Por: Júlio César Anjos
Perto
das cercas embandeiradas que separam quintais está havendo confusão.
O
noticiário publica a seguinte informação: Venezuelanos passam pela fronteira, invadem
o Brasil, entram em conflito com brasileiros, e causam caos.
Mas
na verdade, a lógica é assim: Humanos que fogem da miséria passam por uma linha
imaginária chamada de fronteira, encontram outros Humanos que possuem apenas línguas
diferentes, que, ao invés de trocarem experiências de vida, trocam pontapés.
* *
*
Humanos
que possuem a mesma língua e estão na mesma cerca embandeirada matam outros
Humanos de línguas diferentes, porque essa diferenciação é validação para
provocar horror.
Humanos
que possuem menos condições não podem pedir abrigo para outros Humanos porque
estão do lado errado da linha imaginária, porque a prisão não está só no muro
de algo que se chama fronteira, mas da prisão da mentalidade fechada de não compreender
que o muro não existe, só o que existe é a consequência humana.
Humanos
Bons e Humanos Maus existem em qualquer lugar.
Mas
se um grupo de Humanos estiver no lado errado da linha imaginaria, e houver dentre
eles um Humano Mau, então qualquer ato desde Humano Mau apenará a todos os
outros Humanos Bons que são vitimas de qualquer lado da linha imaginária.
Isso
abre espaço para os Humanos Maus que estão no lado certo da linha imaginária
poderem fazer qualquer tipo de ato bárbaro. Porque estes Humanos Maus tiveram salvo-conduto
para reagirem de maneira selvagem, contra os Humanos forasteiros, por própria
aceitação de Humanos Bons que estão no lado certo da linha imaginária.
Os
Humanos Bons do lado certo da linha imaginária estão contaminados com a ideia
de que as cercas embandeiradas que separam quintais dão a elas uma espécie de
elevação.
E,
a partir deste princípio, os Humanos Bons que estão no lado certo da linha
imaginária começam a autoproclamarem-se.
Os
Humanos se autoproclamam.
Da
criação da autoproclamação sai muita invenção: hino, bandeira, símbolos,
catalogação das criações, e ensinamentos para gerações futuras destas
invenções.
E
dessa criação artificial, Humanos criam aquilo que eles chamam de líderes. Às vezes
os Humanos erram na escolha deste líder. Líder Mau este que, de forma
totalmente hostil, começa a perseguir todos os humanos pertencentes da mesma cerca
embandeirada. E a consequência é o êxodo e a diáspora, que são ações de
atravessar linhas imaginárias para buscarem abrigo e salvação.
Escolher
líder errado é a pior falha humana da autoproclamação.
Então
os Humanos, sejam eles Bons ou Maus, que estão no lado certo da linha imaginária,
fazem a defesa destas autoproclamações.
A
partir deste momento, quando os Humanos fazem a autoproclamação, e ficam cegos
por invenções materiais que solapam as realidades humanitárias, todos os Humanos que estão no lado certo da linha imaginária, por causa de um sentimento
de pertencimento, começam a se tornarem maus.
Porque
qualquer outro Humano que invada o espaço territorial autoproclamado não pode
mais ser considerado um Humano. E não sendo Humano, pode ser destruído. Desta
lógica sai aquilo que é chamado de inimigo.
A
autoproclamação cria situações interessantes. Os Humanos pertencentes do lado
certo da linha imaginária guardam o território na mesma lógica selvagem de um
animal urinar em uma árvore para marcar território. Só que ao invés de
cheirarem o rabo uns dos outros para ver se são amigos ou não, como um cachorro
faz para saber sobre hostilidade de outro, a lógica de reconhecimento se dá simplesmente
pela fala [pela língua].
Após
as autoproclamações, todo aquele que fale a mesma língua e que está no lado
certo da linha imaginária é considerado bom. Mesmo que tenha Humano Mau, por
que o inimigo é estrangeiro.
E,
então, não importa se do outro lado da cerca embandeirada tenha Humanos Bons.
Porque, só por estarem do lado errado da linha imaginária são Humanos Maus.
E
aí acontece um fenômeno sem igual e que vai gerar até confusão de compreensão.
O
Humano Bom defende até mesmo o Humano Mau desde que este faça parte do lado
certo da linha imaginária, ao passo que o Humano Bom do outro lado da linha
imaginária passa a ser automaticamente Mau, criando inversão de valor.
Agora,
já pensou se, independente de cerca embandeirada, língua ou credo, os Humanos
se unissem somente por serem Bons e expurgassem os Maus? Aí já seria demais.
Seria o Imagine de John Lennon.
E
o Imagine do John Lennon o contaminado pela doutrinação de autoproclamação, obtuso
para entender sobre a humanidade, não aceita jamais! E a ONU só serve para
acabar com autoproclamação.
* *
*
Há
uma crise humanitária na Venezuela.
O
brasileiro, por causa de convenções internacionais, tem o direito de não
aceitar outros povos para a sua região. Isso é completamente compreensível (apesar
de não ser aceitável).
Agora,
a forma como se trata esta situação parte de uma premissa consequencialista.
Ou
o Brasil dá refúgio para os miseráveis dos venezuelanos que estão fugindo de
Maduro, ou faz a deportação e fecha fronteira.
É
sabido que tem venezuelano mau provocando o caos na região. Mas estas pessoas
são uma parcela ínfima desta população que veio ao Brasil para se salvar. Eles não
são a totalidade dos venezuelanos.
Há
uma grande parcela da população venezuelana que é vitima de qualquer lado da
fronteira. Isso dói o coração.
Não
sei resolver esse problema. Mas não fico usando isso como bandeira política pra
ganhar eleição. Utilizar da desgraça alheia para fazer proselitismo político
chega a ser nojento.
Os Humanos que se Autoproclamam de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.
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