Por: Júlio César Anjos
O
MPL [Movimento Passe Livre] no afã de dar mais um passo em direção à hegemonia
socialista, ao tentar atacar vorazmente o governador tucano Geraldo Alckmin, na
inesquecível manifestação de junho de 2013, com a proclamação da frase notória:
“não é só pelos 20 centavos”, tal ação saiu do prumo, o feitiço virou contra o
feiticeiro, com a esquerda sofrendo várias derrotas acachapantes: Dilma sofre
impeachment, Lula é preso e o PT fica com lepra política. O grupo de pressão
esquerdista não se atentou à tempestade perfeita que tinha estacionado no país.
Queriam uma tormenta, mesmo sabendo que estavam desprotegidos. E o mais
engraçado é que o mesmo clima está prestes a condensar, novamente, nesse
momento no país.
O
momento é de indefinição. A gestão Bolsonaro cristaliza-se como um governo
engessado nas suas próprias amarras ao prontamente, nas redes da web, gerarem
crises sem propósito ou sem noção. Além disso, no mundo real, os números da economia
e os índices sociais só estão a gerar aumento de gap da desigualdade. Somado a
isso, há uma cisão política em que de um lado há um grupo que não sabe perder
[defensores de Lula] e de outro que não sabe ganhar [defensores do Bolsonaro],
além dos atritos entre as instituições – como o STF e a lava-jato. Tais
condições são comburentes perfeitos para gerar mais atos caóticos
revolucionários, como os de junho de 2013, pois, o povo está alheio a essas
lutas sem causa só pela mera busca pelo poder.
O
povo quer resultado. A classe média quer voltar a ter um padrão de consumo a um
nível civilizado; e o pobre quer ser civilizado para poder comer. O que o
governo Bolsonaro não se atenta é que por trás do Fora PT há uma reivindicação
tácita sobre colocar alguém diferente para que melhore as condições do país.
Ninguém em sã consciência, nem mesmo atrelado a uma ideologia por mais louca
que pareça, troca o grupo politico, pela eleição, para que as coisas piorem. O
cavalo de pau que o eleitor deu nesta eleição de 2018, ao aceitar ser guiado
por uma suposta “nova política”, tal ação está atrelada, no fim das contas, em
uma palavra apenas: resultado!
Deste
modo, o povo quer que os trabalhos realizem-se em situações concretas. A massa
até apoiou a lava-jato, após esta dizer que bastaria prender os corruptos e o Brasil
avançaria em melhoramentos globais tanto econômicos quanto sociais. A operação
prendeu quem queria prender [e nem sempre quem deveria capturar], empurrou a
eleição a um novo patamar, ao preservar candidatos em detrimento de outros, que,
pela cristalização final, só mostrou que a lava-jato, no fim das contas,
tornou-se um instrumento de poder, uma mera ferramenta utilizada somente para
golpear a democracia. O agente
preservado pela lava-jato como mito, e que está a sentar na cadeira
presidencial, demonstra ser hoje somente um folclore popular. O brasileiro
anda, portanto, decepcionado, e sentindo-se enganado, com as chicanas que
acontecem pela disputa das instituições pelo poder. Sabe-se, de antemão, que a
lava-jato não é a solução para resolver as deflagrações de caos em que se
encontra o Brasil. Na verdade, ela os cria.
Os
correligionários bolsonaristas, a partir da benção das hordas lava-jatistas,
querem avançar no STF, para capturar cadeiras, e, com isso, ter o domínio total,
mas com um verniz de que esta feita deve ser concretizada porque o STF não
colabora a este governo vigente. O STF é institucional, portanto, mantém-se
estável por longos períodos [os presidentes passam, os ministros ficam]. O
governo de uma democracia é temporário, questão de 4 anos, tendo mais 4 com
reeleição. Mas os golpistas querem inverter esta lógica, ao fazer com que os
ministros do STF sejam temporários, enquanto que o governo – Bolsonaro – seja eterno.
Ou seja, alinhe-se ou capitule.
Ora,
se a pressa que o povo tem para que as melhorias aconteçam não estão na pauta
prioritária deste governo Bolsonaro, ao passo que a celeridade desta gestão se
dá ao avançar contra as instituições, é óbvio que os bolsoristas querem o
domínio total de poder, para que, no futuro, o povo, mesmo indignado e contra o
governo, não consiga ter voz nem vez para capitular este novo totalitarismo. Porque, a
partir do momento que se concretizar o poder total, não há onde o povo poder
recorrer. Haverá, enfim: aparelhamento de exército, dos clérigos, das instituições
e dos grupos de pressão. E com certeza a isso o povo reagirá.
Grupos
de pressão da direita - guiando uma parcela da sociedade pelo amedrontamento do “volta Lula”,
aproveitam a presença das pessoas que não querem mais o petista de volta - vão
para a manifestação para pedir destituição de ministro do STF e apoiar a
lava-jato [que ninguém mais está a apoiar (do trópico de capricórnio pra cima,
a lava-jato não existe como instituição funcional)]. Enquanto isso, o STF
censura o grupo de pressão da extrema-direita chamado O Antagonista [que não é jornal,
diga-se, é apenas página de Twitter que saiu da rede social]. E o povo, alheio
sobre todas essas confusões, só consegue definir que a briga é entre quem
comerá o banquete, enquanto que toda a população ficará com migalhas. Essa é a
conclusão que o povo compreende de maneira salutar.
Deste
modo, saindo do mundo fantástico da briga de rinha entre forças do judiciário,
caminhoneiros - que podem ser nacionalistas ou proletários - estão
insatisfeitos com o governo porque, até agora, a política econômica é desastrosa.
Essa categoria profissional, embora possua poder para colocar o governo na
parede, não pode colocar o Brasil todo de joelhos. Mas como o próprio Bolsonaro
é gerador de crise, o povo começa a dar razão para o movimento revolucionário
desta categoria em questão. Um absurdo atrás do outro por causa da inanição da
atual gestão.
E,
por fim, a falta de comiseração de uma parte dos brasileiros que se juntam no
vão da MASP, ao pedir amenidades como destituir somente um ministro de STF [o Gilmar
Mendes], a composição para o povo de massa realmente sofrido é de que essas
pessoas privilegiadas são desumanas que só pensam no próprio umbigo. Mesmo
sentimento que o povo em geral tinha quando via o MPL mostrar os dentes nas
ruas em 2013 para pedir "o nada". Os mais desafortunados já começam a cantar a música do Padre Zezinho:
“também sou teu povo, senhor!”. Até quando a fé segura?
Portanto,
a crise econômica e social, a inflação querendo dar o ar da graça, as guerras
institucionais que só visam o poder – em que os barões ficam com o banquete e o
povo com as migalhas -, o avanço de um grupo político que quer mais poder –
mesmo não mostrando resultado positivo -, e os caminhoneiros conseguindo adesão
pela massa popular, tudo isso são ingredientes para uma nova rodada de
manifestações revolucionarias, são os indicadores da tempestade perfeita. E se
em junho de 2013 o povo foi às ruas porque não era só por causa dos 20
centavos, este mesmo povo poderá ir às ruas também, num futuro não muito
distante, para protestar “contra tudo que está ai”. E esse tudo poderá ser a
destituição do Bolsonaro, o fim da lava-jato e até mesmo pedido de nova eleição.
Basta
só mais um passo. Mais precisamente um cabo e um soldado.
O Povo de Deus - Fernanda Takai:
Indicadores: A Tempestade Perfeita de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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