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O Mecanismo do Golpe [No Brasil]

Por: Júlio César Anjos


Sabe qual é o problema da aplicação do golpe? É que os golpistas têm que ficar todo momento justificando que fizeram o bem.  Viram escravos das suas ações. Os golpistas precisam, portanto, gerar sempre a validação do feedback e da retroalimentação da informação daquele ato praticado, para convencer a todos que fizeram a coisa certa. E por terem praticado a coisa errada ou de maneira não convencional, esse ciclo nefasto fica cada vez mais claro e visualizado por todos, chegando ao torpor da indiferença, amparado somente por instrumentos que geram populismo e 'espetacularização'. É o fim das instituições como bastiões democráticos. É o momento que o mecanismo sempre dá golpe contra o povo, ao impedir a escolha natural eleitoral na eleição.

O mecanismo do golpe tem sempre o mesmo tipo de operação: a justiça [mais precisamente o MP] mexe papel ou toma uma decisão; essa ação da justiça é divulgada na mídia e gera repercussão; o embate vai para as redes sociais; e está feita a narrativa da justiça boazinha e o político vilão. Não importa se é só um inquérito ou um simples protocolo, só a “empurração” de papel já assassina reputação.  Esse ciclo vale desde Lula até Bolsonaro. E desde Richa até Requião. É o modus operandi do sistema trabalhando para aplicar e manter o golpe de forma ininterrupta e contínua. É a instituição a serviço da manipulação.

Vale ressaltar, antes de tudo, que esse tipo de conduta das instituições operarem para o golpe e manter o golpista no poder não são práticas novas. Acontece em todo o globo, desde tempos mais remotos até os dias atuais, porque isso é padrão de PODER. Para referendar tal veracidade, basta recorrer ao grande George Orwell, nos Magnum opus: Revolução dos Bichos e 1984. No livro 1984, A Oceania, após dar um golpe, culpava Emmanuel Goldstein de ser um traidor e fugir para a Eurásia, em que, na teoria, as regiões estavam em guerra contínua. Com isso, o Ministério da Propaganda da Oceania criou os 2 minutos de ódio. E na Revolução dos Bichos, o acossado era o porco Bola de Neve, sempre considerado culpado pelos problemas que apareciam na fazenda, após os bichos darem o golpe no humano dono do sítio.

George Orwell foi um gênio porque fez a arte imitar a vida. Ou seja, ele foi bom observador e viu como funciona o mecanismo dos sistemas totalitários, desde o apoio institucional para fazer a aplicação do golpe até criar meios para o sistema tornar-se mantenedor. Neste caso, surge a instrumentalização das instituições, fundidas com técnicas de propaganda, para gerar um líder que operará neste poder e que fará o golpe e entrará em vigor. Em contrapartida, esse agente é preservado até quando der.

Numa aplicação de golpe perfeita, os agentes golpistas agem, tomam o poder, e, depois de tudo controlado, ninguém se prontifica a reclamar. Essa prática só tem funcionalidade em curto prazo. Porque no longo prazo, ao recorrer à história, o fato é que toda tirania cai – nem que uma tirania caia pra colocar outra no lugar. Mas a maioria dos golpes possui resistência porque a tomada do poder foi, de certa forma, irregular. Até porque, em uma democracia sadia, não há o porquê de golpear [manipula-se pela regra formal do jogo].  Deste modo, em regimes democráticos, o político possui, ao natural, uma espécie de obsolescência programada, desgasta-se até não servir mais.  

Neste sentido, a destruição criativa política – em que cai um político para entrar outro no lugar - é amparada pela obsolescência programada do político não ter mais propósito para continuar no poder. Todavia, o problema é salutar: e quando isso não acontece? Aí é problema de democracia. Tem líder populista sendo defendido e preservado por instituição. Então é fato, também, que o golpe pode ser operado quando a democracia já está com problema, sendo necrosado por dentro.

E o Brasil é exemplo claro deste tipo de golpe. O primeiro golpe, o que foi tentado pelos petistas, fracassou, embora tenha sido articulado de dentro do sistema democrático. O Lula, por exemplo, no mesmo momento que fazia propaganda de “xô, corrupção”, fazia queima de arquivo no caso Celso Daniel [defesa das instituições a serviço de líder político]. Mensalão, Petrolão, aparelhamento de judiciário, por indicação, e legislativo, com propina, fizeram o Lula e o PT uma espécie de leviatã tupiniquim. Mas o Lula fracassou – o Brasil iria virar uma Venezuela nas mãos do poste Dilma. Neste momento, a elite teve que operar.

[O interessante é que o livro “Como as democracias morrem” - de Steven Levitsky & Daniel Ziblatt, conhecidos como escritores considerados especialistas em América Latina - não faz uma menção sequer ao Lula e ao PT no sentido de que o Brasil estava perdendo a democracia pelo golpe da perpetuação petista de poder. Só pra ficar o registro.]

A partir deste momento em que o populista petista não tem serventia, Lula perde toda a defesa de preservação das instituições [sendo que nunca deveria ter essa defesa], para ser destruído, ao colocar no lugar outro político populista, que será preservado pelas instituições. Essa técnica é chamada de Glasnost pelo Pacepa, contido no livro: Desinformação – em que o Stalin foi destruído para dar lugar ao Nikita Khrushchev. E o escolhido como sendo o novo Khrushchev brasileiro foi o “mito”. Bolsonaro, a partir desse momento, é polido e preservado para tomar o lugar do Lula e manter a roda do poder a girar.

A proteção a Bolsonaro teve duas frentes: 1ª o mecanismo acossou todos os adversários e focos de resistência possíveis; 2ª As instituições preservavam o Bolsonaro de escândalo de corrupção.  Bolsonaro, durante todo o ano eleitoral, chamava todos os outros de corruptos, enquanto que a sua família andava com milícia e praticava atos de corrupção. É o mesmo molde do: “xô, corrupção”, do Lula. Ora, se isso não é golpe, o que mais seria?

Deste modo, Bolsonaro foi colocado pelo sistema de forma bem-sucedida. Mas como este líder se manterá no topo, sendo que também tem implicações [assim como Lula também tinha]? Da mesma forma que o Lula foi mantido: pelo assassinato de reputação. É por isso que a lava-jato não pode acabar. É o mecanismo que tem que continuar a acossar as resistências e as oposições porque é a única saída pós-golpe. Foi assim que Lula, por exemplo, jogou as instituições para perseguir os tucanos oposicionistas, o que pode ser visto no livro assassinato de reputações, para poder manter-se no poder. Agora, os tucanos são perseguidos pelo bolsonarismo porque é o maior foco de resistência ao Bolsonaro, como sendo a melhor oposição que sabe jogar a democracia. É por isso que o mecanismo precisa apelar.

Para confirmar a tese, não há um mês sequer, até o início da lava-jato, que os políticos tenham um momento de sossego [no caso do PSDB, as instituições perseguem os tucanos desde 1994!]. E a lógica é a mesma: papel sendo empurrado na justiça contra Lula, Aécio, Richa, e etc., que fazem a mídia informar de forma sensacionalista, causando reboliço na sociedade sem parar. Até porque o povo reage ao que é informado, então não cabe culpar pessoas pela manipulação do sistema, que sabe como os comportamentos sociais funcionam. O mecanismo do golpe sabe que as pessoas regem do jeito que eles querem porque eles possuem o poder.

Portanto, é sabido por todos que as instituições não estão mais trabalhando para “limpar o Brasil”, mas para que o sistema mantenha o fluxo, ao colocar marionete golpista no poder. Porque o sistema pode prender um político faltando 20 dias para eleição, enquanto preserva até mesmo um miliciano corrupto só porque é populista e satisfaz a elite que só quer se manter no seu bel-prazer. E, deste modo, é necessário que o mecanismo do golpe mantenha o circulo de informação constante, acossando opositores e resistência, enquanto preserva os seus apoiadores, mostrando que as instituições democráticas não são tão diferentes das totalitárias, só usam estratégias diferentes. Mas, no fim, o resultado é igual: o poder.

A lava-jato - braço da mais alta moralização do Brasil - elegeu um miliciano corrupto. Golpe!

***

O MP do Paraná recorreu sobre a decisão do STJ de manter o Richa livre. Esse pedido foi feito na sexta-feira de tarde, dia 08/02/19. A Gazeta do Povo, braço do golpe, não divulgou esta informação nesta data. Se eu estiver certo, a Gazeta do Povo divulgará essa ação do MP como escândalo, no estilo boteco sensacionalista, na segunda-feira, dia 11/02/19. Porque a quantidade de visitas no jornal na segunda-feira é monstruosamente maior do que na sexta de tarde [além de sábado e domingo]. 

Foi assim na prisão do Richa em Janeiro. Prenderam o Richa um pouco antes da tragédia em Brumadinho. A tragédia tomou o espaço da mídia nacional e também da regional [da caipirada também]. Quando a tragédia em Brumadinho cessou, aí a Gazeta do Povo, instrumento do golpe, começou a assassinar a reputação do Richa – só que ficou uma coisa regional, de caipira, porque o tempo passou.

É o Modus operandi do golpe feito por caipira

Não importa se quem está operando assassinato de reputação no Richa é lulista ou bolsonarista. Nos dois casos o Paraná está podre. Porque Lula é golpe antigo e Bolsonaro é golpe novo. Golpistas.

Mas, fiquem tranquilos, tucanos: venceremos.






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