorizado trataria de fazer uma “barreira não-tarifária” de salvaguarda para indústria nacional porque os importados teriam carestia e isso faria, pelo preço, o produto nacional ter vantagem ao vindo do exterior.

Com esse entrave pela desvalorização, Guedes poderia zerar o Imposto de Importação para vender a lógica de que o país está sendo liberal, pois, está cortando impostos de verdade. E, pra quem é da economia, vale lembrar, se o câmbio está desvalorizado, o imposto de importação não se faz necessário, são peso e contrapeso da lógica de balança comercial. Mas isto serviria para narrativa eleitoral.

Com a moeda desvalorizada, o turismo começaria a ser atrativo, pois, os turistas estrangeiros teriam maior poder de compra para consumir no Brasil, sem desembolsar fortunas com isso. Ou seja, o turismo estaria aquecido porque o câmbio se desvalorizou.

Mercado de streaming ficaria caro e com isso o lobby das empresas criadoras de conteúdos nacionais poderia controlar o mercado interno por causa do Real desvalorizado.

A Petrobras poderia gerenciar o ponto de equilíbrio: exportação de petróleo cru x impostação de refinados, desde que o câmbio não fique tão desvalorizado e que o preço do barril mantenha-se internacionalmente estável.

Controlando o petróleo, controla-se a inflação. Então, nessa premissa, o câmbio desvalorizado não afetaria o preço do petróleo, que não geraria inflação.

E mesmo com o câmbio mexendo um pouco com o petróleo, e isso ocasionando um pouco de inflação, “um pouco de inflação não faria mal”, na cabeça do lliberalóide, porque o crescimento econômico atenuaria o problema inflacionário.

Portanto, na cabeça desses cidadãos, somente o câmbio desvalorizado faria com que o Brasil decolasse economicamente, e tal sucesso faria com que Guedes cumprisse o que tivera prometido para os empresários brasileiros: fazer a indústria nacional crescer, apesar dos empresários.

E todos cantariam felizes a música: Pequeno Mundo, do grupo DO-RE-MI: “Há um mundo bem melhor...”

Realidade

O Real desvalorizado faz protecionismo para a indústria nacional. E sem incomodo, a indústria tende a se acomodar porque não tem concorrência externa pressionando o setor para a indústria se mexer. Com a economia estagnada e a incerteza no futuro, a indústria nacional decide não correr riscos para não se comprometer. Não investe para o crescimento, porém não são incomodados pelos importados por causa da barreira não-tarifária do câmbio desvalorizado. Macunaísmo econômico.

Com esse problema de falta de investimento, o governo não pode cortar o Imposto de Importação, pois, estaria renunciando recurso financeiro para o tesouro nacional. Então, mesmo com o câmbio desvalorizado, a equipe econômica fica relutante em zerar o imposto de importação por completo, o que dificulta a narrativa ideológica do governo ser liberal.

 Como a economia patina sem parar, além de a moeda nacional estar em processo de desvalorização, o que gera em análise comparativa a realidade de que o brasileiro está “mais pobre” que outros países, tal problema gera desigualdade social, que gera problema social como tensão de violência e repressão, o que culmina na morte até mesmo de uma criança de 8 anos no Rio de Janeiro. Matar crianças gera repercussão negativa internacionalmente, que afeta o problema de turismo, fazendo com que não adiante desvalorizar o câmbio para estimular o turismo, sendo que a imagem negativa do país internacionalmente impossibilita a vinda deste consumidor gringo ao Brasil.

Quanto ao serviço de streaming, por exemplos tanto DAZN quanto Netflix, não houve aumento escalonado da mensalidade do serviço por causa do aumento do dólar por um simples motivo: Cada um é monopólio no seu respectivo setor e o aumento foi absorvido por causa deste monopólio [ou oligopólio]. Então, o câmbio, que era para fazer o preço do streaming decolar, não afetou a política de preços deste setor no Brasil.

E o petróleo sente a desvalorização do câmbio porque o preço do barril está a aumentar, devido ao problema de tensão mundial, continuamente. Dólar valorizado + Preço do barril elevado + represamento de repasse do valor para o consumidor = crise na Petrobras.

Portanto, a realidade é que a desvalorização do cambio está deixando a indústria nacional acomodada, não dá para renunciar tributos de Imposto de Importação pela renúncia fiscal porque a economia patina, o turismo está afetado pela imagem negativa do país por causa da polícia com a lógica de “licença para matar”, o mercado de streaming absorveu o problema de aumento de câmbio e a Petrobrás sofre para não repassar aumento de combustível, mesmo sendo pressionado pelo câmbio e pela alta do barril mundo afora.

Conclusão


Conclusão, o Brasil está próximo de virar uma Argentina, em questão econômica.

Como sabido, a Argentina do Macri fez um trabalho de austeridade e controle de inflação tecnicamente aceitável. Mas mesmo assim houve problema econômico por causa da hiperinflação. Onde foi que a Argentina Errou? No câmbio.

Como sabido a inflação tem muito a ver com oferta de moeda no mercado doméstico. A hiperinflação pode ocorrer por dois fatores: o primeiro já conhecido, imprimir dinheiro à revelia. E a segunda, é fazer com que a elite do país expurgue a moeda nacional ao se “dolarizar”. O que ocorreu na Argentina foi o segundo caso.

A elite de um país estoca a sua riqueza tanto em moeda nacional quanto em moeda estrangeira forte. Então essa oferta de moeda fica presa em posse da elite. Quando a elite expurga a moeda nacional, esta moeda desemboca para as castas mais baixas da sociedade, criando uma oferta excedente de moeda para tais camadas e gerando uma hiperinflação, sem nem mesmo a equipe econômica ter imprimido uma cédula de dinheiro sequer na casa da moeda.

Ou seja, A argentina só olhou para o controle de impressão de nota da casa da moeda, mas não controlou o câmbio. A elite argentina, assim como faz a elite Venezuelana, se “dolarizou” e a oferta de moeda cresceu nas mãos das castas sociais mais baixas. Resultado: hiperinflação.

Resumo da ópera: o Brasil não está cuidando do câmbio, um dos tripés econômicos para controle da inflação.

Tanto isso é fato que já há movimentação neste sentido. A elite brasileira já procura investimento no “capital vadio”, no “ponzi legalizado” que é o mercado financeiro de balcão, que em muitos casos é a dolarização velada.
  
Afinal, tirando a China e os EUA, que são potências mundiais de fato [a potência oriental desvaloriza o Renminbi para vantagem competitiva e a potência ocidental se dá o luxo de exportar inflação pelo controle do Dólar no planeta], nenhum país do mundo prospera com moeda fraca. Citando Roberto Campos, os artistas brasileiros gostam de receber os seus cachês em moeda forte. E isso é fato. Até porque nem artista nem a elite gostam de estocar a sua riqueza em moeda fraca e adoecida por inflação ou hiperinflação.

 E por fim, o Guedes foi colocado como Ministro da Economia pela elite fluminense para justamente desvalorizar o Real para atender em benefício os 3 vetores da economia do Rio de Janeiro: 1) Turismo; 2) Entretenimento; 3) Petróleo. Só que a estratégia não está funcionando. E o resto do Brasil poderá pagar essa conta, caso o governo não dê um jeito no câmbio logo.

Solução: câmbio flutuante, desde que o preço de $ 1,00 (Hum Dólar) flutue entre R$ 1,50 (Hum Real e cinquenta Centavos) e R$ 3,50 (Três Reais e cinquenta Centavos), com Imposto de importação elevado para proteger a economia doméstica, junto com controle de inflação pelo tripé-macroeconômico e estímulos para alguns setores para o país e o PIB voltar a crescer.

Ainda dá tempo para o Brasil não virar uma Argentina. Basta controlar o câmbio e voltar a valorizar o Real. Porque nenhum país do mundo prospera com moeda fraca.

Há um mundo bem melhor
Todo feito pra vocês
É um mundo pequenino
Que a ternura fez




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