Por: Júlio César Anjos
Abril
é realmente uma data amarga para os democratas. Em 02 de Abril de 1964, no dito
fechamento político, os militares deram o golpe de vez (dia 11 Castelo Branco
tomou posse). Em 21 de Abril de 1985 mataram o Tancredo Neves (dia 22 assumiu a
múmia do Sarney – não deixaram nem o corpo esfriar). Já neste ano de 2018, no
dia 7, Lula foi para a prisão, além de Aécio ter se tornado réu. Neste último
caso, ao fazer um parâmetro com o passado, parece que a elite não gosta dos
Neves no poder. No entanto, esse não é o caso. O fato é que esta eleição de
2018, por não haver os dois principais candidatos concorrendo ao pleito,
citam-se Lula e Aécio Neves, além das legendas de PT e PSDB enfraquecidas, este
vácuo de poder faz uma espécie de nova Abertura Política e uma nova Frente
Ampla no sufrágio, dá a possibilidade de outros candidatos, de várias vertentes
ideológicas, sonharem com a faixa presidencial. É por isso que nenhum candidato
chega a 20% de intenção de votos, no primeiro turno, nas pesquisas eleitorais. E
é sobre este leque político que o texto analisará a respeito.
A
Abertura Política foi um movimento que fez com que os militares devolvessem o
governo e a democracia para os civis. Em 1985 teve a eleição por colegiado, em
que Tancredo Neves venceu, mas não assumiu; e em 1989 teve a eleição direta, em
que Collor ganhou, mas não terminou o mandato. Abertura à brasileira, diga-se.
Mas o que a abertura daquela época fez de fato foi dar oportunidade para que a
corrida eleitoral de 1989 fosse plural. Por isso que naquele sufrágio, mais de
20 candidatos disputaram eleição, indo para o segundo turno 2 populistas: 1) O
que daria calote na divida externa (Lula); 2) e caçador de marajás (Color).
Hoje, há algumas caricaturas mais ou menos do mesmo quilate do século passado,
como, por exemplo, Ciro Gomes [quer rever juro e rolagem de dívida – calote
branco] e Bolsonaro [o honesto milionário], que nada mais são do que versões
customizadas dos seus entes políticos do passado. Todavia, vale ressaltar, se
esta eleição de 2018 tem a cara do pleito de 1989, o “honesto milionário”
certamente é parecido com o “caçador de marajás", então é de se esperar
que 2020 tenha tudo para ser semelhante a 1992. Porque essa abertura dá a
pluralidade deste leque de escolhas; mas este leque de escolhas faz o politico
apolítico não conseguir governar. Regras do jogo.
Já
a frente Ampla foi uma união entre dois adversários históricos, Carlos Lacerda [que era reaça e depois foi expurgado pelos militares] e Juscelino Kubitschek [esquerdista
acossado pelas autoridades], ao tentarem juntar forças para confrontar a
ditadura militar. Não deu certo porque houve o fechamento político. Mas a remodelagem da frente ampla nos dias
atuais é compreendida como uma aliança entre várias vertentes em um interesse
comum. No Brasil, como há mais de 38 partidos, sendo que 36 até pouco tempo
eram inúteis na majoritária presidencial, diante a polarização PT X PSDB, a
frente ampla se dava por mera coligação. Em muitos casos, as coligações eram
totalmente fora de lógica ideológica ou até mesmo de lógica política [caso
emblemático: Lula e Maluf se apoiarem]. Todavia, há mudança em curso. A mudança é que agora há a existência do
centro no espectro político [o que na polarização, por motivo óbvio, não existia].
Partidos
de Centro, nesta eleição, mesmo que não ganhem o pleito, terão, daqui pra
frente, maior flexibilidade em transitar em várias bandeiras ideológicas ao levarem
vantagem pela articulação. As coligações, agora, ao invés de serem somente de
caráter fisiológico, deste modo, poderão ser também ideológicas, dentro de uma
lógica de longo prazo. Simples cabo-de-força na política
Após
a finda polaridade PT x PSDB, de um binarismo de décadas, esta estrutura, neste
momento, também mudará a forma como os políticos angariarão os seus quadros
eleitorais. Se na divisão entre tucanos e petistas havia uma espécie de engessamento
de bandeiras ideológicas e de bases eleitorais, diante da mudança de quadro
geral por causa da impossibilidade dos principais candidatos destes dois
partidos serem inviáveis ao pleitearem suas campanhas, um pelo motivo de prisão
e o outro pelo do esvaziamento de apoio, o certo agora é que essa abertura
política do século XXI fará mudar também os arranjos partidários de maneira
global. Está mudança traz consigo um
contexto que torne a política mais flexível, ou seja, cria-se a frente ampla de
aglutinação de várias bandeiras ideológicas, além de unir, por interesses
variados, as estratificações eleitorais, dentro de um só partido que consiga
atrair tais forças eleitorais. O Frankenstein Político deixa de ser algo
pitoresco para virar algo normal.
Deste
modo, ao analisar que, por exemplo, o movimento LGBT sempre foi do PT, na
polarização PT x PSDB, criando um engessamento por viés ideológico e falta de
opção partidária, os tucanos sempre tinham dificuldades de abertura de diálogo
com esta bandeira por causa deste enrijecimento eleitoral. A mesma coisa
acontecia de forma inversa aos evangélicos, que quase sempre eram contra o PT,
e, por isso, nunca saiam do apoio dos adversários do partido dos trabalhadores.
Com essa nova dinâmica desta eleição de 2018, é perfeitamente possível que um
candidato do centro forme alianças tanto com LGBTs quanto com Evangélicos, o
que na polarização passada seria impossível, criando essa frente ampla do
século XXI. Sem falar, também, nas bases eleitorais, o que é conhecido
jocosamente como “curral eleitoral”, em que tais regiões terão que escolher não
somente um candidato de campanha, mas conjuntos de candidatos, aumentando o
leque de opção. Ou seja, por exemplo, uma região que tenha viés político mais liberal pode
perfeitamente estar com Amoedo e Flavio Rocha ao mesmo tempo. Portanto, esse negócio
de fechar somente com um político, ao mostrar-se extremista na largada, por causa do ranço do binarismo PT x PSDB no passado, diante
a mudança do quadro eleitoral, é tiro no pé.
Agora,
justamente essa abertura faz com que as negociações com as bandeiras diversas
no âmbito social sejam mais flexíveis e isso mantém o PSDB ainda vivo nesta
eleição, mesmo com todo o “ataque soviético” impetrado pela elite contra os
tucanos. Alckmin, com a pesquisa passada achou o seu piso (menos que 7% não cai
em percentual eleitoral). Agora, o candidato tucano tem que buscar o teto (que
estará no eleitor desiludido que quer anular voto porque não tem Lula na urna,
além de reverter uma parcela do eleitorado do “mito”, daqueles que se cansarem de
serem iludidos por um político que não propõe nada). E isso só é possível
porque eleitor não vota em partido, vota em candidato, e também porque os
tucanos adaptaram-se rapidamente, ao compreenderem a situação eleitoral no
país. Tanto é que tucano não ataca mais nem o PT nem Lula, pois está de olho
neste novo filão eleitoral.
Portanto,
adapte-se ou morra. Essa Nova Abertura Política e essa Nova Frente Ampla nesta
eleição Presidencial de 2018 bagunçará ainda mais a corrida para o executivo
nacional, e terá como vitorioso aquele que conseguir unificar as forças, ao
articular politicamente, sendo maleável na dinâmica entre bandeiras ideológicas
e bases eleitorais Brasil afora. Essa nova composição de sufrágio, ao acabar
com a polarização partidária, veio pra ficar [próximas eleições], ou seja, é
notório saber que a velha forma de fazer campanha já não serve mais. Quem
conseguir fazer a leitura e compreender esse processo de renovação terá vantagem
no pleito, mesmo que este ente esteja, por hora, desgastado e acossado pela
justiça. Uma hora a justiça também se desgasta e alguma normalidade há de
vingar. E neste cenário, os tucanos saem em vantagem porque já compreenderam o
quadro geral desde já. O centrismo vencerá.
A Nova Abertura Política e a Nova Frente Ampla Na Eleição Presidencial de 2018 de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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