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Eleição 2018: Iluminados; Ideias Coletivas; e Botas

Por: Júlio César Anjos

Falta um ano para a eleição presidencial de 2018 e a pergunta que fica é: O impeachment valeu a pena? Respondendo curto e grosso: Politicamente, infelizmente não [no campo econômico, sim. Mas isso aí é voo de galinha]. Porque, parafraseando a ex-presidente Dilma, “dobrou a meta” do populismo nacional.  Pois, se antes, em todo o moroso e cansativo processo da destituição, ao ouvir o pulsar das ruas, as cabeças pensantes deste país queriam não só o fim da corrupção, mas também a remoção da ameaça totalitária como objetivo-fim, então, saber que os líderes de pesquisas de intenção de voto, neste momento, constituem-se como dois “mitos” autoritários é algo assustador. Todavia, revelador ao mesmo tempo. O Brasileiro comporta-se do mesmo modo que países que já desdenharam a democracia: idolatrando iluminados, insuflando ideias coletivas e angariando botas (exercito). Perigoso.

O impeachment da Dilma gerou um vácuo de poder político que tem tudo para ser preenchido por algum tipo de extremismo. O mais provável será o de cunho patriótico-nacionalista. Com o slogan: “soberania Nacional” em voga, caso o leitor não saiba, nacionalismo é uma ideia extremamente coletivista e que tanto Bolsonaro quanto Lula já utilizam este fator como mote de bandeira eleitoral. O Lula se diz patriota porque, quando presidente, não foi “entreguista privatizador”. E o Bolsonaro porque é de origem militar. Diante disso, ao buscar pela literatura, no que já se tem de histórico no Brasil, Lima Barreto tem muito a ensinar sobre patriotismo. No seu livro intitulado: “Triste fim do Policarpo Quaresma”, o autor mostra, de forma clara, como é errado projetar o idealismo em cima de uma figura popular. Policarpo Quaresma simplesmente confundiu ser patriota com defender o carrasco do Floriano Peixoto. Teve o seu triste fim [merecido]. Portanto, ser patriota não se confunde em defender Lula, Bolsonaro, ou qualquer outra figura popular. Lima Barreto está aí para provar.

Deste modo, os iluminados [Lula e Bolsonaro] fazem desde já a eleição de 2018 como uma espécie de cronometragem regressiva de apocalipse, em que só os iluminados podem salvar o país da grande tragédia que está a chegar. Caso contrário, com os adversários vencendo o pleito, o país, segundo eles, tenderia a colapsar [e desta vez os dois com razão, pois, tanto um quanto o outro são agentes ameaçadores da democracia]. Por isso que somente os dois sabem o caminho secreto para chegar ao “Eldorado de Cândido”. Só os dois podem conduzir a nação para um novo patamar. Porque são iluminados. Neste sentido, este fenômeno é explicado porque certa parcela eleitoral brasileira, com convicção de seita, acredita nesse heroísmo emblemático, essa liderança natural, de ícones políticos que possam levar o país para a evolução. E é por isso que, mesmo neste cenário de incerteza, com a eleição de certo modo “longe”, os iluminados já possuem uma parcela eleitoral cimentada para o pleito em 2018. Todavia, este comportamento não é novo, já há estudo psíquico nesta direção, como no caso do livro “O homem e os seus símbolos”, de Jung, sob o estudo do “mito do herói”, que nada mais é do que a observância da imaturidade coletiva em questão social. Os eleitores nesta composição são pueris políticos; mas crianças com titulo de eleitoral que podem fazer um estrago grande, caso forneçam poder a quem não se deva elevar.

Por este modo, a ideia coletiva do patriotismo, de forma exacerbada, eleva-se em duas situações: 1) O povo deste país acredita que “pode mais” e avança com pensamentos revolucionários; 2) este povo acredita que há ameaça além-fronteiras, e tende a se fechar, ao virar conservador reacionário. É nesse momento que aparece o iluminado, para instigar e enlaçar essa parcela de eleitorado, ao inflamar o coletivo de luta nacional [seja o vilão qual for]. O Bolsonaro se enquadraria no segundo caso – questão moral -, enquanto que o Lula se encaixaria no primeiro – “Ptbrás é nossa” e culpa é da “zelite”.

Todavia, como provado de forma empírica na história, iluminados com ideias coletivas tendem a não trazer um paraíso na terra, acontecendo justamente ao contrário, a desgraça tendendo a concretizar. Esse fracasso é algo natural acontecer, pois as pessoas são falhas e, até certo modo, fracas do ponto de vista biológico e comportamental, tal fraqueza impede que os saltos evolutivos sejam materializados pela simples projeção de um ideário onírico. Neste ponto, surge o terceiro quesito observado nos fenômenos autoritários: a bota (exército) como pilar de sustentação.  A bota é o que segura o iluminado no poder e da mais tempo para a ideia coletiva se concretizar (o que não acontecerá). O problema é que esse tempo de suposta “maturação” faz desde opressão (mais brando) até extermínios (mais radical) aos que são contra o regime em vigor. Os exemplos históricos são vários: foi a bota que segurou Hitler no poder e manteve o patriotismo nazi por bastante tempo; foi a bota que segurou Lenin/Stalin no poder e manteve o patriotismo soviético por bastante tempo; foi a bota que segurou Mussolini no poder e manteve o patriotismo dos fascistas por bastante tempo.   

E aqui, agora, surgem de fato as reais ameaças para 2018. A primeira é caso o Lula ganhar a eleição. Se o Lula ganhar eleição, este sujeito não governa porque é um corrupto imoral. O exercito terá que fazer intervenção. Mas o Lula poderá ter apoio de intervenção militar internacional da ONU porque virou presidente de forma legítima. Ou seja, Lula mudaria os comandos do exército e instalaria a ditadura comunista de forma salutar.  Por outro lado, Bolsonaro não tem base, não tem capilaridade, não tem militância [só hype de internet], não tem mídia, e muito menos carisma. Não havendo renovação na câmara [e na política de forma geral], a tendência é a crise de hoje manter-se e continuar além-eleição num possível mandato de Bolsonaro, minando a sua governabilidade, com o final natural sendo a sua destituição. E aí vem o perigo Bolsonaro: os militares fazerem a intervenção para manter o “iluminado” no poder porque o sujeito é honesto e tem a boa intenção da ideia coletiva do “patriotismo” do governo, bandeira ideológica que satisfaz generais.  Ou seja, a ameaça dos dois presidenciáveis é a possibilidade da semeação do autoritarismo ser frutificado pela bota (militar). É por isso que o mundo repudia militar no poder. É por isso que política é algo para ser feito pelos civis.
  
Portanto, o brasileiro, ao brincar de ter iluminado para chamar de seu, mediante ideias coletivas oníricas, com o pedido até mesmo de intervenção militar para forçar a execução de tais atos, é certo que o patriota está desdenhando da democracia. O impeachment, ao invés de refrear tudo isso, só “dobrou a meta”, aumentando figuras heroicas na política, crescendo e maturando o patriotismo exacerbado, com o apelo à bota para conduzir de forma coercitiva por este caminho, já que há oposição que não quer esse caminho a trilhar. Há perigo no ar.  Tanto é que há até General Mourão insuflando um suposto “despertar de luta patriótica”. Ao aprender com Lima Barreto, esse patriotismo poderá se concretizar no triste fim de multidões de Policarpos Quaresmas, diante extermínios conduzidos por militares. Com Lula ou Bolsonaro o país corre perigo. Ainda dá tempo pra mudar.


Obs: Esse é o quadro que se apresenta. A menos que o Bolsonaro seja peça de “enquadramento soviético” dos petralhas, em que é a peça limpa que se elava, enquanto que a outra se suja (lula), para no final essa peça limpa associar com os “adversários” de outrora e manter-se no poder por manipulação popular. Nesse sentido, aí o negócio é eu pedir asilo político. Como não acredito nisso, o fato é que o Bolsonaro não tem sustentação para manter-se no poder, caso ganhe o pleito presidencial sem renovação total do quadro legislativo.

 Mas, como é sabido, parafraseando o Ulysses Guimarães: “Em política, até raiva é combinada”.



     
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Eleição 2018: Iluminados; Ideias Coletivas; e Botas de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
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