Pular para o conteúdo principal

Em Defesa da Valorosa Valois

Por: Júlio César Anjos

Diante o linchamento virtual praticado pelos moralistas de internet, é preciso explicar o porquê a Valois tem razão sobre a sua reclamação e que até a argumentação utilizada para defender a tese de receber os proventos, alegando escravidão, é moralmente certo e racionalmente digno.

Para entender a situação, suponha que uma caixa de supermercado ganhe R$1.500,00 (hum mil e quinhentos reais) por mês na ativa. E que essa profissional se aposente. Ao aposentar, essa trabalhadora vai procurar voltar ao mercado de trabalho e, com experiência que tem, aloca-se como caixa de supermercado novamente, ganhando a mesma coisa: R$1.500,00 (hum mil e quinhentos reais) por mês na ativa.  Essa trabalhadora acerta detalhes e começa a trabalhar em um supermercado qualquer. Passado 1 (um) mês, ela espera o seu ordenado de trabalho, além do de aposentado, acreditando acumular a renda de R$3.000,00 (três mil reais) por mês. Mas, para o desanimo dela, o patrão diz que a trabalhadora só poderá receber R$1.500,00 (hum mil e quinhentos reais) de aposentadoria por mês, não podendo acumular ordenado. Essa trabalhadora fica revoltada e vai buscar os direitos, pois, trabalhar de graça é próximo do que se tem de atividade escrava. E, após isso, para de trabalhar, pois nem relógio trabalha de graça.

Às vezes, uma situação é legal, mas imoral; em outras, é ilegal, mas moral. Nem tudo que é ilegal é imoral e vice-versa. Neste caso da caixa do supermercado, no parágrafo anterior, é moral e legal a caixa receber a aposentadoria e o salário da ativa, acumulando renda nestes dois fatores. Já no caso da Valois, é moral receber os dois ordenados, embora seja ilegal por causa do teto constitucional e da lei da transparência. E só é ilegal porque a lei é burra tanto no sentido tangível quanto intangível da questão.

Mas aí, alguém dirá: “Ah, mas a Valois sabia da lei, aceitou porque quis”. Não foi bem assim. O governo Temer, como sabido, nasceu de umbigo roxo. O Interino já iniciou o mandato sem popularidade, fragilizado, praticamente um cadáver político. Diante disso, precisava de quadros que satisfizessem uma boa imagem internacional. E para o quadro de Secretaria de Direitos Humanos, o tucanato, que virou base de apoio do governo falido, resolveu indicar a Valois para a pasta em questão. Agora, veja o “combo” de qualidade de atribuição da tucana para a pasta: Negra; Mulher; de Origem Pobre; e da religião Candomblé; que venceu na vida ao ser desembargadora por mérito próprio – na caneta. O mundo, ao olhar a secretaria de direitos humanos, ao ver toda essa estratificação na Luislinda, com certeza fez com que a gestão Temer ganhasse um pouco de vigor, com a tucana virando uma espécie de peça de panfletagem, de propaganda internacional - pelo seu curriculum de vida e sua vitória e superação. Ou seja, não é a Luislinda que está “roubando” o povo porque quer receber a aposentadoria e o salário acumulado; é o brasileiro que está sendo beneficiado – e não sabe disso – ao tê-la no quadro ministerial. A Valois já é aposentada e ganha bem. Se for para não receber nada e ainda ser linchada por moralistas de ocasião, então o melhor a fazer é ela voltar pra casa. Simples assim.

Diante disso, é belo, é moral, e o certo a fazer é abrir uma exceção e pagá-la como deseja, além de cumprimentá-la ao respeito de chefe de estado que exerce tal função, diante a situação que o país se encontra, ao comparar a sua excepcionalidade em ser uma mulher forte, de fibra, de valor, que faz o serviço de servidor de um governo que já morreu e só falta enterrar.  R$ 30.000,00 (Trinta Mil reais) por mês é valor irrisório se for verificar o quanto que a desembargadora consegue atrair de confiança internacional para este governo necrosado do interino Temer.

E que fique bem claro que a Valois, enquanto aposentada e servidora ministerial, não pegou os dois ordenados acumulados, cumpriu a lei, embora tenha somente reclamado que está trabalhando sem receber, portanto está desempenhando um papel escravo, citação que não é nenhum escândalo, já que a definição de escravidão é trabalhar sem receber.

Portanto, Luislinda Valois, você não deveria desistir deste provento, deveria desistir do cargo de vez e abandonar e deixar de fazer probono para quem não merece. Luislinda, vá viver a vida livre e aposentada. O Brasil não merece a sua grandiosidade. Obrigado pelos serviços prestados, valorosa Valois.


Não sei se vale muito, mas eu agradeço a você pela sua capacidade, caráter e todos esses anos dedicados a servir o país. 


Comentários