Por: Júlio César Anjos
As
personagens que orbitam no universo político possuem alvos que determinam a um
objetivo-fim. Alguns players querem, no fim das contas, apenas se elegerem; enquanto
que outros querem até mesmo mudar ideologia e/ou regime político do país. Como
é de ciência pelos ativistas da sociedade, a conquista política não é uma
trilha retilínea com metas bem claras, em que basta fazer certas instruções que
se chega ao resultado final. A política tem percalços, redefinições, adaptações
para que até mesmo o ente político mantenha-se vivo no sufrágio universal,
quanto mais conquiste aquilo que deseja ao encerramento das suas atividades. Esse
caminho pode ser uma dialética, uma tese ou antítese – para fazer síntese -, ou
até mesmo pragmatismo, dar um passo atrás, ao ter que fazer algo contra o que é
determinado para que não haja problema maior. Estas são as estratégias para ultimação –
estratégia para chegar a um determinado fim.
Uma
forma de dialética é a [chamada por mim] “tese = síntese”. A antítese não
existe porque este ente antagônico é fabricado como vilão. É muito utilizado em
“false flag” [operações conduzidas por governos, corporações, indivíduos ou
outras organizações que aparentam ser realizadas pelo inimigo de modo a tirar
partido das consequências resultantes - Wikipédia]. O false flag é difícil de
ser desvendado, pois, ao apontar como recurso político, essa técnica cai muito
em teoria da conspiração, porque ninguém imagina que a sabotagem venha do
próprio governo ou Estado - como no bordão da 4ª temporada do House of Cards:
“nós provocamos o terror”. Mas, quando o false flag falha, como no caso do
atentado do Riocentro, aí é batom na cueca, não tem como se explicar.
Segue
narrativa do ocorrido, no livro Ditadura derrotada, de Elio Gaspari (pág: 195):
Às 21h:15
de 30 de abril de 1981, uma bomba explodiu dentro de um Puma no estacionamento
do Riocentro, onde o Cebrade realizava mais um show comemorativo do 1º de Maio.
No carro estavam o capitão Wilson machado, doutor Marcos, chefe da seção de
operações do DOI do I exército, e o sargento
Guilherme Pereira do Rosário, o Wagner, que carregava o explosivo. O sargento morreu na hora, com a bomba no
colo. O capitão, estripado, sobreviveu. A Jovem Andreia Neves da Cunha
chegara atrasada e ia para o corredor que dava acesso à plateia quando viu um
homem ferido que pedia ajuda para ser levado a um hospital. Ele tentara
abandonar o local num taxi, mas o motorista recusara-se a transportá-lo. Neta
de Tancredo Neves, Andrea socorreu-o.
Ou
seja, a tese é que o estado tem que reprimir para manter a ordem. A antítese é
de que o adversário [criado pelo false flag] é monstruoso e por isso tem que
ser contido. A síntese é que tem que existir realmente esta repressão. Enfim, a
ditadura justifica o bem praticando o mal.
Já,
de outra forma, há um livrinho pequeno, de fácil compreensão, de capa dura e
cor azul, chamado: “Como mentir com estatística” – de Darrell Huff, em que há
vários casos de estratégia para ultimação. Segue um caso como exemplo de dialética
para chegar à conclusão (pág: 25):
“Em
certa ocasião, foi realizada uma pesquisa de porta em porta com o objetivo de
analisar os hábitos de leitura de revistas, e a pergunta principal era: quais
são as revistas que você lê em casa? Quando os resultados foram tabelados e
avaliados, parecia que muita gente adorava a Harper’s, revista de cultura
geral, e nem tantos liam a True Story, revista de histórias pessoais. Porém, na
época, os números das editoras mostravam muito claramente que a True Story
tinha uma tiragem de milhões de exemplares, enquanto a da Harpers’ era de
centenas de milhares. “Talvez tenhamos perguntado às pessoas erradas”,
refletiram os criadores da pesquisa. Mas não, as perguntas haviam sido feitas
em todo tipo de bairro pelo país inteiro. A única conclusão razoável, então,
era a de que muitos respondentes não tinham dito a verdade. Tudo o que a
pesquisa revelara era um alto índice de esnobismo. No fim, verificou-se que, se
alguém quisesse saber o que certas pessoas liam, de nada adiantava perguntar a
elas. Seria possível descobrir muito
mais indo à casa delas com a proposta de comprar revistas velhas e perguntar
quais elas tinham.“
Essa
é outra forma de dialética [criada por mim] do: “Se não dá de um jeito, dá de
outro”. Se uma trilha lógica não dá certo, então que se mude para outra rota
lógica. Se o caminho fácil está obstruído, tem que ir por outro caminho, mas
sempre buscando o objetivo final. O objetivo em questão, no livro citado
anteriormente, era saber quem lê revista A ou B, sendo que a lógica óbvia da
pesquisa falhou no seu objetivo, então a outra lógica serviu para satisfazer a
curiosidade em questão – que é comprar revistas velhas para saber quem lê o que
em determinada região.
A
mesma coisa acontece na política, em que, para buscar o objetivo, deve-se ir
para um caminho diferente do habitual. Por exemplo, se nas outras eleições havia
a dicotomia PT-PSDB, bastava um ser oposicionista do outro que a lógica já
estava em vigor [quem venceria dependeria e depende do eleitor]. Mas agora, com
essa dicotomia expurgada, os partidos devem se adaptar e buscar outras formas
para vencer a eleição. E o PSDB optou, nesta eleição, por ser a opção de centro
na vertente eleitoral. E veja só como dá certo, o PSDB está vivo no pleito,
podendo ganhar essa eleição pela coalizão. Portanto, dialética do: “se não der
de um jeito, dá de outro”.
E,
por fim, há também a conhecida estratégia das tesouras, que é a síntese [dita
por mim] de dialética do: “tá tudo dominado”. A tese é defendida por um ideal;
a antítese faz parte do grupo que defende esta tese ideal; a síntese diz que a
tese ideal será imposta tanto por tese ou antítese. Um exemplo disso está na
ditadura militar também, em que o sistema criou o MDB como oposição, ao impedir
outras vertentes políticas de serem inseridas em eleições estaduais e municipais,
em que o MDB fazia os seus políticos biônicos, que, no final, se alinhavam com
a ditadura. A ditadura fez a estratégia das tesouras, pois só havia por
imposição de lei [AI-2] só dois partidos, o MDB e a Arena.
Portanto,
o mundo é guiado pelas contradições. E se Maquiavel insinuou que o fim
justifica o meio [essa frase não está no livro], então, na dialética, há de se
interferir no meio para obter o fim. As duas lógicas estão certas, pois são
estratégias para ultimação, para conquistar no fim o resultado desejado.
Porque, não importa a cor do gato desde que pegue o rato, o que importa é
conseguir, obter a realização.
Estratégias para Ultimação de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.
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