Por: Júlio César Anjos
Com
o movimento integralista em voga no imaginário e na “vontade popular” inoculada
por fatores diversos, o fato é que o isolacionismo virou tara de grupos que
acreditam que uma cerca seja diretamente proporcional à prosperidade, como se o
galinheiro fizesse o carijó rico, diante o embuste do nacionalismo exacerbado
que fede a “nacional-socialismo”. O adepto a tal iluminismo quer, deste modo, a
doutrina de Monroe dos dias atuais.
Com
a observação histórica de que os EUA fez guerra de independência para se livrar
do império britânico, Bolívar fazendo guerras para salvar a América do Sul e o
Brasil tornando-se independente, Monroe viu tudo isso e criou a celebre frase:
“A América para os americanos”. É o esplendor da revolução que criou essas
vastas nações que hoje estão a fechar as fronteiras, seja por negar lei de
migração, seja por impedir entrada de “intruso” alheio aos interesses da
região.
Mas
a ironia é que por anos o brasileiro com complexo de vira lata “entendeu” de
forma equivocada a doutrina de Monroe como sendo uma expressão que impusesse o
império estadunidense acima das autonomias de outras nações. O fato é que essa
frase significa tão somente que a América, como continente, pertence aos países
membros destes blocos, é apenas uma indireta contra as outras nações além-mar,
principalmente as do continente europeu, que na época eram potências maiores
que até mesmo os EUA, e faziam o dito cujo “colonialismo”. Hoje, compreendendo
tal assertiva, o ultranacionalista clama para essa regra de cercania, pois
Monroe hoje é legal, não imperialista do mal.
Como
em pleno século XXI muita gente é contra a lei dos migrantes, pois o forasteiro
poderá acabar com a “soberania nacional”, em que aflora o ato patriótico ao
cidadão brasileiro, é crível, pela mesma linha de raciocínio, alegar que os
povos americanos são chauvinistas e xenófobos ao ponto de fazerem um despertar
de defesa das águas do Atlântico, ao irem contra os países que estão alheios
aos interesses dos americanos em geral.
Diante
disso, àqueles que são inclinados à defesa do modo de vida americano ocidental,
convergem, também, com a ideia de que, por exemplo, as Malvinas pertençam à
Argentina; e que também se oponham ao fato de que a França seja dona das terras
da Guiana francesa. Para extremistas, tais locais não passam de pontos
estratégicos da geopolítica, e, com pensamento de tabuleiro de jogo de “War”,
acham que tais áreas são, pelo delírio, regiões em que forças invasoras
estrangeiras se alojaram para capitular a América como um todo.
Essa
exacerbação por estado-nação, ao defender bandeira, aos “interesses patrióticos”,
fez com que o escritor Thomas Mann, no Livro “A Montanha Mágica”, tivesse o
insight de idealizar o livro com a lógica superficial de que o sanatório acima
da montanha, portanto, alheio aos acontecimentos da primeira guerra mundial,
difundisse para o protagonista da trama a capacidade de aprender música, arte, política
e amor humano, mostrando que o hospício continha maior sanidade mental do que
lá fora, “longe das cercas embandeiradas que separam quintais”, ditas como
nações que defendiam as soberanias nacionais, ao mostrar que o extremismo
realmente é algo que está acima da doença mental.
Enfim,
assim caminha a humanidade, em alguns locais do mundo, que primeiro proíbem a
livre circulação inter-vivos; depois, fecham-se ainda mais diante a ideia de
que isolamento é bom; para, no fim, criarem o atraso desta região não
acompanhar o desenvolvimento mundial. Tudo isso pela falsa ideia de que cerca
de fazenda seja algo bom para o gado em geral. Por isso que um simples documento
legal acessório chamado lei de migração, por exemplo, no imaginário do
extremista, é sinônimo de: “árabe muçulmano terrorista da sharia”. E o devaneio
começa a espraiar de forma insana, com a escolha de querer abertura comercial,
mas sem abrir “as fronteiras” para os estrangeiros, ao fazer escolha sem
renúncia, pelo fruto de dissonância cognitiva. O patriótico brasileiro quer os
prós, mas não quer os contras, divorciados da realidade, negando a verdade que
só se faz riqueza com trocas no âmbito de interligação global.
Portanto,
a Doutrina de Monroe dos dias atuais se dá pelo isolacionismo. Quanto mais
afastado, ausente, depressivo, longe de tudo, mais alguns iluminados acham que,
por fugirem da realidade, os problemas podem não ocorrer, pela resolução pueril
de uma pessoa, por exemplo, ao fechar os olhos e dormir possa ceifar os
problemas do cotidiano. E é fato sem contestação: País fechado não é sinônimo
de prosperidade, crescimento econômico e social, e evolução. Ao contrário, o
fechamento cria atraso econômico e social, justamente por não fazer as livres
trocas voluntárias, pois o engessamento cultural não permite a mistura de
melhoria universal.
A Doutrina de Monroe dos Dias Atuais de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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