Por: Júlio César Anjos
A
mídia social já está impregnada na sociedade, portanto, já faz parte do
cotidiano da humanidade. É a nova concepção que veio pra ficar porque gera
vários facilitadores que vão desde entretenimento até trabalho de grande monta. Não há mais barreiras sobre impossibilidades,
nas redes sociais, em se tratando de comunicação. Mas a mesma tecnologia que
traz aspectos positivos, também cria outros negativos, que precisam de atenção.
E é sobre a manipulação feita na mídia social que se deve discutir, mais
precisamente sobre: “aquele ‘like’ que não estava ali”.
As
mídias sociais deveriam, na teoria, serem instrumentos muito bons para
diagnosticar aquilo que o povo gosta ou não. Em uma condição de mundo perfeito,
sem interferência qualquer, os meios virtuais poderiam colher e tabular dados
muito fidedignos sobre o que a sociedade em geral quer consumir, entreter, ter ou
usar. Seria um instrumento de medição das necessidades e dos desejos dos
usuários ativos na internet, e, portanto, também condicionado como fator preponderante
na realidade. Mas o mundo não é tão puro como se imagina e as redes sociais são
como o mundo real: cheio de manipulação porque há interesse por trás de tudo.
Uma
das manipulações mais famosas nas mídias da internet pode ser observada em uma
experiência social divulgada na série: “Eu e o Universo”, que está disponível
na Netflix, logo no 1º episódio chamado: “Mídia Social”, na experiência “fotos
populares” [aos 5 minutos e 20 segundos]. Na experiência, o experimento
consistia no primeiro grupo somente escolher entre duas fotos qual é a mais
legal: 1) de um gato com 2,5 milhões de curtidas; 2) de um canguru com pouco
mais de 12 curtidas. A imensa maioria escolheu o gato como foto mais legal no
primeiro momento. Após este resultado, os pesquisadores resolveram inverter as
estatísticas das fotos, ao exibir para outro grupo e perguntar, de novo, qual a
foto era mais legal: 1) de um canguru com 2,5 milhões de curtidas; 2) de um
gato com pouco mais de 12 curtidas. E a imensa maioria escolheu, no segundo
experimento, o canguru.
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No
experimento feito nesta série, a pesquisa mostrou que o individuo sempre irá
seguir a manada porque isso é uma estratégia de defesa que vem lá dos
primórdios, desde o tempo primitivo em que o grupo tinha que se manter unido
para sobreviver. Por isso que a tendência é o indivíduo, de forma automática, escolher e gostar da foto mais popular [a que tem mais curtidas]. Mas o resultado chamou
outra atenção: essa manipulação feita no experimento é perigosa porque funciona
para outras situações.
Estes
artifícios de modular as estatísticas de curtidas, usada numa eleição, podem
definir até o futuro de um país. Perfis fakes podem positivar e negativar
vídeos de políticos, dando a entender que tal candidato é ruim porque a maioria
está o rejeitando. A própria mídia social pode “atrasar” a divulgação real da estatística,
ou simplesmente informar de forma adulterada a quantidade de visualizações para
mostrar que tal candidato não é popular. E perfis fakes e mídias sociais podem
impulsionar candidatos artificiais, criando um mundo paralelo, que influirá na
vida real, ao forçar criação de um político ideal, sendo que esse político não
é. E, infelizmente, a eleição presidencial de 2018 teve muito disso.
E
se há tais problemas que podem ocasionar manipulação, é óbvio que tanto o “rage”
feito por spambot quanto a própria mídia de a internet esconder a verdadeira
estatística, faz o fenômeno de embaralhamento de reações. Os perfis falsos ou
as manipulações de estatísticas da métrica da mídia social podem fazer os
usuários abandonarem o apoio ou se engajarem em algum tipo de entretenimento, informação, ou figura pública. E, ao abandonar o apoio, perde-se o like, por isso a logica do “like
que não estava ali”. Esse like deixa de existir, seja porque o objeto compartilhado
não viralizou ou porque a informação divulgada está com ataque de rage. Gera a
desmotivação em alguma informação por meio de manipulação. O moral cai por
causa de adulteração; e não porque algo ou alguém seja ruim.
Para
exemplo, neste exato momento, a música: “Proibido o carnaval” [vídeo abaixo],
de Caetano Veloso e Daniela Mercury, está sendo extremamente negativado. Será
que todo mundo, no mesmo momento, olhou para o vídeo e disse: “não gostei”? Ou
será que há método e estrutura por trás disso, ao manipular a estatística do
vídeo, dando a entender que deslike seja traduzido como algo ruim, só porque a
música faz ativismo político? Sabe-se lá a razão. Mas é mais provável que seja a
segunda situação.
Outro
fato curioso é que o vídeo “Mirrors” [vídeo abaixo], da campanha da Hillary
Clinton, sofreu um ataque maciço de “rage”. Mas, no final, Hillary teve mais
votos que Trump na eleição, não o vencendo porque o pleito americano não é
majoritário. Nem sempre dá certa essa manipulação virtual para o mundo real.
E,
por fim, o mais engraçado, sobre a questão de manipulação virtual de mídia social,
é que houve tentativa de alerta na eleição presidencial no Brasil, ao mostrar,
com fatos, que o Bolsonaro possuía bots. Após esta confirmação, meia-dúzia de
sem noção pagou mico ao fazer um vídeo, em que se autoproclamaram: “eu sou robô
do Bolsonaro” [vídeo abaixo]. Seria engraçado se não fosse trágico. Mas
releva-se.
Enfim,
a mídia social é uma revolução em se tratando de informação. O problema é que, como
há interesses diversos que vão desde riqueza até poder, essa mesma ferramenta
pode virar instrumento de manipulação. As pessoas são guiadas pelo coletivo,
vão conforme a onda leva, porque o cérebro foi programado, como caso de alerta,
que ir atrás dos outros pode ser a salvação. Mas nem sempre o guia leva para um
caminho correto, o que pode fazer toda uma população sofrer por ter seguido
por induções erradas que só foram validadas porque as mídias sociais, além de outros
grupos que adulteram a vontade popular, empurraram toda essa leva em direção ao
caos.
Você,
leitor, pode estar odiando e/ou amando coisas que em condições normais você
não estaria sentindo. Raptaram suas escolhas, fizeram de gato e sapo com você.
A Manipulação das Curtidas. Ou: Aquele “Like” que não Estava Ali de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://efeitoorloff.blogspot.com.
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