Por: Júlio César Anjos
Guru
como significado é uma premissa bem abrangente. Um guru pode ser uma pessoa
inteligente que consegue ser observada, ou uma pessoa carismática que se faz ser
apaixonada, ou uma pessoa comunicativa que se faz ser escutada. Destas
aptidões, a comunicação é a principal fonte de poder. De outro modo, há outras
ligações externas que fazem um guru, pela comunicação, ser tão cativante, pelas
ferramentas de persuasão, como no caso deste seguinte tripé de aptidão: Descomplicação
de informação complicada; Alívio Cômico; Venda do peixe propriamente dito. Além
disso, todo guru tem a capacidade comportamental de não se importar com ataques
sofridos ao ser até mesmo humilhado. Um guru tem que se mostrar forte, tão
resistente que se pareça inquebrável para os seguidores. O guru é a fonte de
inspiração.
Todo
guru que se presa não tem medo de ser zombado, achincalhado, desdenhado. Ele
até quer que o zombem em um primeiro momento para que o público em geral conheça-o,
seja visto no meio da multidão. Porque o guru quer se aparecer. Ele tem que se aparecer.
E este guru, ao não se desestabilizar por uma chacota ou ofensa, dá o troco com
outra ofensa ou com algum tipo de sermão. É só observar o Olavo de Carvalho,
por exemplo, grande guru brasileiro, que explica aos seus sectários que a
zombaria tem que ser combatida com zombaria, pois quem sucumbe ao destrato
social acaba virando refém deste artifício. Isto está em harmonia com o indício
de Jon Ronson, em seu livro chamado: “Humilhado”, em que o individuo atacado
deixa de ser agredido quando não liga para os desafetos e o linchamento social.
A humilhação é como o apelido, só pega se o humilhado ou apelidado se incomodar
com o ataque desferido.
Assim
sendo, Osho, em seus textos ou entrevistas, vale reparar, sempre intercala uma
narrativa fatídica com uma informação inédita, intercalando com uma anedota
[piada], para aí sim vender o peixe para seus discípulos, ao conseguir obter
cada vez mais seguidores para a sua seita pelo viés idealizado. Então a regra é
assim: Uma informação útil e interessante; uma piada para fazer o alívio
cômico; e um serviço que será vendido para arrecadar fundos para a seita e
status para o guru. O carisma vem justamente do quebra-gelo das piadinhas, das
infâmias, e das anedotas que fazem o guru ser uma personalidade interessante,
carismática, quebrando a chatice de uma teoria maçante. Isso pode ser visto em
cursinhos pré-vestibulares, em que acontece muito isso, os melhores professores
sempre são os engraçadinhos, pois quebram o desgaste da matéria lecionada em
sala de aula com distensões suaves.
Deste
modo, engana-se quem acha que a maior contribuição do sectário para o guru seja
só o de cunho monetário. A maior retribuição possível que o seguidor pode
ofertar ao guru é o de natureza do tripé psicológico, que são: viés de
confirmação; dissonância cognitiva; e sentimento de pertencimento. Sem estes
três fatores psicológicos vindos dos adeptos, guru nenhum consegue sucesso em
sua empreitada. Porque o viés de confirmação é o que atrai o seguidor a escutar
o líder da seita. Ao agregar várias pessoas que pensam até um ponto de maneira
igual este coletivo cria o sentimento de pertencimento. Após ter criado este
sectarismo, os seguidores não ligam para contradições vindas do guru, ao que
isso é chamado de dissonância cognitiva. Este fenômeno pode ser visto no caso do Olavo de
Carvalho e o cigarro. Olavo exaltava que o cigarro não fazia mal á saúde
(narrativa de viés de confirmação para fumantes). Com isso, atraiu vários
fumantes para si, sob esta alegação de que fumar não faz mal (sentimento de
pertencimento). Mas quando o cigarro começou a criar problemas à sua saúde, ao
ponto do Olavo substituir o cigarro de filtro pelo cachimbo, esta contradição
não o afetou de maneira alguma, sendo somente algo que foi ignorado como coisa
pequena pela sua plateia interesseira (dissonância cognitiva).
Outra
curiosidade é que um bom guru tem que saber de estratégia de marketing (para
fazer a venda do peixe). E por isso que os gurus que fazem sucesso no mundo
possuem 2 nomes: 1 oriental e 1 ocidental. Por isso que Rajneesh é conhecido
como OSHO no ocidente; assim como Olavo de Carvalho é conhecido como Sid Muhammad
no oriente. Um bom guru, também, tem que saber falar língua universal. No caso
do OSHO as coisas eram mais fáceis, pois, ao ser oriental para buscar o
ocidente, bastou este líder atender, pela liberdade, a região como um tipo de
algo novo, uma novidade para atrair curiosos. Já o Olavo de Carvalho tem a
liberdade no ocidente, mas sofre para buscar apelo no oriente. Então, Olavo de Carvalho
utiliza do estado confessional [do neonazismo em voga hoje] para agradar tanto
a monarquia árabe quanto tentar implantar uma fusão estado/cristão no ocidente
[especialmente no Brasil]. Além disso, não é regra, mas um guru também tem
maior validação se for longevo, o que dá a entender que este líder seja experiente
e sábio pelo estereótipo do idoso sapiente [o que é uma falácia].
Portanto,
o guru tem várias habilidades para conseguir conquistar a sua plateia à
disposição. Na comunicação, o influenciador domina o influenciado com
curiosidades técnicas, algumas distrações com humor, para conseguir vender o
peixe de fato, que é o produto que o guru está a vender no mercado social. Mas
para o guru conseguir o feito, o sectário deve também colaborar por adoção. Tem
também que aderir este ente pelo viés de confirmação, ao buscar o sentimento de
pertencimento, para que não abandone o seu líder quando houver contradições,
diante dissonância cognitiva. Um bom guru deve saber de marketing e expor certa
confiança, para que a teatralidade triunfe de uma forma sem igual. Além de tudo isso, um bom guru tem também que
aguentar ataques, pois um líder de seita consistente tem que aparentar ser
forte. Enfim, esta é a análise estrutural do formato comportamental do guru e
sua seita. É realmente de chorar.
Guru Analisado de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.
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