Por: Júlio César Anjos
Com
a nova supersérie da Rede Globo que remonta os acontecimentos na época da
ditadura de regime militar, o que consta é uma dúvida na discussão politica: “Os
dias eram assim” ou “os dias não eram assim”? Algumas situações da história nem
o revisionismo são capazes de mudar. Mas o mais interessante neste entrevero
todo é que as digressões do debate estão a desnudar as ferramentas que a
extrema-direita está utilizando, no “info wars” (guerra de informação), como o
uso da engenharia reversa, para
criar uma “falsa memória”, com o
intuito de estabelecer a pós-verdade
sobre os acontecimentos na ditadura militar. Porque, na era da comunicação de
massa, os dias são/estão assim.
Primeiro,
a engenharia reversa. A engenharia reversa é o ato de desmontar um mecanismo e remontá-lo
sem o uso de instruções de montagem. Tal técnica serve para ver o funcionamento
do objeto de maneira intuitiva. Então, faz-se a sua desconstrução para depois
reconstruí-lo. Lembrando que um mecanismo só funciona com sinergia (o todo é
maior que a soma das partes), pois, se uma peça falhar, todo o sistema falha. Na
política não é diferente, pois, quando se desmonta o fato histórico a fim de remontá-lo
sem seguir os acontecimentos, que são as instruções de montagem da história, os
adeptos a tais artifícios utilizam a regra metonímica, e tentando convencer o
povo de que a parte é o todo, pinça as peças da época da ditadura para dizer,
por exemplo, que a ditadura não existiu, abandonando a sinergia da práxis da época,
pois uma peça ou outra pode remontar o fato. Diante disso, os extremistas dizem
que não houve censura naquela época, portando não houve ditadura. A mesma coisa
acontece com a tortura, com a repressão, com a supressão de direitos e
liberdades do individuo. Esquecem-se, ou fingem esquecer, “do todo”, ou seja, a
junção das peças censura e tortura, repressão, supressão e etc., na mesma época,
em que se faz, infelizmente, pela sinergia do funcionamento da tirania da
ditadura.
A
engenharia reversa, gerada pela extrema-direita, cria o que o ramo da
psicologia chama de: “procedimento de sugestão de falsa informação”. Esse é um
instrumento da “falsa memória”. Pois, quanto mais se incute na cabeça das
pessoas que a “ditadura não existiu”, ou que “os dias não eram assim”, mais as
pessoas começam a ser sugestionadas a acreditar realmente que não houve
ditadura ou que a ditadura foi tão branda que se parecia com democracia. Ou
além: que era até melhor que a democracia e por isso é urgente invocá-la,
novamente, aos dias atuais. Por isso que, em pleno século XXI, há brasileiros
que querem o que chamam de “regime militar”, pois querem a reminiscência do
passado de algo que nunca existiu, na alegoria de devaneio de um país culto,
respeitoso, com ordem e progresso, mas sem repressão, nem censura e tortura,
muito menos ditadura militar. E o subterfugio utilizado para gerar essa falsa
memória é condensado em fotografias da época, mas somente aquelas consideradas
boas, como fotinhos na praia, por exemplo, que gera a sensação de liberdade, de
contato com natureza, longe da repressão e do malgrado vivido naquela tenra época
da era da bota.
Agora
vem a surpresa: Sabe quem faz exatamente essa técnica de falsa memória com a equiparação
de praia e felicidade em propaganda de liberdade e bem-estar? A Coreia do
Norte, que tem praia e utiliza deste mesmo método furtivo da realidade. Agora,
se o individuo se baseia na foto de Copacabana nos anos 70 para referendar sua
falsa memória, e satisfazer a ideologia cafona, esse ser tem que aceitar também
que a Coreia do Norte é livre pelos mesmos motivos: Fazer associação entre
praia e liberdade. Segue ilustração:
Após colocar em dúvida o passado, pelo
procedimento de sugestão de falsa informação, ao criar falsa memória, eis que o
individuo já está preparado para ser adepto à pós-verdade, em que a emoção
sobrepuja a razão, no sentido de que, como diria Nietzsche: “não há fatos,
apenas versões”. Por isso que no Brasil,
como também iluminou Roberto Campos: “A burrice no Brasil tem um passado
glorioso e um futuro promissor”. A burrice de querer de volta de intervenção
militar, volta dos militares no poder, pela projeção de um Bolsonaro presidente. É o fim da racionalidade mesmo.
Diante
disso, nesta era de comunicação de massa e de guerra de informação, é obvio que
o passado será contado ao sabor da paixão. No campo de batalha cibernética, notícias
falsas e verdadeiras se misturam, gerando oportunidade àqueles players que não
teriam chance no campo ético da luta ideológica, mas, ao bagunçar o jogo, pela
lógica de Tolstói, é o caos da batalha, em vez dos seus lideres, que define o
resultado do conflito, tais extremistas conseguem, por emporcalhar o jogo, obter uma chance de vitória no campo político. Então, neste sentido, hipocrisia e demagogia são armas
para ascensão política. É por isso que a extrema-direita está fazendo o
brasileiro de cobaia, pela experiência empírica da sugestão: “A ditadura
Militar não existiu”.
Portanto,
a engenharia reversa está fazendo desconstrução da era da ditadura militar, ao
gerar um revisionismo histórico, pela utilização de procedimento de sugestão de
falsa informação, ao incutir falsa memória, para conseguir, pela pós-verdade,
adeptos pela causa extremista. Diante disso, a pessoa começa a achar que a
ditadura não só nunca existiu de fato, como também foi considerada boa no
passado e que seria interessante a volta deste regime, pois é melhor que a
democracia hoje em dia. Com fotinhos que tapeiam a razão, ao utilizar a
comunicação de massa, pela estratégia de guerra de informação, a
extrema-direita, por incrível que pareça, começa encampar a sua narrativa e
ilustração. Os dias são/estão assim. Preocupante.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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