Por: Júlio César Anjos
Que
fique bem claro sobre este episódio das crianças engaioladas: Trump não é
totalmente culpado por esse transtorno social causado porque só está sendo
populista e cumprindo o que prometeu em campanha. Culpado é uma parcela do povo
americano em ter esse tipo de comportamento. Se o povo não referendasse tal
atitude, Trump não ousaria fazer essa ação, pois seria impopular e sepultaria o
próprio governante, bem como o seu partido em questão. Porque o problema do
presidente norte-americano é o fator de natureza utilitária. E é sobre isso que
o artigo irá se embasar.
Antes
de tudo que se faça um adendo sobre esta lei que faz separar o filho do pai
imigrante ilegal. Essa lei foi feita pelos Democratas [apesar de que essa lei
fora aprovada por causa da pressão social do americano em geral para que se
façam essas atitudes, ou seja, o povo fez os democratas errarem]. Mas, em todo
caso, vale ressaltar, a pensar neste seguinte exemplo. Segue: Suponha que no
último dia de mandato, um candidato de um partido A sancione uma lei em que o Estado
possa matar qualquer pessoa sem sofrer sanções nem represálias nem contestações.
O sucessor, sabendo desta lei, começa a matar geral, sob a alegação que a lei
veio do antecessor. Pergunta-se: Só pelo fato da lei existir, mesmo sendo burra
e de regime anterior, dá o direito de aplicá-la? Trump executou uma lei burra
com ódio no coração e agora se defende sob a alegação que a lei era anterior ao
seu mandato.
Após
compreender pormenores, o primeiro jabuti deste problema do Trump, de engaiolar
crianças imigrantes separando-as dos familiares, se dá no sentido de que a
eleição norte-americana não é majoritária, é por colegiado, em que quem recebe
mais votos no geral não necessariamente seja eleito presidente. Ou seja, a
eleição americana não é utilitária, pois, se utilitária fosse, Hillary seria a
presidente do país porque fez mais votos que o seu concorrente. O pleito estadunidense
é por colegiado por causa de controle de poder. E isso pode ser exemplifico
como comparativo com o que ocorre na eleição no Brasil. Desde a
redemocratização, o presidente brasileiro é do nordeste ou do sudeste, tendo apenas
uma exceção: Sarney – Nordeste; Collor – Nordeste; Itamar Franco – Ultramarino;
Fernando Henrique – Sudeste; Lula – Nordeste; Dilma – Sudeste; Temer – Sudeste.
Se o Brasil tivesse a mesma estrutura americana, o pleito seria por colegiado,
com os delegados equilibrando as regiões. Sendo assim, pela negociação de
poder, ao ter que convencer delegados [e não a maioria da população eleitoral],
poderia haver até mesmo um presidente de o centro-oeste eleger-se por causa
desta regra do jogo. Mas como o Brasil é utilitarista, quem é de região
populosa sai na frente por ter bastante voto na largada. Não entrando na discussão
de qual sistema é o melhor, o fato é que Trump não se elegeu por maioria.
Deste
modo, o utilitarismo tem o seguinte lema: Proporcionar o máximo possível de
felicidade para o máximo possível de pessoas. Este lema, se não for bem compreendido,
pode gerar ditadura da maioria, em que a maioria destrói a minoria. E para
isso, o utilitarismo criou dois estanques, que são chamados de “Principio do
dano” e “consequencialismo”. No Princípio do dano, todo individuo pode buscar a
felicidade desde que não provoque infelicidade a uma ou a várias pessoas. E o
consequencialismo prega que somente no momento do ato que se determina se tal
ação é correta ou não, dependendo de variadas situações. Como o
consequencialismo é difícil de entender, então cabe exemplificação. Suponha que
há uma guerra e que um exército amigo conseguiu capturar soldados vivos do outro
exército inimigo. A lógica utilitarista é que o exército amigo se livre dos
soldados inimigos. Mas como se livrar? Há três modos para fazer esta ação: 1)
Liberta o inimigo para voltar vivo para o seu exército [ou pode livrar mediante
negociação para resgatar outro prisioneiro de guerra]; 2) dar um tiro fatal na
nuca e deixar que a terra faça o resto do trabalho; 3) estabelecer a esse
soldado preso de guerra prática de tortura, humilhação, torná-lo cobaia de pesquisa
científica [ao abri-lo ainda vivo pra estudar], para mata-lo no fim do processo.
Diante destes escrutínios, lógico que a última opção é hedionda, consequencialismo
condenável até mesmo pelos militares de todo o mundo.
Outrossim,
é justamente na questão consequencialista que o Trump está sendo criticado, e
com razão, por todos os lados. Porque ser contra migração tudo bem, é um
direito. Fazer deportação também é uma atitude habitual entre nações. Agora,
ofender os povos fronteiriços [como no caso do Trump ameaçar os japoneses
enviar mexicanos para o Japão, dando claramente a entender que mexicano é
sub-raça], fazer desta pauta sensível de migração como bandeira
político/partidária, e se não bastasse ficar só no campo das ofensas, e nas
ações também chegar ao ponto de engaiolar crianças - que do ponto de vista humanitário
ao estético é plenamente condenável -, tal atitude mostrou quem é realmente o
senhor Trump. Porque há vários modos de deter uma migração, sem que se precisem
engaiolar crianças para isso [como, por exemplo, manter detidos todos os
migrantes em uma quadra fechada, por exemplo, dando amparo até saber o que
fazer com tal grupo].
E
pelo ponto de vista do dano, o certo é que a visão de bem-estar social do
americano é concordante com a lógica do Trump, então a questão do migrante
estar impedindo que os EUA “melhorem” ainda mais [porque estão impedindo o “make
america great again”], por serem culpados por isso, mostra que o Trump, embora
tenha errado no consequencialismo, no aspecto utilitário cru, o presidente
americano só está ofertando aquilo que o povo, de certo modo, demanda. Ou seja,
por mais execrável que seja a ação, por própria adoção do americano em geral,
essa lógica de migrante vilão é populista [lembrando que na época da Alemanha nazista
também era].
Portanto,
A gaiola do Trump, que prendeu crianças indefesas, é só o resultado final de um
conjunto de fatores que vão desde o populismo até o consequencialismo decidido
de maneira errada. E apesar do Trump ter sido eleito por colegiado, neste ponto
específico de migração, se esta pauta migratória bastasse para decisão
eleitoral, Trump seria presidente também de maneira majoritária. E não importa
aqui tentar defender-se desta excrecência de engaiolar crianças sobre a perspectiva
de que uma lei para isso já existia, pois tal defesa não procede porque os
democratas, ao menos, não ofendem de maneira contumaz, os imigrantes. Às vezes
o problema não está na ação em si, que em alguns casos podem ter alguma lógica
ou razão, mas nas atitudes em dada situação que podem comprometer o processo
decisório e fazer a reversão da lógica do populismo por causa do seu resultado
final desastroso. O presidente norte-americano agiu errado. Então, agora, deve
arcar com as consequências. O Trump foi vilão.
Obs: esse texto atrasou e semana que vem não haverá postagem. Problemas de saúde familiar.
A Gaiola de Trump e o Utilitarismo Consequencialista de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.
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