Por: Júlio César Anjos
No
meio social dos dias atuais, muitas pessoas que não são extremistas atribuem o
radicalismo da esquerda como uma deformação espiritual ou distúrbio mental,
pois as defesas exaltadas perante as revoluções violentas mostram que há,
realmente, alguma coisa errada na percepção de uma pessoa normal. Neste
contexto, a premissa traduz que a direita é boa por si só, já que se a esquerda
tem vários defeitos, somente ser oposição a tais preceitos socialistas faz
validar o antagônico como uma premissa melhor. O que muitos que entendem desta
forma esquecem é que: “o nacionalismo é o último refúgio do canalha”, como
dizia Samuel Johnson. Neste sentido, é preciso aprofundar como o nacionalismo
faz sempre três inimigos a serem enfrentados e como tais atitudes tornam a
guerra como o seu fim.
Antes
de tudo, que se saiba que tanto a esquerda quanto a direita possuem doutrinas
nacionalistas em suas táticas políticas. A única diferença é que: a esquerda
faz do nacionalismo como um meio para chegar ao fim (ao levar o nacionalismo
para a internacional comunista); enquanto que a direita faz do nacionalismo
como atividade-fim. Sabendo desta lógica, é óbvio que o nacionalismo tem mais
prevalência na direita pelos seus atributos: conservadora, ‘pregressista’
[saudosista] e hierárquica – três características que, aliás, estão embutidas
no militarismo. Para critério de ilustração, a esquerda é Enéas e a Direita é
Ditadura Militar. Portanto, esse texto abordará a direita nacionalista.
A
direita nacionalista, embasado por eventos históricos, possui três inimigos a
serem combatidos: 1) Inimigo self; 2) Inimigo fratricida; 3) inimigo
além-fronteiras.
Deste
modo, parece bobo, mas para o nacionalismo florescer, a doutrina precisa, em um
primeiro momento, ter sido abandonada por um povo. Esse período em que o
conservadorismo não rege nada na vida das pessoas, por incrível que pareça, faz
com que o nacionalismo retorne com mais força ainda. Porque é neste sentido que
se dá para buscar o pregressismo [saudosismo] do passado glorioso que foi
perdido, teoricamente, por causa do desprendimento das pessoas às raízes
nacionalistas. Com esse cenário deflagrado, o primeiro inimigo a ser combatido
é o self: o individuo como seu próprio inimigo.
O
inimigo self – a própria pessoa como inimiga de si mesma - se dá quando o
próprio individuo quebra a sua própria convicção de vida para alinhar-se às
ideias “novas” incrementadas por nacionalistas. A pessoa se pune porque
acredita que é parte do problema por não ter sido nacionalista antes, o que a esclarece,
em sua cabeça, como uma agente da desgraça, uma parte do caos, que colaborou
com que ideias importadas tivessem neste caso “destruído” o país. Sem essa autopunição,
em um primeiro momento, não há como as pessoas virarem nacionalistas. Essa
pessoa passa a odiar-se e, ao ver outras pessoas cometendo o mesmo “erro” de
não serem nacionalistas, passa a odiar terceiros por estarem defendendo ideologias
que regem a vidas alheias, criando um movimento de rancor, revanchismo e
ódio. A pessoa se transforma e passa a
odiar terceiros. Neste ponto em diante, o inimigo self está vencido; basta
agora vencer outras etapas que estariam por vir.
Após
a pessoa ser doutrinada, com o rapto da própria consciência, tendo como apoio
só o aspecto emocional, não havendo aspecto racional plausível para a mudança
de comportamento, essa pessoa deixa de se odiar e começa a odiar os outros. A
partir deste momento, cria-se a cisão no seio social porque gera o 2º inimigo: o
fratricida.
Nesta
composição de racha na sociedade, agora os embates são mais acalorados,
culpando-se grupos e segmentos sociais, com o caráter de que tais associações
são os grandes vilões dos malefícios que se passam na região, sendo que tais
ramos da sociedade civil “devam se adequar ou desaparecerão”. Neste ponto, já há
uma maioria nacionalista aniquilando uma minoria enfraquecida pelo ufanismo de
um nacionalismo exacerbado que beira à loucura. O cidadão alinha-se ou é
apenado. Apoia-se por adoção ou imposição. Mas, no fim, a maioria nacionalista
prevalece e toma conta de toda a região pela ideologia beligerante de união contra
um inimigo imaginário destruído com sucesso. E após tal enfrentamento vencido e
concluído, agora as forças se voltam ao 3º inimigo: o além-fronteiras.
Esse
último patamar, o inimigo além-fronteiras, é o mais perigoso porque o adversário,
agora, tem tudo diferente: língua, demografia, geografia, tecnologia e até
mesmo anseios que não são compatíveis sobre cada nação. E mesmo havendo tais
complexidades realizadas por diferenças naturais, o ufanismo leva ao sentimento
de cólera e o sentimento de cólera vira dogma: todos marchando contra a outra
nação!
Em
países como o Brasil, por exemplo, em que as fronteiras ou são compostas por
água [Amazônia azul] ou mato [Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa], o
nacionalismo além-fronteiras, embora possa ser inoculado, dificilmente pode ser
aplicado porque tudo está longe aos olhos do cidadão. E o mesmo acontece com os
EUA [que são federalistas], tais estados considerados países não se digladiam
porque possuem a mesma língua e estão embaixo da mesma bandeira. Quem sofre com
essa inoculação nacionalista de inimigo além-fronteiras é a região da Europa,
por exemplo, que possui muitos países que, embora façam parte da União Europeia,
tais nações são diferentes em várias situações que vão desde línguas diferentes
até geografias diversas [a Europa, além dos próprios países europeus serem
diferentes, a região faz fronteira com continentes como Eurásia - Rússia, África – estreito
Gibraltar -, Oriente Médio].
E é por isso que tanto a 1ª quanto a 2º guerra
foram inoculadas pela direita e foram lutadas no território da Europa. É por
isso, também, que a fragmentação da União Europeia por esse nacionalismo
ressentido pode gerar conflitos e até pequenas guerras, de volta, na região da
Europa. Mas essa inoculação beligerante não afeta os EUA nem o Brasil, por mais
que a ideologia da extrema-direita vença nestas localidades.
Nesse
sentido, os EUA serem nacionalistas, por mais incoerente que seja o alinhamento
ideológico, tal ação não fará tanto estrago ao país [no máximo lutarão por um
muro, para a volta do medievalismo]. Já a Europa tem que se preocupar com essa
onda de nacionalismo que esteja sendo feita de forma artificial, ao fazer com que
a Europa entre em conflito, para os EUA venderem suas tecnologias, sejam os
credores da guerra, e fujam de vez da crise de 2008. Lembrando que o crash de
1929, por uma grande “coincidência”, só foi superada na segunda guerra mundial
de 1938, em que os EUA forneceram material bélico para os parceiros na Europa,
sendo que os ianques estavam fora da área de conflito, ao estarem longe
geograficamente do confronto. Ou seja, a direita fazendo tanta bagunça que
poderá gerar uma guerra como fim.
Portanto,
a direita sempre luta contra três inimigos: o inimigo self; o inimigo
fratricida; e o inimigo além-fronteiras. Tais conflitos são passos para o
sucesso ufanista. A primeira vitória é fazer a pessoa deixar de pensar como
individuo para alinhar-se ao coletivo nacionalista. A segunda vitória é marchar
contra outros grupos no país, culpando-os como inimigos da pátria. E, nesta
composição, uma nação inteira, após toda ela convicta, volta-se para esforço de
combate porque o inimigo é além-fronteiras. Essa cultura beligerante tem como
escatologia conflitos; e faz a guerra como fim. Por isso que o nacionalismo
sempre será o último refúgio do canalha.
***
Inimigo
Self:
Para
entender melhor o inimigo self, basta recorrer a uma analogia. Segue: sabe
quando a própria pessoa se sente culpada por estar desempregada, mesmo que
exista crise profunda no país, pois a propaganda politica, geralmente vindas
dos governos vigentes, diz que “a pessoa não é uma árvore pra ficar parada”?
Sabe esse peso nas contas em culpar o individuo, ao invés da conjuntura, por
não haver oportunidades para conseguir colocação no mercado de trabalho e, com
isso, a culpa recai no individuo porque ele é simplesmente “incapaz”? Esse é o
inimigo self: a própria pessoa como inimigo dela mesma.
***
E vale sempre lembrar: a direita é a CIA:
Corrupta, Incompetente e Assassina.
Queiroz
+ Milícia.
Os Três Inimigos da Direita Nacionalista e a Guerra como Fim de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
Comentários
Postar um comentário
Comente aqui: