Por: Júlio César Anjos
O
Sistema - ou como preferir: “O Mecanismo” - tem as suas bases de sustentação
sem as quais seriam impossíveis de se manterem em pé. Ele existe, rege a sua
vida e faz articulações nos bastidores para que a massa não se dê conta da
existência desta manipulação. O Sistema é como um fantasma obsessor que
controla o povo sem que essa população consiga enxergar tal domínio. E sobre
esta elite, houve no período entreguerras um gênio da arte que enxergou tais
composições com maestria, ao contemplar os pilares da sociedade em tela. Seu
nome é George Grosz. O que ele pintou ontem na Alemanha nazista é a fotografia
do mesmo modelo de poder que é encontrado hoje, no Brasil, com a forma um pouco
modificada, mas com essência sendo igual.
Em
1926, no mesmo ano em que foi publicada a autobiografia do Hitler [Mein Kampf],
George Grosz pintou o que chamou de “Os Pilares da Sociedade” [figura no fim do
texto]. Segundo o artista, os pilares são compostos por tais agentes: O Clérigo
[Igreja]; o líder Político [política]; o Nacionalista [o sentimento do pensador];
o Jornalista [o propagador de informação] e o exército [quem segura esta
estrutura toda mediante força]. Se analisar para os dias atuais, é a mesma
estrutura que rege a sociedade em pleno século XXI. Um sistema com poucas modificações
é bem verdade, mas nada que se transfigure de forma anormal daquilo que fora
configurado outrora pelo artista alemão. Ou seja, a estrutura do sistema hoje
possui os mesmos pilares do século passado, mostrando que a elite domina tudo
da mesma forma sempre e sempre.
Marx
dizia que a história se repete primeiro como tragédia; depois como farsa. Como
no caso dos pilares da sociedade que anunciavam o nascimento do sistema
perverso do nazismo, na ditadura militar brasileira, a composição era igual ao
alicerce criado pelo nacionalista alemão, com o clérigo [marcha para família
com Jesus]; líder político [generais do exército]; o nacionalista [o pensador
que vai desde Lacerda até Golbery]; o jornalista [a mídia em geral alinhada à
ditadura], e o exército [que é a força que acoberta a tirania]. E a história todo mundo já sabe, repetida
pela nazista e a ditadura militar brasileira, vai desde cercear direitos até
supressão da democracia.
Mas,
assim como o totalitarismo alemão caiu após perder a 2ª guerra, a ditadura
militar capitulou no Brasil porque o sistema político esgotou, embora o sistema
de poder mantenha-se o mesmo até hoje. Neste
sentido, veio a redemocratização, tanto lá quanto cá, que deu garantia para a
massa poder, de tempo-em-tempo, escolher o governante para a nação. Mas como o
povo é um coletivo de emoções, tanto lá quanto cá, ressurge a fusão nefasta de
nacionalismo com a religião. Lá, a Alemanha, hoje, tem dificuldade de governar
por causa da extrema-direita. E cá, surge um extremismo que está fazendo o brasileiro
ter dificuldade até de sorrir e de brilhar.
Diante
disso, no Brasil, se a história primeiro surgiu como tragédia, ao surgir o
militarismo que fechou a política de forma total, agora a história repete-se
como farsa, em que a extrema-direita se camufla como democrática, mas com
discursos inflamados para cooptar a massa. E hoje se tem os mesmos pilares, que
o George Grosz pintou, que querem tomar o poder. Eles são: o clérigo [Silas Malafaia,
Marco Feliciano, gideões, e outros poderes evangélicos]; o líder político [com
os Bolsonaros liderando a manada]; o nacionalista [com o pensador-mor chamado
Olavo de Carvalho]; o jornalista [com a mídia internacional chamada de redes
sociais que propagam o extremismo – com Felipe Moura Brasil e Alexandre Frota -, além das Organizações Globo aliviando para o “mito]; e o exército [que está
com sentimento de pertencimento e está satisfeito com o candidato sendo
militar].
Se não
bastasse tudo isso, os cenários caóticos provocados pelas esquerdas é a mesma,
como nos casos da Alemanha entreguerras; e no nascimento da ditadura militar no
país - por causa da guerra fria; neste momento atual em que vive o Brasil, neste
fim de ciclo PT-PMDB no poder. E são nessas bagunças que um salvador da pátria
emerge para aumentar o poder, mas com a narrativa de querer salvar a nação. Campo fértil para o extremismo triunfar – assim
como triunfou com Hitler num passado não muito distante.
Portanto,
se George Grosz estivesse vivo, e visitasse o Brasil para fazer uma pintura
sobre o cenário político do país em ascensão, teria na composição a pintura das
personagens: Marcos Feliciano líder religioso com a cara de demônio; o líder
político Bolsonaro com estrume na cabeça; o nacionalista Olavo de Carvalho com
a figura de um Napoleão ilustrada como holografia na sua cachola; a mídia -
com Felipe Moura Brasil e Alexandre Frota, com penicos na cabeça - que dá
liberdade de expressão para extremista se expressar -; e o exército atual com
cara de carrasco porque está com vontade de elevar e segurar esse sistema no poder.
E se lembrar de que o sistema é uma espécie de fantasma obsessor que te
assombra todo santo dia, então é certo que o Brasil corre o risco de ter dias
sombrios com o que está sendo aceito por aí. Foi assim na Alemanha nazista e na
ditadura militar, quando pessoas alheias á democracia vieram com a ideia de fazer
fusão entre nacionalismo e religião. E, assim como George Grosz indagou, os
sensatos possuem a mesma dúvida: Tempos sombrios estão por vir?
Obs:
A pintura em tela de George Grosz já seria maravilhosa se fosse criada após o
findo da segunda guerra. Mas esta obra fora feita no período entreguerras,
mostrando que essa obra é um presságio sobre extremismo em ascensão. Como sabido,
George Grosz, assim como FHC (Fernando Henrique Cardoso), foi exilado de seu
país por pensar demais.
Fonte:
Os Pilares da Sociedade – George Grosz – 1926. [Livro Tudo sobre Arte, pg: 422]
Os Pilares da Sociedade de George Grosz e os Sistemas de Ontem e de Hoje de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.
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