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A Era das Cinco Massas

Por: Júlio César Anjos

Mal sabia Robespierre que ao gritar: “cortem as cabeças” teria como fim a sua também guilhotinada.

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Foi Ortega y Gasset o mestre que conseguiu de forma sapiente observar as agitações populares com objetivos políticos, fazendo, deste modo, até mesmo um livro de grande repercussão chamado: “a rebelião das massas”.

Ortega foi um bom observador. Estudou a formação dos movimentos revolucionários e como o homem normal do dia-a-dia transforma-se ao virar um coletivo com entusiasmos iguais aos dos que reivindicam, os seus pares na rua, a algo a ser aglutinado pelo sentimento de pertencimento. Mas o que Gasset não observou foram os surgimentos de outras formações de multidões, conforme as composições de massa que acontece nos países democráticos ocidentais, especialmente no Brasil, de maneira que as articulações em períodos de “pax social” continuam a tornar vivida a pura e simples manifestação, como algo pulsante e que, gruído por paixões, parece que sempre está pronto para explodir. 


Na organização social da era atual, nos ditos países democráticos ocidentais, há, portanto, cinco movimentos de massa, cujo quatro são movimentos de controle social e um é radical. São eles: 1) Trabalhista; 2) Religioso; 3) Nacionalista; 4) Progressista; 5) Revolucionário: a fusão de todos os outros movimentos segmentados.

Trabalhista

Trabalhista: movimento de cunho marxista. Defende bandeiras que tragam resultados práticos para os proletários. Está sempre em ação como um organismo vivo. É contra o rentismo e acredita que só o trabalho gera valor.  As pessoas aderem porque se identificam com esta bandeira pelo motivo óbvio: a maioria das pessoas é de gente trabalhadora. O movimento surge como reação à voracidade do capitalismo predatório. Os agentes sempre buscam a revolução comunista. Greves e protestos são o motor de sustentação. Unem-se para reivindicações trabalhistas.

Reúnem-se na comemoração do dia 1º de maio.
Cor da bandeira: Vermelha.

Religioso
  
Religioso: movimento conservador. Defende a bandeira dos valores “tradicionais” de um padrão específico de família [marido, mulher e filhos]. São tementes a Deus e chegam ao ponto de defenderem até mesmo igrejas específicas. Reagem sempre quando algum grupo evolucionista tenta implantar alguma pauta progressista no reger vivencial. São receosos a mudanças, e, portanto, contra a laicidade social. Gostam do status quo e, por isso, são alheios às vertentes criativas, por isso são contra movimentos artísticos e culturais. Querem sempre padronizar tudo, ao colocar todas as coisas na caixinha da religião, desde arquitetura até arte.
  
Reúnem-se sempre nas comemorações das Marchas para Jesus.
Cor da bandeira branca [paz].


Nacionalista

Nacionalista: movimento de caráter regionalista geográfico. Todos unidos por uma cerca embandeirada que separam quintais. Surge após o fim do controle demográfico das monarquias, ao se gerar divisões geográficas de fronteiras que fazem as pessoas terem sentimento de pertencimento por fazer parte de uma linha imaginária estabelecida. São contra estrangeiros e acham que há sempre algum complô do mundo para destruir a sua nação. O povo situado em dada extensão, ao supostamente sofrer ameaças estrangeiras além-fronteiras, deve defender a região pela bandeira e os valores nacionais. Por serem mais fechados, possuem dificuldades em fazer acordos internacionais, pois, sempre acham que estão sendo ludibriados por outro país.

Reúnem-se na Parada do dia da Independência de Sete de Setembro.
Cor da bandeira: as cores da bandeira do seu país [no caso do Brasil, verde e amarelo].


Progressista


Progressista: movimento em defesa de minorias sociais excluídas: mulheres, negros [se a região for de predominância branca] e homossexuais. Ganharam voz e vez com a chancela da democracia. O movimento reage contra um estereótipo padrão de poder que quer asfixiar as minorias por causa de uma maioria predominante e totalmente hostil ao humanitarismo [as minorias se adequam ou desaparecem]. Tem como bandeira os direitos humanos, a defesa da igualdade e do bem-estar social.  E por serem, e sentirem-se, excluídos, este movimento tende a ser mais emocional em suas ações. Entende que o mundo está em constante mudança, por isso há a necessidade de adaptações. Olha sempre avante, para o futuro.

Reúnem-se nas festividades da Parada Gay e Marcha das Margaridas.
Cor da bandeira: arco-íris.

Revolucionário


É a soma de todas as tribos. É quando o povo se junta de forma amorfa para derrubar o sistema vigente. Não é nacionalista, nem religioso, nem trabalhista, nem progressista. Mas é também nacionalista, religioso, trabalhista e progressista. É tudo e nada ao mesmo tempo. Essa é a “rebelião das massas” que o Gasset tinha observado. Geralmente surge quando há componentes de insatisfação tanto na desordem econômica quanto social. É o grito da infelicidade, pois, gente feliz não enche o saco.  Neste tipo de manifestação, o povo aceita até mesmo que se cometa crime em nome de algo maior, o pulsar das ruas se faz mais hostil, o que faz a revolução ser perigosa por ter caráter sangrento.

Reúnem-se para que seja solucionado o problema de forma célere. Ruptura institucional. Derrubada da elite vigente. Black Blocs são aceitos. Exemplo: Manifestações no Brasil em junho de 2013.
Cor da bandeira: Preta.

Modulações:

É óbvio que os movimentos de massa não são engessados, as pessoas mudam ao aderir bandeiras que achem que são mais próximas aos seus anseios, mais adequadas ás suas demandas sociais.

Se há nas bandeiras nacionalistas e trabalhistas mais adesão por homens, o proletário pode virar patriota, assim como o patriota pode virar proletário, a depender do cenário político de um país.

Já nas correntes progressistas e religiosas, as mulheres sentem-se mais representadas nestas bandeiras, sendo que a feminista pode ser beata, e a beta pode tornar-se feminista.

Mas a única situação que junta o nacionalista, o trabalhista, o progressista e o religioso é o movimento revolucionário. Neste caso, todo o povo marcha contra um poder estabelecido.

Se nos quatros movimentos de massa se faz a reivindicação em tempos de paz, o quinto movimento sugere confusão.

Adesão no Espectro Político:

Os nacionalistas e os religiosos geralmente estão mais alinhados à direita no espectro político.

Já os progressistas e os trabalhistas estão mais alinhados aos partidários da esquerda.

Exceções:

Enquanto que os católicos estão mais alinhados à esquerda, os evangélicos estão mais à direita.

Os liberais, na teoria, deveriam ser mais alinhados aos progressistas [já que liberdade social também gera liberdade econômica]. Mas algumas disfunções fazem liberais se atrelarem aos religiosos no movimento conservador de direita.


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