Pular para o conteúdo principal

O Que Acabou com a Operação Lava-Jato? O Tempo

Por: Júlio César Anjos

O que/quem está acabando com a operação lava-jato? O tempo.

Para entender o enfraquecimento da lava-jato, basta recorrer à fabula de Esopo: o Menino e o lobo, sobre o problema de fazer alarme falso à revelia, brincar com o tempo sob falso positivo de um procedimento que nunca acontece. Quando se realiza tal situação outrora profetizada, já pelo desgaste, ninguém acredita e a tragédia se transveste. Segue a fábula:

O Menino Pastor e o Lobo:

Diz-se que em um tempo remoto, havia um menino serelepe que se dedicava a pastorear ovelhas. O zelo pela segurança aos animais era maçante, chato mesmo, pois nada excitante acontecia naquele lugar bucólico. Só o que carregava consigo era um apito para avisar sobre a presença de lobo na região. Neste sentido, como mente vazia é oficina do diabo, o menino resolveu fazer traquinagem e inventar que estava em apuros, diante a presença de um lobo, ao começar a apitar:
-  Socorro! - Piii! -, Socorro! - Piii! -, Socorro! - Piii!
A comunidade, assustada, foi ao encontro do menino, em direção para socorrê-lo, ao passo que tal aviso não passava de brincadeira, traquinagem de criança arteira. O menino não parava de rir, pois tinha aplicado uma pegadinha na comunidade inteira.
E assim aconteceram outras vezes, com falsos alarmes, e o menino dá-lhe a ironizar e fazer chacota da situação.
Mas, em um dia adverso, realmente um lobo apareceu, e o menino começou a fazer sinal para avisar a vizinhança:
-  Socorro! - Piii! -, Socorro! - Piii! -, Socorro! - Piii!
A comunidade, toda ela já resignada com a situação, achara que era mais uma pegadinha do menino, e não correu para socorrê-lo neste momento, em que o lobo não só acabou com todas as ovelhas, mas também matou o menino para que parasse de apitar.

Moral da história: Diante de tanto alarme falso, quando acontece mesmo o alarmante, ninguém liga porque o tempo encarregou de desgastar tal sinal de ameaça. Resignação.

Retomo:
Quantas vezes o leitor não ouviu a seguinte expressão: “Estão querendo acabar com a operação lava-jato!”? Pois então, agora que parece ser verdadeira esta situação, o povo, cansado de ver alarme falso a todo instante, resignado neste momento, fica inerte em fazer algum movimento para defender essa bandeira contra a corrução. O alarme falso usado de forma exagerada fez a expressão ficar esvaziada na essência, pois uma hora iria acontecer isso mesmo, de a alava-jato acabar, então esse prenúncio já anestesia a todos diante o apelo popular. É a mesma maldição do menino pastor do Esopo: o tempo vai passando e o fato não acontece; quando o fato se materializa, já é tarde, ninguém acredita por causa do alarme falso que precede.

A operação lava-jato, também, entrou no processo de entropia, que é um termo em termodinâmica que indica um declínio constante até a desordem, ou seja, o tempo e as ações esvaíram-se diante o desfecho (ou a falta) desta investigação em curso, perdendo-se pela circunstancia deste trabalho ser ineficiente, moroso e caro. Além, é claro, de a operação querer “pegar todo mundo”, ao invés de atacar em blocos [primeiro PT, depois, PMDB e por aí vai] para ter um melhor rendimento judicial. Porque as coisas devem ter início, meio e fim. Quando tal situação iniciada longinquamente (lembrando que a operação é de 2013) não se materializa em conclusão satisfatória, seja por causa do tamanho exagerado que se materializou este trabalho (“pegar todo mundo”) ou pela dificuldade em criar provas materiais contra acusados, a força motora de início deste processo, certamente, não será nem de longe da mesma proporção da sua gênese, portanto, o tempo se encarrega de enfraquecer esta força-tarefa ao natural – além da entropia em criar desordem pela falta de uma diretriz.

O maior problema da lava-jato neste momento é a falta de desfecho.  Tanto é que o mantra de alguns bastiões da moralidade é a tal sentença: “Lula será preso amanhã”, em que tal expressão é jurídica, política, ideológica e profética, tudo ao mesmo tempo. E um termo impossível por si só, pois a justiça olha só para o passado (fatos), a política tem olhos voltados mais para o presente (arte do possível) e o amanhã só a Deus pertence, por isso que, por mais que o Lula seja preso, tal argumento não passa de uma profecia com viés ideológico, tal frase não passa de embuste, embromação. Sem falar que o tal do “Lula será preso amanhã” é um instrumento para fazer da justiça algo substitutivo à política em geral. Surreal isso. E desalentador ao mesmo tempo.

A operação lava-jato teria maior eficácia se não tivesse entrado em entropia, ao tentar abraçar tudo.  Além disso, os histerismos do tal “estão querendo acabar com a lava-jato”, gerou a normatividade, a resignação, de que a lava-jato acabaria mesmo, findaria de fato. Até porque o tempo está se encarregando de terminar com a operação, pois já são mais de quatro anos em execução, sem um desfecho final (por enquanto). A longevidade (duração, tempo do trabalho), o desgaste (por entropia), e a falta de conclusão (norte a seguir) acabaram, de fato, com a operação lava-jato. Por fim, diante a tudo isso, a operação lava-jato não está em perigo, ela está em processo de conclusão. Tudo tem um fim. O tempo a sepultou. Acabou.

Obs: Futuro (breve) da Lava-jato: Sentença de Lula, Delação de Cunha e... Acabou.


Sobre o Tempo - Pato Fu: "Tempo amigo / seja legal / conto contigo / pela madrugada / só me derrube no final" 





Licença Creative Commons
O que acabou com a operação lava-jato? O tempo de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.

Comentários