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Hitler: O Coxinha que virou Pobre de Direita

Por: Júlio César Anjos

Hitler nasceu numa cidade do interior da Áustria. A sua família, de classe média conservadora, tinha como patriarca o seu pai, um funcionário público do Estado. Sua educação é precedida no âmbito familiar, em que Adolf já pesquisava na biblioteca do seu tutor tudo sobre o que mais gostava: questão de ordem militar. Na escola, apreciava as disciplinas de História e Geografia, justamente itens que focam forças armadas e Estado mentor. Mas, embora um pequeno patriota sob a influência do seu genitor, Adolf gostava mesmo era de pintar – e queria ser pintor.  Porém, como a vida não se configura só de situações positivas, a desgraça aparece sem bater na porta nem pedir licença, invadiu a vida pessoal do Hitler sem vacilar. Hitler, um adolescente Coxinha, ficou órfão de pai e mãe. Sem o rentismo bancado pelos pais, necessitado pela dada situação, o jovem teve que se emancipar; e, desde cedo, começou a trabalhar. Já na vida adulta, com boa escolaridade e convicção resoluta, sentiu na pele o infortúnio dos desvalidos e, pela projeção do seu fracasso pessoal pela desgraça em vida, culminando até o ponto de ir preso, projetou o próprio problema individual com a crise de âmbito nacional. Adolf Hitler, enfim, virou pobre de direita.  É neste contexto que a tragédia mundial eclodiu.  O resto, como se sabe, é História... Que será contada aqui.

Na adolescência, Hitler tinha interesse em duas ocupações: 1) Aprendizado sobre questão militar e Estado mentor; 2) e a artística, a pintura.  No primeiro caso, Adolf foi influenciado por meio de tradição, em que o seu pai, um pobre de direita que ascendeu e virou coxinha, incentivava o seu filho, por meio de investimento em educação voltada a essas questões, mais focados para o funcionalismo. No segundo caso, Adolf queria ser pintor por vocação e apreciação. Mas o seu pai não queria filho artista. Chegou até a enfurecer-se: "Pintor! Artista! Pintor, não! Enquanto eu viver, nunca!". Este conservadorismo tacanho que obriga o filho a ser o que o pai deseja é muito visto até mesmo nos dias atuais, em que um tutor impede um tutelado prosseguir em uma dada profissão ou porque esta ocupação é saturada, ou não possui status social, ou é mal remunerada. E isso vai além da profissão, como no caso social sobre orientação sexual, em que, segundo o pensamento medíocre do patriarca, um filho torna-se gay por falta de palmada ou cura-se o filho gay na base da pancada. A cisão entre Pai e filho se dá na visão de mundo, em que Hitler vê na arte uma coisa grandiosa, enquanto o seu pai, um coxinha obtuso, via no conceito artístico só vagabundagem.  E, portanto, pode acreditar nisso, leitor, o pai do Hitler preferia ver o filho morto a ser pintor.

Já na idade adulta, após ter abandonado a pintura por causa da falta de incentivo, além de ter virado órfão muito cedo e, com isso, perdido o conforto nababo de Coxinha, o que ficou foi somente a frustração de um homem que poderia ter boas condições sociais e financeiras, porém, por causa das agruras da vida, tornou-se pobre de direita. O problema de caráter personalíssimo de Adolf assemelha-se ao infortúnio do alemão na então “república de Weimar”, uma região derrotada em guerra e inferiorizada como nação, por causa dos problemas econômicos e sociais em que sofria aquele dado país. Com a educação e a instrução de um coxinha, somado com a vivência dos infortúnios e idiossincrasias do pobre alemão, Hitler conseguiu, ao entrar na política, fazer a maior máquina de matança – seja dentro do país ao caçar aquele que não era germano, seja fora do país, ao criar a segunda guerra mundial –, com a raiva como bandeira, e o ódio como projeto de nação.

Hitler, ex-militar da reserva, ao entrar na política, foi populista e estadista de extrema-direita.  Populista, ao falar o que o povo queria ouvir; Estadista, ao entregar de fato aquilo que prometeu em autobiografia escrita na cadeia. Com isso, Hitler teve sua ideia escutada em várias partes, discursos e debates geridos dentro e fora do partido, em palanques, salões, e até em circos, em qualquer lugar em que o extremista tivesse oportunidade para falar e enviar o idealismo fanático da direita para os alemães carentes em tudo, desde questão financeira até sentimental, a voz tinha ressonância ecoada pelo tirano que prometia o esplendor. Afinal, eles queriam conservar o purismo de sangue, o reich, e a tradição cultural do germano na região. Isso levaria a Alemanha a potencia mundial. E levou.

Deste modo, porém, o que não se aprende na escola e não aparece em verbete de dicionário, embora devesse constar, é que a produtividade do militar é medida em empilhamento vertiginoso de cadáver e em produção elevada de escombro. O que remete a outro cuidado: dar poder demais para quem já tem [amplos poderes para forças armadas] cria-se tirania. Como para a mente do militarismo martelo tudo é prego, o diálogo da ideologia intervencionista militar cristaliza-se só mediante da bala. Então, o pobre da direita, povo que foi tão manipulado que chegou a virar amplo movimento de massa de ideologia na república de Weimar, amava o militar porque cria no milagre das forças armadas em conduzir o país a um novo patamar, porque acreditava em solução simples para questão complexa, e, com isso, começou a aceitar barbaridades de tudo quanto que é tipo, valendo absolutamente tudo pela causa salutar. Na Alemanha de Hitler, só ficava vivo quem era coxinha (de sangue puro) ou pobre de direita (se não tivesse sangue puro, poderia servir para escravidão). Nada mais.

Contudo, como se sabe, o extremismo não para por livre e espontânea vontade, ele é parado à força. Por isso que o expansionismo pangermânico gerou a segunda guerra, que fora perdida pelos alemães de forma vexaminosa. Neste cenário, o pobre da direita alemão se viu mais arrasado ainda, ao ter como resultado prático mais desgraça, mais dívida, mais cisão territorial, mais desilusão, tudo porque acreditou no Coxinha que virou pobre de direita chamado Hitler. Agora, se o alemão fosse um pouco desconfiado com a politica e indagasse que o Hitler queria fazer alpinismo social e voltar a ser Coxinha por meios políticos [que na verdade era isso mesmo que Hitler queria], entenderia que tudo aquilo poderia ser malandragem, com as investidas do tirano sendo abortadas justamente porque o povo alemão não acreditou em conto de fadas e fez articulação política. E não teria radicalismo, nem Hitler como “herói”, nem mesmo segunda guerra mundial. Um povo interno acreditou num charlatão.

Hitler queria ser artista. Mas o Coxinha do seu pai, por ser conservador, não o deixou seguir a profissão de pintor. Desde cedo gostava de militarismo e estado interventor. Porque, como sabido, filho de coxinha, coxinha é. Teve boa educação, foi bem instruído, embora não gostasse da escola por motivo de revolta, teria tudo para ser alguém na vida se não fosse o infortúnio de ter virado órfão. Os infortúnios da vida fizeram Hitler virar pobre de direita, um capitalista sem capital. Serviu o exército e foi combatente.  Foi preso. E para voltar a ter ascensão social, e voltar a ser Coxinha, fez alpinismo pelo atalho mais fácil que existe: o meio politico.  Por causa dos percalços da vida, virou o que o pai espelharia e desejaria: funcionário público do mais alto escalão [todo tirano tem a função pública]. Como político, foi populista - ao falar o que o povo queria ouvir -, e estadista - ao entregar o que tinha prometido. Em breve período, fez da Alemanha potência mundial. Utilizou a máquina estatal para empilhar cadáver e criar escombro. Perdeu a guerra. Entregou a Alemanha pior do que do jeito que recebeu. Fracassou.  E mesmo assim, mesmo de forma tímida, há quem insinue que é este o caminho a trilhar.

Portanto, se for criar uma ilustração narrativa no que acontece no país, diante tudo que foi aprendido na história, daquilo que se configura nos dias atuais, se o Hitler estivesse vivo hoje, e fosse brasileiro, leria Olavo de Carvalho, votaria no Bolsonaro e pediria Intervenção Militar (O triunvirato do caos). É mesmo uma aberração.




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