Por: Júlio César Anjos
Definição
(Navalha de Ockham): A Arte é toda e qualquer
criação feita pelo homem.
Nos
primórdios, o homem estava em estado natural. Inferior, talvez; superior, não.
Este ser primitivo só obtinha como sustento e manutenção de vida aquilo que a
natureza ofertava. E só. Este cenário inicial só foi possível ser modificado
por causa do intelecto do homem em saber manipular e controlar o seu meio: o
ambiente. Neste sentido, no momento em que o homem começa a pensar para agir,
esta concepção faz com que a inteligência desperte a sua mais profunda
superioridade do ser, chamada cognição. A partir disso, portanto, o homem
torna-se livre das agruras da natureza, com o esplendor desaguando na arte, que, por definição, é toda e qualquer criação feita pelo homem.
A
criação feita pelo homem -- arte -- tem como intuito a interação cognitiva do
homem para o homem, o que a isso é chamado de comunicação – seja ela verbal ou
não-verbal. Também tem a sua serventia
utilitária, ao seu uso. Por isso que essa expressão nos tempos primitivos tinha
como denominação arte rupestre, ou seja, tudo o que era feito na rocha: pintura
na rocha; escrita na rocha; empilhamento de rocha (pra fazer abrigo), artefato
de rocha (machadinho), fricção na rocha (fazer fogo) e por aí vai. Embora, hoje
em dia, as artes são catalogadas como música, cênicas, pintura, escultura, arquitetura,
literatura e etc., o fato é que a sua gênese criativa continua a mesma: som,
movimento, cor, volume, espaço, escrita e etc.
É
óbvio que, quanto mais avanços (tecnológicos) acontecem, a criação anterior
torna-se obsoleta e começa a virar duvida quanto a sua essência de ser arte,
pois, perde-se a sua utilidade e/ou comunicação. A escrita, por exemplo, na antiguidade era
algo elevadíssimo para os seus fins, seja como mera expressão de comunicação,
seja de cunho estratégico para enviar mensagem para uma civilização. Os
escribas eram artistas de alto nível; e os que decodificavam essa transmissão eram
chamados de letrados. Hoje, ler e escrever é algo básico. A escrita cuneiforme
era uma técnica suméria para levar informação para a sua civilização de forma estratégica
e clara. Hoje, ninguém conseguiria traduzir tais desenhos porque não foi
utilizada como padrão de comunicação para os dias atuais. E até esse texto, em
que na antiguidade seria algo grandioso e de alta complexidade, e que hoje não
é considerado arte porque é uma mera redação; arte é literatura (conjunto de
textos com profundidade, geralmente com uma narrativa e ilustração imaginativa).
O
homem é o único animal que produz lixo. Porque é um ser que faz muito descarte, que nada mais é do que resíduo de
um artefato mecânico (a máquina faz
produção em massa). Mas a sua essência
de produção advém do conceito artesanal,
do manual feito pelo artesão
(manufatura). Por isso que a arte não é algo só positivo, tem os seus problemas
justamente porque é algo artificial
criado pelo homem. É por isso também que o produto criado como conceito único é
arte; mas a sua replicação não. O primeiro Ford T, o primeiro trem a vapor do
Watt, o primeiro avião de Santos Dumont são artes do mais alto nível. Mas o
artefato (“pastiche mecânico”) é uma vertente do capitalismo, e como sabido que
o ramo de artes mundo afora é dominado por pessoas que não simpatizam com
capitalismo, então o artefato fica fora como conceito de arte. Mas é sim arte.
Agora,
o que todo mundo confunde: a arte somente como materialização cultural. Neste
aspecto, o conjunto de crenças e valores de uma sociedade materializa-se na
criação de museus, igrejas, universidades, indumentárias, pinturas, esculturas
e etc. Este artificio facilita a dominação politica de forma magistral. Nada
contra este ramo conceitual, desde que não seja ferramenta de ativismo a
tornar-se como régua de mensuração daquilo que é ou não é arte. Porque se a
arte de fora não é bem-vinda, surge a iconoclastia, a mais perversa e bárbara
de atitude civilizacional. Pois, já se Alexandre, o Grande, ao conquistar os
persas, Júlio César ao Dominar os gregos e Napoleão ao tomar o Egito fossem
iconoclastas radicais, esses grandes homens da história teriam destruído toda a
riqueza e diversidade de artes que tais povos antigos demonstravam em concepção
pelas suas obras monumentais. A arte, embora tenha grande apelo pelo aspecto
cultural, não é só cultura, ela deriva de criação humana de forma geral. O
respeito daquilo que é diferente é essencial.
Então,
neste sentido, nos dias atuais, tubarão no formol, homem pelado no museu,
exposição “queer” e derivados, embora não satisfaçam e nem agradem a uma casta
social, e que seja até mesmo em alguns casos algo de puro mau gosto, mesmo
assim tais encenações, exposições e apresentações são sim ramos da arte. E por causa
dos choques de visão de mundo (por isso que algumas pessoas dizem que a arte é
feita para “chocar”), o fiscalismo conservador está virando inimigo da
liberdade; e a arte sem liberdade é algo sem valor. O único problema de alguns
criadores de arte dos dias atuais, e neste ponto os conservadores têm razão, é
que a arte não pode acobertar crime. Caso contrário, matar alguém no teatro tornar-se-ia
até aceitável, o que não pode acontecer. A arte tem que ter freio sim, embora
não necessite de grilhão.
Portanto,
esse foi um apanhado superficial sobre o que é arte e a sua definição. Porque a
arte é toda e qualquer criação feita pelo homem.
Piss Christ (Mije no Cristo), de Andres Serrano (1987)
Fotografia de um crucifixo submerso na própria urina do Andres Serrano.
Obs: Não concordo com esse tipo de exposição provocativa e entendo que o autor deva tomar processo judicial por tal atitude. Mas aconteceu o agravo, entrou na história esse escândalo, e isso mostra que não é de hoje que fazem arte como provocação aos Cristãos (porque os cristãos são reacionários, porém de certo modo "pacíficos").
O trabalho Arte: Toda e Qualquer Criação Feita pelo Homem de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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